Transporte urbano

Crise nos aplicativos 'ressuscita' táxis em BH

Leíse Costa
leise.costa@hojeemdia.com.br
29/03/2022 às 06:30.
Atualizado em 29/03/2022 às 07:48
 (Sarah Torres/Arquivo ALMG)

(Sarah Torres/Arquivo ALMG)

Após amargarem baixa demanda durante os anos de ascensão dos aplicativos de mobilidade, os taxistas de Belo Horizonte vivem na atualidade um momento considerado uma “retomada da praça”, com aumento na demanda de até 40% nos últimos seis meses. As razões apontadas pelos taxistas para a volta da clientela são muitas e vão desde a onda de abandono dos aplicativos por parte de motoristas insatisfeitos com a baixa lucratividade do serviço até o preço atual das corridas de táxi, congelado há seis anos.

Um caso emblemático é o que está ocorrendo com a cooperativa de táxi Coopertaxi, de Belo Horizonte. Com mais de mil carros cadastrados, a cooperativa registrou, nos dois anos da pandemia de coronavírus, 2.000 chamados diários por táxi, em média. No mês passado, o grupo bateu 8.000 pedidos por dia. Um boom de 300%. “O pessoal do aplicativo não consegue absorver porque estão sozinhos e passaram a selecionar muito os atendimentos por causa da alta nas despesas. Com isso, as pessoas voltaram a dar preferência ao táxi”, avalia Leonardo Souza, presidente da cooperativa. Ele se refere aos frequentes cancelamentos de pedidos realizados por motoristas de aplicativo, sobretudo em viagens mais curtas.

Chamados corporativos

No ambiente corporativo, os números também apontam pelo aumento da demanda. De acordo com Jordana Souza, co-fundadora da Voll, plataforma especializada em mobilidade e viagens corporativas que atua em Belo Horizonte demais capitais, o número de pedidos por corridas de táxis cresceu 40% em relação ao ano passado. “A disponibilidade dos táxis é consistente, quanto registramos um alto índice de cancelamento dos carros privados”, diz. Segundo Jordana, as tarifas dos aplicativos também perderam competitividade. “Inclusive, dependendo do horário, com a tarifa dinâmica, o valor fica igual ou até mais alto que o táxi”, afirma.

Trajetos curtos

Mas a recuperação da praça não pode ser atribuída apenas à crise nos aplicativos. Representantes do setor apontam que os valores das tarifas são os mesmos desde 2016: bandeirada inicial a R$4,70, bandeira 1 a R$2,94 por km e bandeira 2 por R$3,53 por km. Isso tem garantido um preço competitivo às viagens por táxi.

O grupo não é o único a perceber nos números o ressurgimento forte do segmento. De acordo com João Paulo de Castro, diretor-presidente do Sincavir-MG, que representa 20 mil taxistas em BH e região metropolitana, nos últimos seis meses a demanda cresceu 40% em relação ao ano anterior. “Taxistas têm se esforçado ao máximo para não repassar o aumento dos combustíveis porque esse é um momento de reencontro com a população e afirmamos que não vai haver reajuste no setor, pelos menos, nos próximos meses”, diz João Paulo. 

Taxista há 9 anos na região Centro-sul, Ronaldo Duarte atesta o aumento da procura. “Essas corridinhas mais próximas, todo mundo tem usado táxi. Os motoristas de aplicativos estão selecionando corridas porque senão fica inviável para eles trabalharem com esse preço do combustível”, afirma.

 Peso dos combustíveis

Mesmo com o diagnóstico positivo do momento para o segmento de táxis, as despesas com combustíveis também dispararam. O Sincavir-MG estima que os gastos dos taxistas com combustíveis, antes da pandemia, giravam em torno de 25%. Atualmente, o gasto médio é estimado em 40% do faturamento, com média de R$150 para abastecer por dia.

Ainda assim, o faturamento dos taxistas tem mantido um patamar sólido, isso porque, da frota de 14 mil táxis cadastrados no Sincavir-MG, 40% dos veículos abastecem com GNV (Gás Natural Veicular) e 60% são bicombustíveis (álcool e gasolina).

Segundo o levantamento de preços da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), enquanto o preço médio do metro cúbico de GNV é R$4,948 em Belo Horizonte, o litro da gasolina é R$7,489.

“Claro que está muito complicado a questão da alta dos combustíveis. O problema é que o ganho é bom, mas metade fica na bomba. Se o ganho no mês é de R$5 mil a 6 mil, 45% são das despesas; a diferença é que a gente absorveu, não repassou”, relata Nilton Dourado, taxista há 28 anos na capital mineira.

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