Custo de vida

Disparada de preços leva consumidor a mudar hábitos

Leíse Costa
leise.costa@hojeemdia.com.br
Publicado em 25/03/2022 às 06:30.
Com as altas dos combustíveis, a assistente social Vanete Sacramento decidiu vender o carro e usar aplicativos (Maurício Vieira)

Com as altas dos combustíveis, a assistente social Vanete Sacramento decidiu vender o carro e usar aplicativos (Maurício Vieira)

Aumento nos combustíveis, gás de cozinha, pó de café, leite e até no pãozinho de sal. Nada escapa da escalada inflacionária – que só no último ano fechou em dois dígitos (10,06%) – corroendo o poder de compra dos brasileiros. Com base no Ipead/UFMG (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais), que monitora o custo de vida em Belo Horizonte, é possível checar que até a segunda metade de março houve alta de 10% para alimentos in natura, 3,52% para bebidas em bares e restaurantes, 2,30% para alimentos elaboração primária e 1,81% para encargos e manutenção. Com isso, a inflação acumulada no primeiro bimestre de 2022 elevou para 2,22% e para 10,68% nos últimos 12 meses.

Sem ter para onde escapar, o economista-chefe da Fecomércio-MG, Guilherme Almeida, avalia que o consumidor tem mudado seus hábitos de consumo, inclusive com troca de marcas, dentre outras estratégias para economizar. “O efeito da inflação provoca uma substituição por parte do consumo familiar tanto na escolha dos bens e serviços quanto nas marcas. O aumento do nível de preços causa o achatamento da renda do consumidor que, naturalmente, vai priorizar o consumo de bens de primeira necessidade”, diz. Nessa categoria se enquadram alimentos, medicamentos e serviços essenciais como conta de luz, água e aluguel.

A economista Mafalda Valente ressalta que, independente da classe social, todas as famílias se movimentam para aliviar o orçamento. “A inflação afeta a todos, cada um de uma maneira. A última coisa que as pessoas deixam de comprar é comida, mas roupas vão sendo adiadas, o meio de transporte é trocado. Mas a classe média, desde o início da pandemia, também começou a fazer escolhas, tirando os filhos de escolas particulares, curso de inglês, natação, reforço, personal, academia e até o plano de saúde foi cancelado”, afirma.

Mãe de três filhos e avó de dois netos, a assistente social Vanete Sacramento vendeu o carro no último ano e passou a priorizar aplicativos de mobilidade, transporte público e caronas. “Optei por ficar um tempo sem carro por causa do custo alto da gasolina e impostos”, diz. O cardápio também tem variado muito de acordo com as promoções. “Hoje mesmo vi que a alface, a cebolinha e o inhame estavam com preço bom e dei prioridade para esses itens”, conta.

Pai e filho, os engenheiros José e Bruno Abdon também têm mudado hábitos. “Com essa escalada da inflação, o importante é reduzir despesas. Se a gente vai sair de carro, aproveita para resolver tudo que precisa na rua para evitar saídas desnecessárias”, conta José. A viagem da família ao litoral de São Paulo (SP), prevista para esse mês, foi adiada por mais dois meses. “A gente também evita sair para jantar; deixa para tomar a cerveja em casa. Alguns gastos que a gente têm tentado reduzir”, ressalta Bruno.

Dona de uma papelaria há 38 anos no bairro Gutierrez, região Oeste da capital, Consuelo Mansur relata que as vendas no local caíram 30% em comparação com o período pré-pandemia, especialmente, puxada pela queda nas vendas de marcas consagradas. “Um lápis de R$ 30 de uma marca boa é trocado por uma similar que custa R$ 16. Clientes que nunca pensaram em usar livros usados agora estão usando. Essa mudança de hábitos de pegar produtos mais baratos e até diminuir a quantidade de compras é notável”, diz.

Impacto no comércio

Em meio às altas, o comércio também precisa lidar com um consumidor descapitalizado e empenhado em economizar. De acordo com o economista-chefe da Fecomércio-MG, Guilherme Almeida, o efeito de substituição que as famílias adotam acaba ocasionando um impacto negativo em toda a cadeia produtiva e nas empresas. 

A exemplo disso, o Icec (Índice de Confiança do Empresário do Comércio) de Belo Horizonte, medido pela Fecomércio-MG, apresentou recuo de 1,8 ponto porcentual em março, saindo de 122,5 pontos registrados em janeiro e fevereiro para 120,7 pontos. 

“O comércio acaba tendo que se adaptar a esse novo hábito, ainda que ele seja temporário. Um desses investimentos são promoções e ações para atrair clientes, como investir em marcas próprias, mais baratas e produtos artesanais, são algumas das saídas que as empresas vêm encontrando para manter o nível de consumo e receita de seus estabelecimentos”, diz..

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