MERCADO DE TRABALHO

Empresas buscam cada vez mais lideranças femininas, mas conciliar papéis segue como desafio

Hermano Chiodi
hcfreitas@hojeemdia.com.br
Publicado em 08/03/2023 às 07:53.Atualizado em 08/03/2023 às 08:00.
Pesquisa mostra que entre 2019 e 2022 a presença das mulheres em postos de chefia nas organizações passou de 25% para 38% (Freepik)
Pesquisa mostra que entre 2019 e 2022 a presença das mulheres em postos de chefia nas organizações passou de 25% para 38% (Freepik)

Quem escolhe o lugar da mulher no mercado de trabalho é a própria mulher. Uma decisão nada simples: envolve escolhas difíceis sobre família e carreira, impactando o número de representantes do sexo feminino em posições de liderança. Boa notícia é que este cenário está mudando. Pesquisa da consultoria Grant Thornton mostra que entre 2019 e 2022 a presença delas em postos de chefia nas organizações passou de 25% para 38% – e a tendência é continuar crescendo.

Segundo David Braga, presidente da Prime Talent, consultoria de gestão e seleção de pessoas, a quantidade de mulheres tem crescido em todos os espaços do mercado de trabalho, inclusive os de liderança, e a tendência é que cada vez as empresas olhem menos as questões de gênero e mais a capacidade das pessoas de entregar resultados. Mas todo caminho, avisa, requer adaptações. 

“A maternidade ainda custa para as mulheres no mercado de trabalho. Ser mãe não impede a mulher de trilhar o caminho dos cargos de direção, mas é preciso estar ciente que serão necessárias adaptações na rotina e uma rede de apoio que ajude nessa caminhada”, destaca.

Obstáculos conhecidos há muito tempo por Cristiane Sebastião, que lidera uma equipe de manutenção em barragens da mineradora Vale. “Meu primeiro desafio profissional foi conciliar os estudos e, na sequência, a jornada de trabalho com a maternidade. Naquela época, tive várias portas fechadas por isso. Hoje vejo que as empresas estão reconhecendo a contribuição das mulheres”, diz. 

As jornadas múltiplas e os apertos não poupam nem quem tem o próprio negócio. Levantamento do Sebrae Minas mostra que sete em cada dez mulheres que gerenciam a própria empresa também são responsáveis pelos afazeres domésticos. Para mudar esse quadro, é preciso qualificação das mulheres e mudanças – algumas, começando dentro de casa.
 
“Quem disse que a mulher é a única responsável por cuidar dos filhos doentes ou acompanhar reuniões em escolas? Elas não têm que dar conta de tudo”, diz David.

Talento 
Metas e projetos especiais, como as chamadas “vagas afirmativas” – que buscam aumentar a presença feminina nas empresas – têm sido implementados em grandes corporações para atrair competências diferenciadas das mulheres para cargos de liderança. 

A gigante do comércio eletrônico mundial Amazon, por exemplo, mantém um programa exclusivo para o treinamento de mulheres que pretendem trilhar carreiras de liderança. “Elas compartilham histórias, motivam e criam um ciclo positivo. Em pesquisas internas, constatamos um aumento considerável em relação à confiança das participantes”, afirma Gabriela Delai, líder do projeto no Brasil.

A intenção de atrair talentos femininos motiva algumas empresas a criar vagas exclusivas. Como a telefônica Vivo, que em março vai abrir 320 vagas exclusivas para o público feminino. Mesma iniciativa que está sendo desenvolvida no Sine-BH, que firmou uma parceria com empresas de Belo Horizonte para o anúncio de quase 200 vagas para mulheres. Um tipo de ação excepcional, mas que se justifica para ampliar a presença delas no mercado de trabalho, afirma Giane Alves, diretora interina de qualificação e intermediação de mão de obra na Prefeitura de BH. Tanto as vagas do Sine quanto as da Vivo podem ser consultadas nas páginas das instituições. 

“Nosso esforço cotidiano é para que as empresas não façam distinção na hora de anunciar as vagas. Mas nesta data incentivamos as empresas para destacar a importância de ampliar a empregabilidade feminina”, afirma Giane.

Muito longe do ideal
Apesar dos avanços, os números mostram que a realidade das mulheres no mercado de trabalho brasileiro ainda está longe do ideal. O desemprego entre elas é de 11%, quase o dobro do índice encontrado entre homens, que é 6%. A análise é do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a partir de dados do terceiro trimestre de 2022 do IBGE.

A diferença também é percebida na renda. O salário médio real das mulheres ocupadas é 21% menor que o dos homens. Mesmo nos setores em que elas são a maioria, como “saúde, educação e assistência social” e “serviços domésticos”, o valor do contracheque é mais baixo. 

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