Marcelo de Souza e Silva

‘Esse modelo de contrato do transporte em BH está em decadência’, diz presidente da CDL-BH

Izamara Arcanjo
Especial para o Hoje em Dia
16/05/2022 às 06:30.
Atualizado em 16/05/2022 às 07:45
 (Leonardo Cunha/ Divulgação CDL/BH )

(Leonardo Cunha/ Divulgação CDL/BH )

O setor do comércio e de serviços é responsável por 72% do PIB (produto interno bruto, soma de todas as riquezas produzidas) de Belo Horizonte e foi fortemente impactado pela crise provocada pela pandemia do coronavírus. Durante todo este período, quem esteve à frente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) da capital mineira foi Marcelo de Souza e Silva - ele preside a entidade desde janeiro de 2019, mas acumula um relacionamento de mais de 30 anos com a CDL. Ele conversou com o Hoje em Dia e garantiu que seu compromisso é trabalhar de forma incansável em defesa dos quase 14 mil associados e de intensificar as ações para ajudar no desenvolvimento econômico e social da cidade, fazendo de Belo Horizonte um lugar para se empreender e viver.

O setor de comércio e serviços já começou a dar sinais de retomada. Você avalia que essa retomada é suficiente para superar os impactos causados pela pandemia?
Somos responsáveis por mais de 80% dos empregos em Belo Horizonte, então é um setor muito relevante, fundamental para a vida da cidade. Antes mesmo da pandemia, depois da crise de 2018, a recuperação estava vindo lentamente, e as empresas conseguindo superar as dificuldades ‘degrau em degrau’, mas veio a pandemia e o impacto dela veio muito forte; pegou as empresas de surpresa, que estavam vindo neste crescimento. Elas tiveram que se reinventar, os comerciantes tiveram que entender mais do seu negócio, tiveram que fazer negociações repentinas que nunca esperavam como renegociar aluguel, renegociar com bancos, com fornecedores, passar a integrar o mundo digital. Tudo isso não é fácil porque são em sua maioria micro e pequenas empresas, o que é uma característica não apenas de Belo Horizonte, mas de Minas e até do Brasil. Estas pessoas estavam acostumadas a cuidar do dia a dia do comércio, de abrir suas lojas, de cuidar dos funcionários, da sua casa, de tudo que acontece no cotidiano da empresa. Então, de uma hora para outra, o empresário precisou de uma dedicação ainda maior para sobreviver e, o mais importante, garantir os empregos gerados por seu estabelecimento.

Qual foi o suporte dado pela CDL ao empresário para que ele pudesse atravessar este momento?
Em um primeiro momento, nós fizemos um esclarecimento sobre as legislações que entravam em vigor a todo momento ao longo da pandemia. Por exemplo: sobre o que poderia ficar aberto ou não, de que forma o empresário poderia atender o consumidor, enfim, trabalhamos para mostrar para todos que havia uma entidade que estava de mãos dadas com o empreendedor, para que ele pudesse passar por aquele momento tão sofrido. É preciso lembrar que Belo Horizonte foi a cidade que ficou com o setor de comércio e serviços mais tempo fechado. Nós fizemos mais de 2 mil atendimentos à associados e não-associados. Tratamos de temas como a negociação de aluguel, gestão do negócio com mais eficiência, a questão dos empréstimos e crédito e a venda digital. Como uma pessoa de uma hora para a outra vai fazer uma venda digital?  Não foi fácil levar o comerciante a entender que ele tinha que ter o produto certo, que havia meios de pagamento, e que a venda de internet tem uma legislação diferente da feita na loja física. Este programa de atendimento aos empreendedores se chamou ‘É para Já’, então conseguirmos atender e ajudar muitos empreendedores em Belo Horizonte.

O Brasil tem vivido um momento crítico com relação à inflação. Como você percebe que a alta nos preços tem prejudicado o setor de maneira geral?
Impacta muito, pois a gente vem de uma economia muito globalizada. O comerciante precisa subir os preços e é muito ruim. E ainda, no Brasil, a inflação não vem sozinha; ela vem com os juros altos também. Lojistas, principalmente os pequenos, têm se reinventado mais uma vez. Eles têm procurado aqui dentro do Brasil mesmo, dentro do Estado, preços mais acessíveis, controlando melhor seus estoques para se adequar a esta realidade. Claro que alguns fatores fogem ao controle, como o preço absurdo dos combustíveis, que impactam no funcionamento não só do comércio, mas da indústria, de todo o setor produtivo. Estávamos saindo dessa situação, mas veio a Guerra Rússia-Ucrânia, pois a Rússia é um pais que impacta certamente o mundo todo, assim como a China, que tem enfrentado alguma dificuldade para o fornecimento de produtos, o que tem ajudo a ampliar os efeitos da inflação. Neste sentido, eu penso que o Brasil precisa fazer uma política combate à inflação juntamente com uma política de controle dos juros para não aumentar a inadimplência das famílias, para não impactar o nível de consumo. Isso tudo é uma roda que tem que funcionar perfeitamente para garantir desenvolvimento econômico e geração de emprego.

A cidade de Belo Horizonte tem polos específicos de comércio em algumas regiões da cidade: no Barro Preto, há um polo de moda, nas avenidas Pedro 2º e Cristiano Machado, polo de concessionárias e autopeças; na avenida Silviano Brandão, um polo moveleiro, como a CDL ajuda a cuidar destas vocações específicas?
Nós sempre participamos ativamente da vida da nossa cidade. Nos participamos do Conselho Municipal de Políticas Urbanas (Compur), nós temos um assento neste conselho, hoje estamos representados pela nossa federação. Nós acreditamos e queremos sempre mostrar ao poder público que as políticas públicas de desenvolvimento são importantes para o comerciante, que gera riqueza, paga imposto, gera o emprego e também para a população. Acreditamos que, para estes corredores, o poder público precisa ter um olhar diferenciado. Quando a prefeitura acaba com o estacionamento em frente às lojas na Pedro 2º e deu espaço para os ônibus em um modelo diferente do que foi pensado, no centro da avenida, acabou matando muito comércio ali, pois o consumidor não tem como ter acesso de uma maneira fácil aquele lugar. Podíamos ter pensado uma política pública que disponibilizasse bolsões de estacionamento, mas isso não foi feito. Belo Horizonte já foi o terceiro polo de moda, mas isso já foi mais pujante. Hoje temos um setor que carece de uma revitalização. No geral, precisamos aliar políticas públicas às vocações da cidade, precisamos trabalhar estes espaços. Temos acompanhado a descentralização do comércio, que tem ido para os bairros e precisamos pensar isso juntos, tendo a prefeitura como protagonista, mas com o apoio da sociedade civil organizada e dos moradores também.

Como a questão da precariedade do transporte público de Belo Horizonte tem impactado negativamente o setor de comércio e serviços?
Mais uma vez, acho que faltou sensibilidade do gestor público municipal, o então prefeito Alexandre Kalil, de chamar a sociedade civil organizada, a Câmara Municipal, os agentes que têm uma interação com cidade para que a gente buscasse uma interação. É sabido que há muitos anos que este modelo de contrato que existe entre a prefeitura e as empresas de ônibus ela está em decadência, ele não se sustenta. Agora a gente sabe que o atual prefeito, Fuad Noman, está acompanhando esta questão com a Câmara Municipal, mas ainda acho que precisamos envolver a sociedade. Eu gostaria de lembrar que as passagens que movem o transporte público são pagas por nós, os empresários, e de maneira antecipada porque no final do mês temos que encher o cartão de passagem dos funcionários para que eles possam ir trabalhar. Acho que quem pode contribuir tem que contribuir com este debate. Outro assunto que quero destacar é o morador em situação de rua. Belo Horizonte teve um impacto significativo do aumento do morador de rua, porque não estamos tratando este problema de maneira adequada. Neste ambiente deteriorado, você tem pessoas que não estão em situação de vulnerabilidade que estão prejudicando o comércio com furtos e assaltos. Prejudicando não só o comércio, mas as pessoas que residem ou transitam nestas regiões. Isso traz um desgaste muito grande para uma cidade que precisa de um ambiente favorável para empreender.

Qual sua expectativa para o comércio de Belo Horizonte para o final de ano? Os comerciantes vão conseguir superar os prejuízos causados pela pandemia, contexto inflacionário e cenário de aumento de combustíveis?
Eu sou um otimista por natureza. A nossa equipe econômica traz uma previsão que teremos um movimento melhor em 2022 do que em 2019. Nós estamos com uma demanda reprimida e o lojista percebeu que precisa tratar o cliente de maneira diferenciada, precisa fidelizá-lo. Ela já criou vários meios de pagamento, tendo produtos de qualidade, oferecendo vendas nas lojas físicas e digitais. Estamos percebendo uma peculiaridade do cliente em Belo Horizonte, ele faz as tratativas para aquisição dos produtos no digital, mas acaba fechando a venda na loja física. Então, tem sim que ter uma loja bonita, acolhedora, bem montada para recebê-lo ainda mais agora com o avanço da vacina, com a retirada da máscara, claro, sempre mantendo os cuidados. No nosso entendimento, temos um ambiente fértil para que a gente possa fazer boas vendas neste ano, gerando renda, gerando empregos e desenvolvimento.

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