
A disparada do câmbio desde o início da pandemia, com desvalorização de 35% do real frente ao dólar - o que tornou insumos importados mais caros -, atrelada à interrupção das cadeias globais de oferta de matérias-primas e às seguidas elevações dos chamados Índices Gerais de Preços (IGPs) no país começam a impactar duramente a indústria, nacional e mineira.
Um dos reflexos disso, segundo analistas, é a alta nos custos de produção dessas empresas, algo que vem acompanhado de um grave alerta: mesmo com Índices de Preços ao Consumidor (IPCs) ainda relativamente sob controle, a inflação pode sofrer uma escalada ainda maior que a atual e atingir dois dígitos, neste ano.
O alerta é corroborado, em parte, pela Sondagem Industrial, pesquisa feita mensalmemte pela Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg). Em fevereiro,segundo o levantamento, três a cada quatro indústrias do Estado enfrentaram escassez de matérias-primas ou insumos domésticos e importados.
Mais da metade delas alegou ter passado dificuldades para atender à demanda dos clientes e 48% informaram acreditar que a complicada busca por insumos só deve ser normalizada no segundo semestre.
A maior parte das empresas entrevistadas (64%) utiliza em seu processo de produção insumos e matérias-primas importados. E é justamente a dinâmica na composição de preços desses insumos, com os problemas de oferta causados pela pandemia, que fez com que os preços disparassem.
Em fevereiro, três a cada quatro empresas mineiras enfrentaram escassez de matérias-primas domésticas e importadas e mais da metade teve dificuldades para suprir demandas
De acordo com o economista Izak Carlos Silva, da Fiemg, já se cogita que a inflação geral, puxada pelos Índices de Preços ao Produtor e pelo IGP (Índice Geral de Preços), possa alcançar a marca de dois dígitos, neste ano. “Isso (a alta inflacionária) é uma tendência mundial, não é um problema somente do Brasil. E esses preços somente vão baixar com o avanço da vacinação e a retomada da economia, em todo o planeta”, destaca.
Impacto na produção
Em dados mais precisos, a Sondagem Industrial da Fiemg mostrou que, das empresas que necessitam da importação de insumos e matérias-primas no Estado, 69% constataram problemas para serem abastecidas em fevereiro, mesmo pagando mais caro pelos produtos. Outras 24% alegaram muita dificuldade.
Quando o cenário para obtenção das matérias-primas e insumos é o mercado nacional, a situação fica ainda mais crítica: 75% afirmaram que tiveram dificuldades. De acordo com Izak Carlos Silva, a escassez no mercado interno é reflexo das dificuldades externas. E tais entraves devem impactar diretamente na produção industrial mineira.
“Não existe milagre. Se o preço dos insumos aumenta, ou você tem que pagar mais caro para continuar com o mesmo ritmo e nível de produção, ou vai diminuir. Como não é possível repassar esse custo ao consumo, existe uma tendência de desaceleração da produção”, explica.
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