Inovação salvou empresas que dependiam da presença do público durante a pandemia

Leíse Costa
leise.costa@hojeemdia.com.br
12/11/2021 às 19:31.
Atualizado em 05/12/2021 às 06:14
 (Fernando Michel)

(Fernando Michel)

O medo gerado pelo surgimento do novo coronavírus, em março do ano passado, ultrapassou as portas dos hospitais e levou desespero a empreendedores de todos os setores, mas com maior impacto sobre os segmentos que dependiam diretamente da presença do público, em função das medidas de restrição e distanciamento social impostas para conter a circulação do vírus. Passados 21 meses desde então, são justamente esses os segmentos que lideram, hoje, o grupo que melhor funciona com as mudanças causadas pela pandemia de Covid-19, conforme revela a 12ª pesquisa de Impacto da Pandemia do Coronavírus nas Micro e Pequenas Empresas, realizada pelo Sebrae em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV). 

Entre as empresas que mais recorreram a inovações e hoje estão funcionando com adaptações, as academias de atividades físicas lideram com 73%, seguida pelas setor de educação (71%) e beleza (70%). Quando analisado apenas o grupo das empresas que funcionam da mesma forma que antes da pandemia, em primeiro lugar está o segmento de oficinas e auto peças e, em segundo, a indústria, com a saúde em terceiro.

Mudanças

Para Márcia Valéria Machado, gerente da Unidade de Indústria, Comércio e Serviços do Sebrae Minas, a crise forçou mudanças e desafiou a criatividade dos empresários, numa corrente que acabou por favorecer a inovação. “A pandemia forçou as pequenas empresas a inovarem para sobreviver. Muitos setores tradicionais estavam trabalhando de portas abertas e passivas, já que a retenção de clientes acontecia naturalmente. Com a Covid-19, os empresários precisaram por exemplo de soluções digitais para atrair e manter consumidores”, diz.

De acordo com a especialista, um setor que ilustra bem o peso da inovação é o de alimentação. A pesquisa mostra que 63% dos empreendimentos dessa área estão funcionando devido às mudanças implementadas. “Eles precisaram aprender a trabalhar com logística de delivery em alta escala e curto prazo. Inovaram nos cardápios e na formação do preço. O varejo também, um dos mais impactados, precisou montar kits que eram entregues em casa. Portanto, até a forma de consumir mudou e as empresas precisam acompanhar”, relata.

Fernanda Abdallah e o marido Eduardo Pimentel são proprietários de um restaurante localizado no tradicional Edifício Maletta, na região central de Belo Horizonte. No início do ano passado, o negócio vivia sua melhor fase, mas a pandemia mudou o rumo da história. Com as contas no vermelho se acumulando, ideias brotaram e hoje eles apostam em parcerias que foram construídas em meio ao vendaval da pandemia. Com um deles, os dois abriram um negócio novo, de charcutaria. “É nossa aposta em uma linha de defumados e que atende food service e o consumidor final”, relata Fernanda. Em outra frente, os empreendedores perceberam o crescimento da realização de lives e, a partir daí, começaram a fornecer a alimentação para os funcionários de bastidores das gravações. “É uma área desafiadora e totalmente nova, mas que tem dado muito certo e eu pretendo investir”, conta ela.

Quem também inovou diante da dificuldade foi o empresário Lui Ferreira. Professor de educação física, ele é proprietário de uma academia na Vila da Serra, em Nova Lima. A migração das aulas para o ambiente online deu tão certo que ele abandonou a expansão física para investir pesado na plataforma digital. “O alcance de pessoas que conseguimos atingir é infinitamente maior e com um custo bem reduzido”, diz. O empresário conta que correu no início da pandemia e foi um dos primeiros do setor a ofertar aulas online. “Montamos um estúdio dentro da academia para gravação do nosso próprio conteúdo. Hoje, nossa plataforma tem aulas 24h por dia e somos chamados, inclusive, por outras academias para ensinar o que aplicamos”, diz.

 Novos hábitos

Grande parte das modificações implementadas pelos empreendedores na pandemia de coronavírus tende a continuar mesmo com o retorno das atividades, principalmente as que giraram em torno da digitalização, afirma o analista de Competitividade do Sebrae Alberto Vallim. “Quando falamos de automação no atendimento, autoatendimento, delivery e uso de aplicativos, por exemplo, estamos falando de inovações que agilizaram os serviços, aumentaram a eficiência e reduziram os custos. E essas, com certeza, serão incorporadas definitivamente no dia a dia das empresas”, observa o analista.

Vallim revela que as empresas que criaram produtos diferenciados e atendimentos exclusivos para clientes também devem manter as inovações. “Muitas empresas começaram a atender nichos como vegetarianos, veganos, a vender produtos com certificação de origem ou insumos de qualidade, a prestar serviços criados para grupos específicos e, com isso, obtiveram bons resultados”, afirma o analista, ressaltando que nem todas as inovações serão incorporadas.

Sobre os hábitos de distanciamento, uso do álcool em gel e medidas de maior higienização, o analista do Sebrae acredita que grande parte dos restaurantes e supermercados, por exemplo, continuarão com a adoção dessas medidas. “Em alguns segmentos essa prática permanecerá, mas nem todos os estabelecimentos terão condições de continuar, uma vez que representa um custo extra e é importante saber se os seus clientes podem e querem pagar a mais por isso”, comenta Vallim.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por