Série Excluídas pelo sistema financeiro

Negócios comandados por mulheres têm grande potencial, mas gritam por recursos

Hermano Chiodi
hcfreitas@hojeemdia.com.br
Publicado em 22/09/2022 às 08:00.
Da cozinha de casa para a loja física, Débora Vieira não tinha saída a não ser crescer: “Cheguei naquele ponto em que ou crescia ou desistia. Estava para desistir” (Fotos Arquivo Pessoal)

Da cozinha de casa para a loja física, Débora Vieira não tinha saída a não ser crescer: “Cheguei naquele ponto em que ou crescia ou desistia. Estava para desistir” (Fotos Arquivo Pessoal)

Dona de uma confeitaria de produtos veganos em Belo Horizonte, Débora Vieira é o exemplo do potencial feminino nos negócios que, no Brasil, está sendo limitado por dificuldades de acesso ao crédito. Ela criou a loja, a Chocolateria Lab, primeiro na internet e depois de anos viu a necessidade de ampliar e partir para uma loja física. Mas, para isso, precisava de dinheiro e foi aí que o que era doce ficou amargo.

“Eu cheguei naquele ponto no qual eu tinha que escolher: ou crescia ou desistia. Eu estava para desistir”, lembra. Débora conta que tinha pouco relacionamento com os bancos e um histórico de Microempreendedora Individual (MEI), e por isso não conseguiu crédito em linhas tradicionais. 

“Eu só consegui um pouco de crédito, valor pequeno, em um projeto chamado ‘Estímulo 2020’. Foi suficiente apenas para um forno e uma geladeira. Quem me salvou foi uma amiga que acabou sendo minha investidora”, destaca.

Infelizmente, a experiência de Débora não é única. O Hoje em Dia tem retratado essa realidade de exclusão financeira das mulheres em uma série de reportagens especiais publicadas desde segunda-feira (19). E hoje encerra mostrando que, além de movimentar a economia com o empréstimo para aumentar o consumo das mulheres, investir em negócios das empreendedoras é uma forma também de movimentar a economia do país. 

“O futuro é feminino. O quanto antes for compreendido, melhor serão os desdobramentos econômicos e suas benesses”, alerta o analista do Sebrae Minas, Mauricio Peres.

Dados do Sebrae mostram que hoje elas são 34,4% dos empreendedores brasileiros e têm maior participação com negócios nas áreas de saúde, educação e serviços sociais. Representam 56% dos empregadores nas microempresas e 51% das pequenas empresas. 

É justamente esse grupo de pequenas empresas, comandado por mulheres, que mais gerou empregos no Brasil – quase 72% das vagas, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Previdência divulgado em agosto.

 

Débora saiu da venda on-line para a loja física: crescimento exigiu crédito, que foi difícil de conseguir (Arquivo Pessoal)

 Barreiras

Contudo, é neste grupo também que o acesso a crédito pelas mulheres empreendedoras é mais difícil. Considerando os dados do Banco Central disponíveis em seu Relatório de Cidadania Financeira, entre os microempreendedores, os homens detêm 59% de todo o montante emprestado; elas ficam com 41%.

Em termos percentuais parece pouco, mas na prática significa que a diferença ultrapassa a casa dos bilhões de reais, diz o Banco Central. “Essas realidades enfrentadas pelos negócios femininos no Brasil evidencia que uma das formas de diminuir disparidades é por meio da oferta de produtos financeiros voltados para as mulheres”, diz o analista do Sebrae Minas, Mauricio Peres. Oferta que tem aumentado, conforme mostramos na edição de quarta-feira (21).

Inclusão
Segundo ele, a agenda sobre o financiamento dos negócios femininos no país deve focar no crescimento econômico, mitigando os efeitos da crise do Covid-19 sobre o tecido produtivo. “Reduzindo desigualdades e avançando produtos financeiros por meio da inclusão financeira das mulheres”, avalia.

O potencial de crescimento é evidenciado quando se compara o número de empreendedoras que empregam outros trabalhadores em relação ao número de empregadores homens. Entre elas, cerca de 1 milhão, ou 7% do total, são empregadoras; entre os homens esse número é maior, com 9% do total. A maioria emprega até cinco funcionários. Isso mostra, que, com investimento, há espaço para aumentar o número de empregos gerados por mulheres empreendedoras.

“As brasileiras empreendem, principalmente, devido à necessidade de ter outra fonte de renda ou para adquirir a independência financeira. Facilitar o investimento em negócios comandados por mulheres também favorece a diversidade de negócios no país, graças às perspectivas inovadoras identificadas pelas empreendedoras”, destaca Peres. 

A confeitaria de Débora é um exemplo. De uma loja na internet e um trabalho individual, hoje ela já emprega nove pessoas e o objetivo é continuar crescendo. “Estava exausta e preocupada. Agora continuo exausta, mas feliz. Quando consegui o capital para investir, parece que várias portas se abriram”, comemora.

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