Série Excluídas do Sistema Financeiro

Pandemia custou mais para mulheres e agora é preciso crédito para recomeçar

Hermano Chiodi
hcfreitas@hojeemdia.com.br
Publicado em 21/09/2022 às 08:30.
A advogada Hildeane Ferreira ficou entusiasmada com as condições especiais oferecidas pelo programa “Pra Elas”, da Caixa, e já planeja investimentos (Arquivo pessoal)

A advogada Hildeane Ferreira ficou entusiasmada com as condições especiais oferecidas pelo programa “Pra Elas”, da Caixa, e já planeja investimentos (Arquivo pessoal)

A pandemia de Covid-19 atingiu em cheio o mercado de trabalho feminino e aumentou o desemprego entre as mulheres, que hoje é 10% maior do que entre os homens, segundo o IBGE. Mas isso não diminuiu a disposição delas em pagar as contas em dia. Pesquisa sobre endividamento e inadimplência dos brasileiros, feita pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), com dados de agosto, mostra que mulheres e homens têm o mesmo índice de endividamento, mas são elas que têm se esforçado mais para quitar as dívidas em atraso, segundo relatório da Serasa Experian, publicado em agosto.

Os salários baixos e o desemprego fazem parte das barreiras que provocam a exclusão financeira das mulheres, assunto que tem sido abordado em uma série de reportagens publicadas no Hoje em Dia desde segunda-feira (19).

Porém, de acordo com especialistas e com um relatório feito pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), falta de pagamento não é justificativa para restringir crédito às mulheres.

Fortalecer economia
A economista Mafalda Valente, professora das Faculdades Promove, afirma que existem experiências no mundo que mostram que as mulheres são mais responsáveis na hora de buscar o crédito e que garantir esse acesso é mais do que uma questão vinculada às mulheres, mas importante para fortalecer a economia neste momento de retomada. 

“Com a pandemia, os setores que foram mais afetados foram aqueles que mais empregam as mulheres, como setores de prestação de serviços, serviços não essenciais – como salão de beleza, manicure, escolas – e esses auxílios que ajudaram a sobrevivência das famílias foi também o que ajudou a economia a se salvar durante a pandemia”, avalia.

Mafalda destaca que projetos de distribuição de renda do governo federal, como o Auxílio Brasil, são destinados preferencialmente às mulheres justamente para tentar incluir esse grupo e movimentar a economia. A boa notícia é que também os bancos estão percebendo esta realidade e investindo em projetos especiais para atrair as mulheres e incentivar o consumo de crédito consciente.

Para Elas
A advogada Hildeane Ferreira, de 37 anos, é cliente do sistema bancário desde que começou a fazer estágios, ainda adolescente. Mas nunca utilizou serviços de crédito, nem cartão de crédito, e quando tentou teve dificuldades para ampliar seus limites, por causa do pouco uso dos serviços. Mas agora, a Caixa Econômica Federal, banco do qual é cliente, criou um programa específico para as mulheres que chamou a atenção dela.

Durante a pandemia, Hildeane teve que fechar seu escritório e controlar os gastos com a redução dos clientes, mas agora pensa em investir. O que falta é o crédito para isso. “Eu tenho um carro que comprei à vista e quero trocá-lo. Mas com os preços e juros altos, pensei em contratar um consórcio. Essa ideia ficou de lado, mas agora, com condições diferenciadas para as mulheres, voltou para a minha mesa de projetos”, diz. 

O programa, lançado pelo banco em uma coletiva de imprensa dia 12 de setembro, prevê descontos de 10% no consórcio de veículos leves para mulheres empreendedoras, além de tarifas especiais em várias linhas de crédito, seguros e serviços. Mas o banco foi além e diz que irá criar espaços especiais em suas agências para o atendimento específico das mulheres.

“Esses descontos são oriundos do fato de que mulheres são mais adimplentes do que homens e, por isso, a gente consegue no balanceamento de risco oferecer taxas mais atrativas para elas, reconhecendo a responsabilidade financeira delas e não porque a gente tem algum tipo de crença em divisões”, explicou a presidente da Caixa, Daniella Marques. 

A caixa não está sozinha. O Banco do Brasil, outra grande instituição pública, tem um programa com o mesmo nome de sua concorrente: o “BB pra elas”. O programa também traz preços atrativos para diversos serviços, além de ter conteúdo exclusivo e condições especiais para as mulheres empreendedoras.

Já o Itaú informou ter programas especiais voltados às mulheres empreendedoras e que busca incentivar também o equilíbrio entre homens e mulheres entre seus funcionários e colaboradores. Outras instituições financeiras foram procuradas, mas não responderam até o fechamento desta edição.

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