Pior resultado em 10 anos: pequenos negócios mineiros batem recorde em demissões devido à pandemia

Evaldo Magalhães
efonseca@hojeemdia.com.br
11/08/2020 às 20:02.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:15
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

Os pequenos negócios mineiros sofreram um baque e tanto em termos de demissões no primeiro semestre, impactados, sobretudo entre março e maio, pela pandemia da Covid-19. Segundo dados divulgados ontem pelo Sebrae Minas, o Estado registrou, apenas entre as Micro e Pequenas Empresas (MPE’s), saldo negativo de 75.405 postos de trabalho no período. Foi o pior número em primeiros semestres dos últimos dez anos.

“Já esperávamos um impacto negativo por conta da pandemia, mas não um saldo tão ruim”, comenta Afonso Rocha, superintendente do Sebrae Minas. Março, abril e maio foram os meses em que os efeitos do novo coronavírus foram mais trágicos para os pequenos negócios. 

No total, ao longo daqueles 90 dias, a diferença entre o número de contratações e demissões no segmento foi de menos 100 mil postos de trabalho. 

Para enfrentar a crise, opção de MPE’s pode ser a busca por crédito especial no mercado; este mês, Sebrae listou 183 linhas, 454% a mais que em março, no início da pandemia

“É um resultado devastador, principalmente porque as micro e pequenas empresas são as principais empregadoras do Estado, responsáveis por mais de 60% dos postos com carteira assinada em Minas Gerais”, avalia Rocha. 

Seis a cada dez cidades

No primeiro semestre de 2019, 260 municípios mineiros fecharam o período com saldo negativo de empregos entre as MPE’s. Neste ano, o número praticamente dobrou: 502 municípios, ou 58% do total de 853 – praticamente, seis a cada dez cidades –, encerraram mais postos de trabalho do que criaram. 

Em algumas regiões, como a Central, o resultado foi ainda mais crítico. Nos seis primeiros meses de 2019, o saldo entre o número de empregados e desempregados ali foi positivo, somando 22 mil novos postos de trabalho. No mesmo período deste ano, o quadro foi drasticamente invertido, com 51 mil vagas encerradas.

Com exceção da região Noroeste de Minas, que registrou saldo positivo de 2.561 vagas, todas as outras tiveram resultado diametralmente oposto ao observado no primeiro semestre de 2019. Os piores números foram apurados no Centro (-51.532), Zona da Mata e Vertentes (- 18.525) e Sul (- 15.122).

”As maiores retrações foram nas cidades de grande e médio porte, especialmente aquelas em que a indústria tem um papel importante”, como é o caso de Belo Horizonte (-48.627), Juiz de Fora (-8.185), Nova Serrana (-7.320) e Contagem (-7.185)”, informou o superintendente do Sebrae Minas.

Setores

Dois dos setores que mais demitiram empregados, entre as MPE’s mineiras, foram os de comércio e serviços. Segundo a Câmara de Dirigentes Lojistas da capital (CDL/BH), em pouco mais de 130 dias de fechamento de lojas, a partir de março, foram contabilizados cerca de 25 mil desligamentos. 

No caso dos bares e restaurantes, de acordo com a Associação Brasileira de tais estabelecimentos (Abrasel), a conta para todo o Estado, apenas até julho, chegou a 40 mil demissões, podendo passar a 60 mil, agora em agosto. 

Um dos que mais desligaram, setor de bares e restaurantes está sem perspectiva de retomada

Impedidos de receber clientes da maneira tradicional desde março, em razão das normas de distanciamento social adotadas em BH, bares e restaurantes estão entre os campeões de desligamentos de funcionários na cidade. E, ao contrário de outros tipos de negócio, beneficiados ainda que de maneira tardia pelas flexibilizações – caso de shoppings e lojas de vestuário e calçados, autorizados a reabrir na capital na semana passada– seguem sem perspectivas de retomada da “normalidade”.

“Somos os mais prejudicados, sem dúvida. Até por falta de critérios das autoridades, porque parece que o vírus só gosta de bares e restaurantes e não está nem aí para supermercados, ônibus e outros locais e situações”, diz Lindoval Conegundes, proprietário do Paracone, restaurante com 31 anos de existência e duas unidades na capital.

Para fazer frente à queda brutal no faturamento, nos últimos meses – já que, desde o início da pandemia, ele tem atuado apenas no sistema de delivery -, Lindoval conta que mandou 18 colaboradores embora. 

“Primeiro, dei férias coletivas; depois, suspendi temporariamente alguns contratos. Mas chegou a um ponto em que não havia mais o que fazer”, lamenta. Para ele, a situação do segmento tende a piorar, mesmo que os estabelecimentos tenham permissão para reabrir ao público. “Pelo que vi, a retomada será feita com restrições de horários e uma série de regras, como a que permite apenas uma pessoa a cada cinco metros quadrados. Pode ser que nem valha a pena voltar”. 

  

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