Entrevista

Planos ousados de crescimento levam mineira Farmax a romper fronteiras

Hermano Chiodi
hcfreitas@hojeemdia.com.br
Publicado em 26/12/2022 às 07:00.
 (Farmax/Divulgação)

(Farmax/Divulgação)

Uma empresa com o pé em Minas Gerais e com os olhos no mundo vem conquistando cada vez mais espaço quando o assunto são produtos farmacêuticos básicos e cosméticos. A Farmax, farmacêutica de Divinópolis, região Central do Estado, está presente em 95% das farmácias brasileiras e se tornou uma das principais empresas do setor, apostando em oferecer produtos básicos e de uso cotidiano, como soro fisiológico e bicarbonato, com qualidade e preços baixos. Porém, a empresa quer mais.

O faturamento bruto anual gira em torno de R$ 450 milhões, e o objetivo é triplicar o tamanho da companhia, até 2026, alcançando a marca de R$ 1 bilhão. O carro-chefe neste início de caminhada é a entrada na disputa no mercado de protetores solares. Com a linha Sunless, a empresa aposta em um caminho onde “reputação” e “marca” são diferenciais mais relevantes que o preço.

O CEO da Farmax, Ronaldo Ribeiro, conversou com o Hoje em Dia e falou sobre os desafios de construir uma empresa líder de mercado no interior de Minas Gerais. Recentemente, ele foi escolhido para integrar o programa “Lideranças de ImPacto”, das Nações Unidas, que tem como objetivo sensibilizar líderes empresariais para acelerar a implantação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) nas empresas, e conta que inclusão e a garantia de um ambiente saudável de trabalho são parte de qualquer estratégia vitoriosa. Confira.

A Farmax é uma das empresas líderes do setor e mantém a planta no interior de Minas. Na opinião do senhor, que é mineiro e rodou o mundo, quais as dificuldades e vantagens de produzir em Minas?
Pois é, eu sou de Lagoa Santa! Trabalhando, tive a oportunidade de conhecer diferentes “brasis”, atuei também fora do país e estar aqui, retornar a Minas Gerais e ter este desafio na Farmax é uma felicidade. Sobre produzir aqui, acredito que a principal dificuldade que temos é a atração e manutenção de talentos. São Paulo é um grande centro econômico, naturalmente as pessoas têm mais disponibilidade de ir trabalhar lá. Em Minas, enfrentamos a dificuldade, sobretudo no interior, de atrair mão de obra. Contudo, temos buscado soluções para resolver esta questão. Na Farmax já adotamos, por exemplo, alternativas do tipo “anywhere office”, de trabalho em qualquer lugar, que já é possível com as tecnologias que temos disponíveis. Entre as principais vantagens, podemos pensar a posição geográfica do Estado, que é bem colocado, com boa infraestrutura e integrado com as diferentes regiões do país. Institucionalmente, Minas também tem apresentado vantagens. As conversas com o poder público têm tido uma boa fluência e o governo tem conseguido, na minha avaliação, bons resultados na condução econômica. São vantagens que, acredito, devem atrair mais empresas para o Estado no futuro.

A Farmax cresceu mostrando capacidade de inovar e adotar estratégias diferentes. Desde o início, com a comercialização de estoque excedente, passando pela escolha de atuar com produtos de uso cotidiano, mas que não exigem receitas, até a produção de produtos para rede própria de drogarias… Qual o segredo da empresa na condução dessa estratégia?
Desde o começo da empresa, passando por todas as fases, é possível identificar um traço comum que é estar atento às realidades. É isso que nos permite criar e nos posicionar. A Farmax e seus gestores sempre estiveram atentos aos mercados, às oportunidades e aos problemas e necessidades das pessoas. A empresa começou com três irmãos, cujo avô era dono de uma farmácia. Eles perceberam ali a disponibilidade de estoque e começaram a distribuir esse estoque excedente a outras empresas da região, a partir daí deram início a uma distribuidora, na década de 1980, que marca o início da Farmax. Num determinado momento, em uma das crises enfrentadas pelo país, eles identificaram que era necessário ir além da distribuição e aí dão início à produção de fármacos. Depois eles perceberam que havia um gasto muito grande com as embalagens utilizadas nos produtos, então eles resolveram investir na produção de embalagens. Hoje, a companhia produz 90% das embalagens dos próprios produtos. A produção de frascos e tampas promove diferencial competitivo de custo e agilidade, acelerando e ampliando a capacidade de resposta ao mercado. Essa trajetória mostra que é preciso estar atento ao mercado e ter agilidade para adotar e conduzir mudanças. É preciso ter uma estratégia clara, buscar seu espaço, encontrar seu consumidor, mas de uma forma própria.

(Farmax/Divulgação)

(Farmax/Divulgação)

 O setor de fármacos e cosméticos é altamente competitivo, com empresas de qualidade e consolidadas. Como se destacar neste setor?
Nós acreditamos que é preciso oferecer um produto de alto padrão de qualidade, mas com preço acessível. Eu falo com nosso time de trabalho: é preciso ser encantador. Não é preciso ser caro para ser encantador. Nós trabalhamos com a ideia de incluir. Incluir, também, os consumidores. Eu digo à equipe que temos que manter a mentalidade dos fundadores; precisamos estar atentos aos mercados e perceber os problemas, os sofrimentos dos consumidores. Só boa ideia não resolve o problema de ninguém. Nós buscamos a inovação e inovar é atender as necessidades das pessoas. Outra questão importante, reforçando o que eu disse, é a capacidade de ser ágil. Ter agilidade na decisão. Na pandemia, por exemplo, quando foi permitido vender o álcool líquido 70% no varejo – foi autorizado para auxiliar no combate à pandemia – nós gastamos 30 horas para produzir, embalar e colocar no caminhão pronto para distribuir às farmácias. Nós interrompemos nossa produção, trabalhamos para elaborar, autorizar e produzir o produto no tempo mais rápido possível. Esse é um diferencial nosso, uma verticalização da produção que nos torna mais ágeis que outras grandes empresas do setor, que enfrentam dificuldades nessa tomada de decisões rápidas.

O ramo de cosméticos, como a linha Sunless, possui ainda mais particularidades. Na linha de protetores solares, a marca é fundamental. É uma exigência diferente de outros produtos e linhas em que a Farmax é líder. Como a empresa pretende entrar nesta disputa?
Precisamos de visibilidade. Neste caso, a marca é realmente essencial. O produto está sendo trabalhado em várias mídias e espaços. Mas, para o Sunless, o fundamental são as mídias digitais. É esse caminho que a gente vai percorrer. E mantemos a ideia de que é necessário encantar e identificar problemas e necessidades dos consumidores. Protetores solares são importantes para a saúde e para a beleza; seja para ficar em um escritório com exposição a luzes fluorescentes ou para andar na rua, é necessário se proteger. O uso de protetor solar, sobretudo em um país como o Brasil, é importante e necessário. Porém, na nossa avaliação, os preços estão em um patamar que afasta o consumidor. Por isso, preparamos um produto com alto padrão de qualidade técnica, mas com um preço que inclua os consumidores no mercado, e que seduza o consumidor desde a aparência da embalagem. Esse é o caminho que estamos seguindo. E com aquele diferencial da agilidade que eu comentei anteriormente. No Brasil temos dois verões em épocas diferentes, no Sul e Norte do país. Porém, as grandes empresas do setor, por questão de escala, fazem apenas uma campanha, um verão único. Nós temos agilidade suficiente para termos duas campanhas e ações diferenciadas para cada região. Faz parte do nosso diferencial.

O senhor foi escolhido recentemente como CEO integrante do programa Liderança com ImPacto. O que significa isso? Como o ambiente de negócios e a sociedade podem se beneficiar com empresas alinhadas com os ODS?
Eu sou representante do programa para auxiliar na difusão dos ODS – os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, das Nações Unidas – no grupo de “Saúde e Bem-estar”. É uma honra participar desse programa e é fundamental levar esta proposta ao mundo do trabalho e ao mundo corporativo. Nós queremos mostrar exemplo de ações que adotamos na Farmax, mas divulgar boas práticas que são desenvolvidas no mundo e que podem se adequar para cada empresa. Na Farmax, por exemplo, nós acreditamos que o bem-estar e saúde dos funcionários é fundamental. Nós incentivamos a prática esportiva, adotamos um parque em Divinópolis, onde fica a sede da empresa. Mas vamos além, por exemplo, para buscar o bem-estar mental dos funcionários. Na Farmax, quando um colaborador sai de férias, por exemplo, ele é retirado de todos os grupos de WhatsApp institucionais, fica sem acesso ao e-mail, tudo para garantir que ele realmente tenha um momento de descanso, afastado das funções de trabalho. Quem chega na empresa até estranha. Quando vê que alguém foi retirado do grupo questiona se houve alguma coisa e a gente fala: “não aconteceu nada; só está de férias”. É um tipo de ação que valoriza a vida social do trabalhador, essencial para o bem-estar dos indivíduos. Outro exemplo da Farmax é que quando se encerra a jornada de trabalho da pessoa, o computador do terminal de trabalho apaga e ela não tem mais acesso. O objetivo é esse, garantir uma separação da vida social e da vida de trabalho. É esse tipo de valor, o valor da saúde, o respeito ao indivíduo, que buscamos difundir como representante do programa da ONU no país e mostrar que investir nisso traz bons resultados também para a instituição.

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