Força nas gôndolas

Produto de marca própria ajuda consumidor a pagar menos e garante empregos na produção

Hermano Chiodi
hcfreitas@hojeemdia.com.br
24/10/2022 às 07:00.
Atualizado em 24/10/2022 às 07:29
 (Maurício Vieira/Hoje em Dia)

(Maurício Vieira/Hoje em Dia)

A alta dos preços registrada nos últimos anos fez supermercados e consumidores se movimentarem em busca de alternativas que garantissem o nível das vendas e a redução dos preços, sem perder qualidade. Só no grupo de alimentos e bebidas, a inflação já bateu 9,54% no ano. Na busca por soluções criativas, o investimento em marcas próprias é um dos caminhos adotados com frequência pelas grandes redes supermercadistas, destaca Alexandre Poni, presidente da Associação Mineira de Supermercados (Amis).

 O crescimento na venda deste tipo de produto chegou a 7% no último ano e o faturamento saltou de R$ 1,6 bilhão, em 2006, para mais de R$ 15 bilhões em 2016. Nessa cruzada quem também saiu ganhando foram as empresas que fornecem produtos para as grandes redes. 

“É um bom negócio para a indústria fornecedora, pois eles acabam tendo menos custo de promoção e propaganda e garantem a oferta de seus produtos”, destaca Poni. Na Superminas, evento supermercadista realizado em Belo Horizonte na última semana, não faltaram exemplos de empresas seguindo este caminho. É a opção, por exemplo, de Luiz Carlos Barbosa, diretor da fábrica de café Jequitinhonha, na cidade mineira de Capelinha, que viu a oportunidade de fornecer matéria-prima para grandes redes varejistas como alternativa para impulsionar a produção em sua empresa. 

“Nós percebemos que tínhamos uma fábrica que atendia aos padrões de qualidade e segurança que as empresas exigem e poderíamos ampliar nossas vendas aos trilhar esse caminho. Os supermercados são clientes potenciais importantes para indústrias como a nossa”, diz. Ele conta que continua investindo no crescimento de sua linha com a marca da indústria, porém, a oferta para as marcas de varejistas é uma fonte de recursos inclusive usada no fortalecimento de sua linha de produtos.

De acordo com Neide Montesano, presidente da Associação Brasileira de Marcas Próprias e Terceirização (Abmapro), uma das vantagens principais aos produtores, em especial os pequenos e médios, está na menor burocracia. “Ao fornecer para produção de ‘marca própria’, a pequena e média indústria consegue colocar seu produto no mercado sem ter que enfrentar trâmites burocráticos que, nesse caso, ficam a cargo da empresa dona da marca. Não tem custo de marketing, menos gasto com logística, fatores que barateiam o processo e permitem acesso a mercados que o produtor não teria sozinho”, destaca.

Consumidores
Para a economista Mafalda Valente, professora das Faculdades Promove, é preciso ter em mente que estas estratégias comerciais só têm sucesso quando oferecem ganhos a todas as partes envolvidas, inclusive os consumidores. “O consumidor tem que ganhar nessa relação. Os produtos de marca própria permitem ganhos maiores aos supermercados, mas os consumidores também precisam ter um ganho no preço e na qualidade. A maior parte dos produtos de ‘marca própria’ tem fornecedores de boa qualidade e oferecem um bom produto por um preço baixo”, avalia.

Segundo dados da Abmapro, os produtos de marca própria custam, em média, 30% menos que os produtos principais nas gôndolas dos supermercados. “Se fizermos a conta apenas com os produtos da cesta básica, a economia de um consumidor que compre ‘marcas próprias’ chega a 20% no país”, afirma Neide Montesano.

Para ela, investir na comercialização de produtos com marcas das redes de distribuição “não é uma tendência de mercado, é uma questão de sobrevivência”. Ela destaca que na Europa, no setor varejista de alimentos, aproximadamente 40% dos negócios estão vinculados a produtos de marca própria. E no Brasil não é diferente. 

“A rede Carrefour e Pão de Açúcar tem cerca de 21% dos seus negócios em produtos de marca própria e tem como meta aumentar nos próximos anos”, informa. “Com as mudanças e inovações do mercado, as grandes marcas devem, cada vez mais, vender e entregar seus produtos diretamente aos consumidores. As pequenas e médias indústrias terão dificuldades maiores para concorrer neste modelo e os distribuidores – varejistas ou atacadistas – terão que ter marcas próprias para conseguir entregar um diferencial aos clientes”, avalia.

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