Finanças

Queda do dólar reaquece movimento nas casas de câmbio

Hermano Chiodi
hcfreitas@hojeemdia.com.br
Publicado em 16/02/2022 às 06:30.

A queda registrada no valor do dólar nas primeiras semanas do ano voltou a estimular a compra da moeda norte-americana, conforme atestam os bancos e casas de câmbio. De 1º de janeiro até esta terça-feira (15), a variação foi de 8,5% para baixo. A moeda iniciou o ano valendo R$ 5,63 e ontem fechou cotada a R$ 5,18, conforme o Banco Central.

Para ter dimensão do crescimento da demanda, o banco Itaú, por exemplo, informou ter registrado um aumento de 377% na venda de dólar em espécie para seus clientes na comparação com o mesmo período de 2021, somando as vendas efetuadas em dezembro, mês de maior pico de vendas desde o início da pandemia. Janeiro fechou com aumento de 171% em relação ao mesmo período do ano anterior.

 (Arte HD)

(Arte HD)

O aquecimento da demanda pelo dólar também foi percebido nas casas de câmbio e pequenas operadoras, já que tem servido de incentivo para turistas e investidores adquirirem a moeda, depois da sequência de altas dos últimos meses. 

Para Alessandro Barbosa, proprietário de uma casa de câmbio na região central de Belo Horizonte, a queda no valor do dólar coincide com um outro movimento salutar para o setor, que é a retomada das viagens internacionais. “Durante a pandemia nós passamos meses apenas pagando contas, sem lucro. Esse aumento de agora é para comemorar”, disse.

A engenheira Cláudia Júlio, de Belo Horizonte, é uma das pessoas que aproveitaram o momento para comprar dólares. Ela estava com viagem ao exterior comprada desde o início da pandemia e vinha monitorando os preços da moeda norte-americana. Quando a cotação do dólar bateu, esta semana, abaixo de R$ 5,20, ela não teve dúvidas e fez a compra. “Comprei até mais dólares do que o previsto e agora pretendo gastar todos, não vou economizar”, comemorou.

O professor de economia do Ibmec, Paulo Casaca, disse que o ideal é que as pessoas planejem a compra de moeda estrangeira, adquirindo aos poucos. “Assim, se o preço cair ou subir muito ao longo do ano, a pessoa não vai ter prejuízos”, argumenta.
Ele destaca que o momento de fato está bom para a compra da moeda norte-americana, uma vez que as razões para a queda são momentâneas e sem perspectiva de longo prazo. “As razões que levaram à queda no preço do dólar foram, em suma, o aumento da taxa básica de juros e a elevação do preço das commodities, que resultam em uma entrada maior de moeda estrangeira no país e a uma valorização do real”, disse. Para ele, esses dois fatores não devem se manter até o final do ano, o que indica novas altas pela frente. “A expectativa do mercado é que o preço suba nos próximos trimestres e termine o ano em R$ 5,60”, disse.

Por isso, aconselha Casaca, se alguém tem uma viagem no final do ano, deve aproveitar a oportunidade. “Períodos eleitorais normalmente já provocam oscilações no câmbio. Essa oscilação é ainda maior em uma eleição presidencial, que envolve muitas incertezas, como a que teremos este ano”, disse.

Sem impacto na inflação

O valor do dólar influencia vários preços no Brasil e é um fator importante de pressão na inflação. Mas a queda da moeda norte-americana, acentuada desde janeiro, não deve ter impacto nos preços, pelo menos por enquanto, diz Paulo Casaca, professor de economia do Ibmec.

“O efeito do câmbio na inflação não é automático. Para que o consumidor sinta uma diminuição nos preços por causa do câmbio, esse efeito de queda tem que perdurar alguns meses”, disse.
O professor diz que é difícil fazer previsões e que os preços, sobretudo de commodities, são influenciados por vários fatores, mas que “hoje a tendência é a desvalorização do real, que interromperia a sequência de quedas e limitaria seu efeito na inflação”, disse.

Ele lembra que o boletim Focus, do Banco Central, liberado nesta segunda-feira (14), previu uma inflação de 5,5%, índice superior ao previsto pelo mercado anteriormente. Por causa disso, as instituições já preveem novo aumento na taxa Selic, atualmente em 10,75%, mas que, segundo Casaca, não deve provocar novas quedas no preço do dólar.

Investimento

Confirmando a avaliação de Casaca, Alessandro Barbosa, proprietário de uma casa de câmbio, diz que alguns de seus clientes ainda estão esperando os próximos dias para ver se o preço do dólar cai mais, mas ele diz que também há os que adquirem certos de que estão fazendo um bom investimento. “Muitos dos clientes que estão comprando é para investimento, na expectativa de que o preço volte a subir no segundo semestre, por conta do período eleitoral”, comentou.

  

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