Marah Costa

'Todo evento tem potencial de desenvolvimento para a cidade', diz diretora da Belotur

Izamara Arcanjo
Especial para o Hoje em Dia
Publicado em 23/05/2022 às 06:30.
Marah Costa, diretora de eventos da Belotur (Maurício Vieira)

Marah Costa, diretora de eventos da Belotur (Maurício Vieira)

Com o avanço da vacinação contra a Covid-19, a população de Belo Horizonte, aos poucos, está voltando a festejar. Tanto que a Belotur já anunciou investimentos de cerca de R$ 3,7 milhões em ações para a reestruturação da cadeia produtiva do Carnaval de rua da cidade. A retomada dos eventos, turismo e serviços tem sido uma das prioridades da gestão da diretora de Eventos da Belotur, Marah Costa. Formada em Comunicação Social e especialista em Políticas Públicas pela UFMG, Marah atua como gestora de cultura desde 2010. Na Belotur, desde 2019, está à frente da coordenação do Carnaval, do Arraial de Belo Horizonte, da Parada LGBTQIA+ e das atividades de comemoração do aniversário da cidade, dentre outros eventos realizados pela Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. Ela conversou com a reportagem do Hoje em Dia.

Como foram pensados estes editais visando o Carnaval de 2023?
A gente formou no ano passado uma comissão para discutir com integrantes que representam os blocos de rua, escolas de samba e blocos caricatos para entender, realmente, qual era o melhor formato dos editais, para que pudessem dar uma injeção de ânimo, um gás novo, para que a turma pudesse se reestruturar neste ano, tendo em vista o Carnaval de 2022. Nos reunimos com eles, entendendo que cada ator do Carnaval tem uma forma de atuação distinta, mas todos representam, em última instância, desenvolvimento econômico, social e cultural para cidade. Quem vê os blocos e escolas naquele momento do Carnaval, não tem ideia do quão é importante, o trabalho, a articulação e a infinidade de oficinas que acontecem ao longo de todo um ano anterior. Todos estes atores já tinham um modo de fazer, de monetizar, de maneira que isso gerasse renda para os blocos e seus integrantes. Com o advento da pandemia, eles ficaram com muitas dificuldades de engajar a comunidade para voltar. Então, foi muito importante a gente construir isso juntos, a partir de uma política pública, entendendo que a Belotur tem uma missão estruturante com foco no evento que tem um imenso com potencial turístico que é o Carnaval. Com o Carnaval belo-horizontino, deixamos de exportar turistas e começamos a importá-los. Alinhamos com todos e conseguimos fechar neste modelo um edital para cada ator. As diferenças estão na parte de capacitação, oficinas, na parte de realização de eventos de aquecimento, lançamento de sambas enredo, gravação de minivídeos ou gravação de músicas, o que vai contribuir muito para atrair os olhares para nossa cidade que tem feito tão bonito nos últimos Carnavais.

Quantos blocos de rua, escolas de samba e blocos caricatos vocês esperam contemplar em cada edital?
A gente fez uma pesquisa e, para cada segmento, nós temos uma estimativa, em função dos históricos de outros Carnavais, de contemplar com os recursos 12 escolas de samba, 12 blocos caricatos e até 170 blocos de rua. São editais com características distintas de editais passados. É a primeira vez que a Belotur faz esta ação preparatória, de aquecimento, de estruturação para o Carnaval. Ainda teremos os editais de patrocínio, ainda temos um fluxo no final do ano, quando saem os editais para o evento em si, que será realizado em fevereiro do ano que vem.

A Belotur tem focado em ações de fomento relacionada à formação, capacitação para o desenvolvimento de grandes eventos em Belo Horizonte? 
Desde 2020/2021estruturamos uma parceria com o Sebrae. A gente vinha fazendo pesquisas e intensificamos estas pesquisas com os realizadores do Carnaval para entender quais eram as lacunas existentes. Essas pesquisas apontaram questões ligadas ao empreendedorismo, dificuldades para se formalizar enquanto Pessoa Jurídica. Foi a partir deste momento que começamos a realizar uma série de workshops, seminários, rodas de conversas, com algumas ações específicas para blocos de rua, outras para escolas de samba, com mentorias para fortalecer estes atores enquanto instituições, para que eles conseguissem se manter, se estruturar para 2023, colocando em prática, neste ano, uma série de atividade que eles desenvolveram no ano passado. Então fizemos muitas ações ligadas à economia criativa, rodadas de negócios com outras cidades e, nesta perspectiva, começamos a montar uma rede de gestores do Carnaval. Foi uma iniciativa puxada por Belo Horizonte, que envolve Rio de Janeiro, São Paulo, Salvadora, Recife, Olinda, Brasília. A gente vem se reunindo para poder pensar políticas estruturantes nacionalmente, pois, mesmo antes da pandemia, Belo Horizonte tinha dificuldades de se enxergar como um real polo fundamental para esse Carnaval e isso agora mudou. Fizemos o primeiro evento presencial na semana passada, em São Paulo, onde assinamos um carta de intenções, e temos uma série de ideias para trabalhar nosso Carnaval em nível nacional para passarmos a ter uma olhar mais macro para este Carnaval. Acho que vamos colher bons frutos nos próximos anos.

E, neste ano, a cidade vai poder contar com o Arraial de Belo Horizonte? 
Vamos sim e estamos muitos felizes que este será o primeiro evento público a voltar para as praças e ruas da cidade, desde o arrefecimento da pandemia. O Arraial de Belo Horizonte foi ainda mais prejudicado que o Carnaval. Foram quase três anos sem o arraial e, para a comunidade, para a cultura junina da cidade, é muito importante esta retomada. Por mais que a gente tenha feito um esforço para fazer a ação online, nada é igual o presencial, o calor humano que a festa proporciona no frio de junho em plena Praça da Estação.

Qual o impacto que ele causa na vida econômica da cidade?
O setor de eventos ainda é muito carente de indicadores, mas acho que é fundamental para a cadeia produtiva que a gente consiga ter cada vez mais dados e parâmetros de análise. No caso do Arraial, nós temos o Observatório do Turismo, que realiza várias pesquisas em eventos que têm relevância para a cidade. Em 2019, tivemos uma estimativa de R$ 37 em gastos das pessoas no evento. Como a circulação estimada de pessoas é de 100 mil pessoas ao longo de cinco dias, nós temos R$ 3,7 milhões de impacto financeiro para a cidade, no transporte, no gasto com evento... A gente precisa olhar o evento para além do que se vê. Quando temos um evento, se a pessoa é de fora, ela se hospeda na cidade, os participantes deste evento se alimentam no entorno, muitas vezes compram uma roupa para ir no ‘look da festa’. Todos os eventos têm um potencial de desenvolvimento econômico para a cidade.

Em 2019, Belo Horizonte ganhou o título de Cidade Criativa da Gastronomia pela Unesco. No âmbito da Belotur, como isso pode impactar a cidade? 
Desde que a cidade ganhou este título de Cidade Criativa, estamos redobrando os cuidados com relação à gastronomia dentro dos eventos que realizamos, pois precisamos que o título esteja espelhado nos eventos. No Carnaval em 2020, tivemos algumas ‘ilhas gastronômicas’ espalhadas na cidade. No caso do Arraial de Belo Horizonte, estamos estruturando o que a gente chama de Vila Gastronômica, que vai oferecer muito mais do que uma comida mais ágil, que é o que se espera para um evento de grande porte, onde as pessoas muitas vezes nem se sentam para comer. A Vila Gastronômica faz parte de uma ação de marketing feita conjuntamente com as universidades. Assim, antes do evento na Praça da Estação, já teremos uma movimentação, fazemos uma seletiva em que as universidades apresentam o melhor prato junino que é comercializado pelos próprios alunos. É muito interessante; a gente proporciona aos alunos estarem dentro de um evento do tamanho do arraial, cozinhando aquilo que eles criam junto das universidades, pratos que têm um requinte e que se adequam a uma série de critérios. Estamos tentando sempre trabalhar essa gastronomia como um pilar mesmo do evento, e não penas como um serviço.

A Belotur está retomando o calendário de eventos. O que o público pode esperar para o ano que vem?
A certeza é que vamos voltar a fomentar a nossa cidade para que ela pulse arte, cultura, vida, em parques, ruas e praças. É um desafio grande; estava todo mundo muito triste, temos muito luto mesmo, mas e stá na hora de levantar a cabeça e ir em frente. A partir do Arraial de Belo Horizonte, a gente vai ter uma sequência de atividades que já eram realizadas antes da pandemia, que era a Parada LGBT, Sete de Setembro, enfim, teremos muitos outros e muita coisa até dezembro.

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