A baixa adesão à consulta pública sobre o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) levou o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) a prorrogar o prazo para que candidatos opinem sobre as mudanças nas provas. A pesquisa iria até amanhã, mas foi estendida até 17 de fevereiro. Até o último dia 2, cerca de 225 mil pessoas responderam às perguntas na plataforma digital. O número está bem aquém das quase 5,9 milhões que fizeram os testes no ano passado.
Aplicação das provas em apenas um dia e o uso de computador são as alterações propostas pelo governo. A previsão é a de que as mudanças sejam colocadas em prática ainda em 2017. Porém, a participação de poucos candidatos na pesquisa pode indicar que os alunos estão bastante descrentes se a opinião deles será levada em conta.
Por meio da assessoria, o Inep informou que só comentará o assunto após concluída a consulta pública
Foi o que pesou na decisão da estudante Gabriela Fagundes, de 19 anos, de não se manifestar no processo. Ela lembra que a União recebeu muitas críticas por ter apresentado o projeto de reforma do ensino médio, no ano passado, sem ter ouvido os alunos. “Parece que a consulta pública sobre o Enem é para tentar amenizar a situação. Acredito que as considerações serão ouvidas até certo ponto, mas ainda não sei até onde”.
Sem saber se as mudanças propostas serão benéficas, o estudante Cristiano Vaz, de 28 anos, do pré-vestibular Bernoulli, também não se interessou em participar da pesquisa. “O método das provas atuais é complicado, são questões extensas para se fazer em pouco tempo. Mas mudar assusta e traz incerteza aos alunos, que ficam com receio de opinar e não serem ouvidos”.
Cultural
Diretor de Ensino do Colégio Bernoulli, Rommel Fagundes afirma que o Ministério da Educação (MEC) está fazendo o que é necessário, abrindo para os alunos, os principais interessados no Enem, opinarem sobre o assunto. “Porém, é da nossa cultura, infelizmente, as pessoas acharem que não irá adiantar se envolver no processo. Elas acreditam que, no fim das contas, o governo irá fazer o que quiser. Mas não vejo que seja por aí. É preciso participar já que existe essa abertura”, afirma.
Essa também é a avaliação do professor José Francisco Soares, da UFMG, ex-presidente do Inep. “Política pública tem que ser definida ouvindo as pessoas. É preciso levar em consideração tanto quem tem algo para falar, como quem está nas universidades e nas diferentes organizações sociais, quanto quem vai sofrer as consequências dessas mudanças, e nós não temos essa tradição (de ouvir) no Brasil”, pontua.
*Colaborou Malú Damázio