Literatura

'Ser escritor profissional é quase impossível no Brasil', diz professora ganhadora do Jabuti

Ana Elisa Ribeiro, do Cefet-MG, conquistou a estatueta de melhor livro de Literatura Juvenil por “Romieta & Julieu – Tecnotragédia Amorosa”

Da Redação*
portal@hojeemdia.com.br
Publicado em 16/03/2023 às 09:55.
Ana Elisa: "escrever exige tempo. E tempo é um artigo escasso. Conseguir tempo contínuo para escrever cem, duzentas páginas, com coerência e inventividade, é uma batalha enorme" (Arquivo pessoal)

Ana Elisa: "escrever exige tempo. E tempo é um artigo escasso. Conseguir tempo contínuo para escrever cem, duzentas páginas, com coerência e inventividade, é uma batalha enorme" (Arquivo pessoal)

O desafio de transformar os brasileiros em leitores contumazes, consumidores de livros, é enorme. A avaliação é da professora do Departamento de Linguagem e Tecnologia (Deltec) do Cefet-MG Ana Elisa Ribeiro, que recentemente conquistou a estatueta de melhor livro de Literatura Juvenil na 64ª edição do Prêmio Jabuti. 

O concurso teve 4,2 mil trabalhos inscritos. Ana Elisa conseguiu o maior reconhecimento da literatura nacional em 2022, com “Romieta & Julieu – Tecnotragédia Amorosa”. A obra, publicada pela editora mineira RHJ, faz alusão à famosa história de Shakespeare, especialmente sobre um detalhe: a falha de comunicação, uma mensagem que não chegou e que separou o casal apaixonado para sempre. 

Com uma linguagem contemporânea e própria dos meios digitais, o livro se conecta à nova geração de leitores e foi aprovado, inclusive, para o Plano Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD), do Ministério da Educação. 

Apaixonada pelas palavras e pela leitura, a professora Ana Elisa reforça que ser escritor profissional no Brasil é "quase impossível". Em entrevista à equipe de comunicação do Cefet, ela falou sobre as dificuldades do ofício da escrita e dos significados do prêmio. Confira:

Quando e como surgiu o interesse pela escrita? 
Ana Elisa: Não me conheço de outro jeito. O interesse por ler me aconteceu desde bem criança. Eu simplesmente gostava de ouvir pessoas lendo histórias, gostava das narrativas, gostava do som que tinham os poemas, as rimas, as palavras, gostava de olhar livros, achava isso prazeroso. Gostava de palavra, de me surpreender com elas, de saber sentidos novos. Foi assim por toda a vida e eu, a certa altura, levei isso a sério, descobri que existia um caminho, tortuoso, mas estava lá. 

Quais os desafios de escrever e publicar no Brasil? 
Ana Elisa: Em qualquer parte do mundo isso é difícil. Ser escritor ou escritora profissional, isto é, viver disso é quase impossível. No Brasil, temos ainda muito chão para transformar as pessoas em leitoras contumazes, consumidoras de livros, não apenas porque temos questões a resolver na educação, mas principalmente porque essas questões também são sociais e econômicas. Somos ainda imaturos, é difícil formar leitores, mas também o é recrutar escritores. Escrever exige tempo. E tempo é um artigo escasso. Conseguir tempo contínuo para escrever cem, duzentas páginas, com coerência e inventividade, é uma batalha enorme. Depois, outra batalha para que isso seja valorizado, lido, levado a sério, publicado, distribuído.

O que esse prêmio representa para você?
Ana Elisa: Uma alegria imensa, uma honra grande, resultado não linear nem garantido de um esforço enorme que venho fazendo por mais da metade da minha vida. Só que não para aqui. Preciso continuar fazendo, sem adoecer, sem desistir, sem ceder a tudo o que vem na contramão. E não apenas com os olhos em premiações (embora elas sejam bem-vindas, claro), mas com o sentido da paixão que isso geralmente significa para quem faz. 

De que forma o Cefet-MG contribui, ou contribuiu, para a sua formação?
AE: O Cefet-MG valoriza a formação dos servidores, incentiva que estudemos, que nos aperfeiçoemos. Quando cheguei a casa, eu já era escritora fazia tempo, já tinha vários livros publicados etc. Aqui conheci algumas pessoas, em especial depois da existência do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagens (Posling), com as quais fiz parcerias ótimas que geraram livros, tanto técnicos quanto literários. Eu nunca tive uma professora escritora quando estive no ensino médio! Teria sido fantástico, principalmente porque isso sempre me encantou. Acho que coisas assim precisam ser sempre valorizadas e respeitadas. À medida que fazemos coisas legais que são reconhecidas socialmente, trocamos valor com a Instituição. O Cefet-MG tem valorizado esse reconhecimento.

* Com informações da Coordenação de Jornalismo e Conteúdo do Cefet-MG

Leia mais:

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por