Efeito da greve dos caminhoneiros é três vezes pior que o do período chuvoso

Evaldo Magalhães
efonseca@hojeemcia.com.br
30/05/2018 às 19:29.
Atualizado em 03/11/2021 às 03:21
 (Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

No décimo dia de greve nacional dos caminhoneiros, ontem, chegou a 205 o total de municípios de Minas Gerais que decretaram estado de emergência (183) ou calamidade pública (22) em razão do desabastecimento de produtos essenciais e do comprometimento dos serviços públicos. 


O número, que representa 24% das 853 cidades mineiras, foi divulgado no boletim diário da Defesa Civil do Estado. Em todo o período chuvoso de 2017/2018, o órgão contabilizou menos de um terço disso: 64 cidades decretaram emergência ou calamidade por razões meteorológicas, sendo que oito já não estão mais nessa situação. 

De acordo com o Gabinete Militar do governo mineiro, como não há classificação para a Defesa Civil de calamidade pública em razão de desabastecimento, em termos burocráticos não há diferença entre os dois tipos de decreto. Na prática, para todos esses municípios, os documentos têm o objetivo de facilitar os trâmites no pedido de ajuda ao Estado ou na requisição de produtos que estão em falta, caso de combustíveis armazenados em postos, por exemplo.

Observatório 
Também a Confederação Nacional dos Municípios (CNM) divulgou, ontem, um estudo intitulado “Observatório da crise de abastecimento nos municípios”, mostrando, em forma de mapas, a situação enfrentada por parte das mais de 5,5 mil prefeituras brasileiras em razão da greve dos caminhoneiros. Em Minas, segundo o levantamento, cerca de 60% (120) dos 220 municípios que enviaram respostas à entidade decretaram estado de emergência ou de calamidade por causa da paralisação.

O mapa, que coletou dados a partir de sexta-feira, 25 de maio, mostrava ainda que cerca de 170 cidades mineiras acusavam falta total ou parcial de combustíveis. Em 200, ou quase a totalidade, havia deficiência em graus variados na oferta de serviços públicos em áreas como saúde, educação, fornecimento de merenda, transporte, coleta de lixo e segurança. Também 40 prefeituras informaram ter movido ações judiciais pedindo apoio policial para garantir abastecimento de produtos essenciais. 

O presidente da Associação Mineira de Municípios (AMM), Julvan Lacerda, prefeito de Moema (MG), informou que a entidade estadual estava dando integral apoio à CNM na produção do mapa, fazendo a intermediação na coleta de dados. Para Lacerda, a situação era, de fato, dramática. “O problema crucial é que 90% dos serviços essenciais oferecidos pelas prefeituras dependem de combustível. Como os caminhões com o produto deixaram de chegar, após a paralisação dos motoristas, houve casos de colapso”, afirmou. 

No caso de Moema, no Centro-Oeste de Minas, Lacerda informa que não chegou a decretar emergência porque, na sexta-feira, prevendo os riscos de desabastecimento, notificou os donos de postos da cidade para que priorizassem a venda de combustíveis à prefeitura. “Eles fizeram isso e conseguimos manter as atividades. Agora, nossa expectativa é a de que a situação comece logo a se normalizar”.

Caos
Já em Boa Esperança, no Sul de Minas, a situação, ontem, estava à beira do caos. Segundo o secretário de Administração e Comunicação da cidade, Edson de Oliveira, a prefeitura decretou emergência em razão de um grave quadro de desabastecimento. “Não temos combustíveis, gás de cozinha, papel higiênico e faltam também alimentos, tanto para os serviços públicos quanto para a população”, disse. “Hoje, por exemplo, recebemos um caminhão de gás, mas só com 80 botijões, sendo que a população é de 40 mil habitantes”, completou. 

Oliveira relatou que integrantes de um comitê de gestão da crise, montado pelas autoridades municipais e estaduais da cidade, chegou a negociar com sucesso a liberação do trevo da BR-365, acesso ao município. Ontem, porém, havia rumores de que o bloqueio poderia ser reativado. “Torcemos para que seja apenas boato”, afirmou.Editoria de Arte

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