Estudo revela quais carreiras mais impactam a saúde mental e exigem atenção das empresas
Com recorde de afastamentos por transtornos psicológicos, NR-1 reforça responsabilidade patronal sobre riscos psicossociais no ambiente de trabalho
O Brasil registrou mais de 470 mil afastamentos do trabalho motivados por transtornos como ansiedade, depressão e burnout no ano passado. Segundo dados do Ministério da Previdência social, 68% mais em relação a 2023 e um recorde na última década. Entre os motivos, carga excessiva de trabalho e pressão por metas.
Uma série de estudos internacionais, incluindo levantamentos do LinkedIn e da revista Health, apontam gerentes de projeto, médicos, professores, motoristas de aplicativos, assistentes sociais e cuidadores são algumas das funções com maior índice de burnout, causados por pressão constante, ausência de suporte emocional e acúmulo de responsabilidades.
A lista inclui ainda áreas como segurança pública, imprensa, aviação e serviços financeiros, onde o peso emocional, a jornada intensa e a necessidade de decisões sob pressão criam um ambiente altamente propício a transtornos mentais.
Riscos psicossociais afetam quase todas as áreas
Segundo Michel Cabral, CEO da Vixting, HR & Health Tech com 15 anos de atuação em saúde ocupacional, é preciso entender que os riscos psicossociais não afetam apenas os setores historicamente vulneráveis, como saúde e educação.
“Estamos vendo gestores, profissionais de tecnologia e líderes de projeto enfrentando níveis altíssimos de estresse e ansiedade. O problema é mais sistêmico do que se imaginava”, afirma.
E mesmo em funções administrativas consideradas “mais leves”, como apoio técnico, controladoria e atendimento ao cliente, diz ele, o risco se mantém alto. “Esses profissionais estão na linha de frente, mas muitas vezes sem respaldo ou reconhecimento. Isso fragiliza o vínculo com o trabalho e leva à exaustão silenciosa”, diz Cabral.
Levantamento global do Fórum Econômico Mundial, realizado com apoio da Fundação Dom Cabral, indica que funções operacionais e administrativas - como secretárias, atendentes, operadores de telemarketing e contadores figuram entre as profissões com maior risco de esgotamento emocional, agravado pela rotina repetitiva, pressão por metas e baixa autonomia.
Nova regulamentação exige atenção das empresas
Os dados do Ministério da Previdência Social trazem um alerta em empresas, governo e especialistas. E pressionam o setor corporativo a repensar políticas de saúde ocupacional e bem-estar dos trabalhadores.
Uma das esperanças de mudança no cenário é a atualização da NR-1. Base de todas as normas de segurança e saúde no trabalho no Brasil, estabelecendo diretrizes gerais para garantir um ambiente de trabalho seguro e saudável, a norma agora incluiu a importância de identificar e gerenciar os riscos psicossociais no ambiente de trabalho. Na prática, a partir deste mês as empresas têm que provar medidas internas para garantir a saúde mental dos colaboradores.
Pela primeira vez, a norma inclui de forma explícita os riscos psicossociais, como metas abusivas, assédio, conflitos interpessoais e sobrecarga de trabalho, como passíveis de fiscalização, exigindo planos de ação corretivos e possibilidade de multas.
“A NR-1 cria uma virada de chave. A saúde mental agora faz parte das obrigações legais das empresas. Não é apenas uma pauta de benefícios ou ESG. É uma exigência técnica, com impacto jurídico, financeiro e social”, ressalta o gestor da Vixting
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