EMPREGO E CARREIRAS

Tecnologia é um dos setores que mais sofrem sem mão de obra qualificada

Izamara Arcanjo
Especial para o Hoje em Dia
Publicado em 28/03/2022 às 16:16.

Numa ponta, 13,9 milhões de desempregados. Na outra, a falta de mão de obra qualificada para preencher vagas abertas em várias áreas, em especial no setor de tecnologia. A conta não fecha, e preocupa quem precisa contratar.

Pesquisa feita pela consultoria de Recursos Humanos Robert Half mostra que, enquanto a taxa de desocupação no país está em 13,7%, o índice entre a população qualificada acima de 25 anos e com ensino superior completo é menor que 6%.

O mesmo levantamento ainda aponta que 66% dos profissionais responsáveis pelo recrutamento nas empresas acreditam que contratar profissionais qualificados atualmente está difícil ou muito difícil. Desses, 42% afirmam ter vagas abertas por não conseguirem profissionais adequados para as funções disponíveis. 

“A situação não está fácil para os recrutadores, pois quanto mais vão subindo as cadeiras dentro das companhias, mais dificuldades temos em contratar”, diz a Gerente Operacional da Robert Half em Minas Gerais, Érika Moraes. 

Quando o assunto é carreira, um outro aspecto tem chamado a atenção: somente no setor de TI, 530 mil vagas de trabalho serão criadas no Brasil até 2025, e não serão preenchidas, de acordo com Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom). 

O coordenador do Núcleo de Carreiras das Faculdades Promove e Kennedy, Alisson Veloso Cunha, descreve que as profissões de TI abarcam o trabalho ligado aos desenvolvedores de software e hardware, engenheiros de redes, software e telecomunicações, segurança da informação e privacidade de dados, além de cientistas de dados. Segundo ele, hoje, o setor tem mais vagas sendo ofertadas na área de TI, do que candidatos. 

“Nas Faculdades Promove e Kennedy oferecemos os cursos de Sistema de Informação, Redes de Computadores e Sistemas de Internet. Nossos alunos estão todos empregados ou fazendo estágio. Mas tenho, hoje, 30 vagas na área que não consigo preencher”, ressalta. 

Atento às oportunidades do mercado, o jovem Lucas Garcia Ferreira, de 20 anos, abandonou os três períodos do curso de Ciência Biológicas que cursava na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), para se dedicar à Ciência da Computação na mesma instituição. Lucas conta que ama Biologia, mas sentia que não teria muitas oportunidades de atuação para trabalhar com pesquisa e inovação no antigo curso. 

“Percebia que os colegas que se formavam acabavam atuando com a licenciatura. Apesar de ter um pouco de dificuldades com a área de Exatas, resolvi investir tendo em vista as oportunidades à nossa disposição”, diz.

Agora no primeiro período do novo curso, Lucas diz estar feliz com a escolha. Para ele, o curso não é fácil, mas demanda criatividade e pode “realmente impactar” a vida das pessoas, abrindo um universo de possibilidades. “Penso, inclusive, em fazer pós-graduação em Biotecnologia, área que alia a Biologia, que tanto gosto, com o setor de tecnologia”. 

Estratégia do mercado é oferecer treinamento
Uma forma de solucionar a equação “falta de empregos e sobra de vagas” – e que tem sido adotada como estratégia pelas empresas – é oferecer altos salários aliados a treinamentos para os candidatos, priorizando a educação voltada para tecnologia e inovação.

As companhias de grande porte foram as que mais passaram a qualificar seus funcionários depois da pandemia. Nelas, os fatores que levam à adoção de práticas de aperfeiçoamento e reciclagem são a cultura da empresa (59,13%); mudanças organizacionais (56,9%); e a necessidade de treinar funcionários em novas tecnologias (49,57%). 

“Não importa a área, as pessoas precisam se capacitar para estar bem-posicionadas no mercado de trabalho. O que aconteceu foi que, a partir da crise econômica de 2015, as empresas deixaram de investir em qualificação, o que foi um erro e reflete a situação em que estamos hoje”, afirma Érika Moraes, da Consultoria Robert Half.

A recrutadora aponta ainda um outro gargalo quando o assunto é a seleção de profissionais: quanto mais especificações técnicas e comportamentais, mais complexa é a escolha do candidato e, de acordo com Flávia, as empresas estão valorizando muito as chamadas “soft skills” (habilidades interpessoais).

“Muitas vezes encontramos profissionais extremamente qualificados, mas com um viés comportamental ruim”, diz Moraes. Ela relaciona algumas das competências mais buscadas pelas empresas e que os profissionais precisam desenvolver, entre elas: assertividade, inteligência para o trabalho em equipe, visão estratégica, visão de negócios, comunicação eficiente e capacidade de adaptação. E conclui: “somos os responsáveis pela nossa carreira e hoje temos muitas referências produtivas na internet”.

Leia mais:

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por