Endividamento recorde: famílias de menor renda têm recorrido mais ao crédito após a pandemia

Marciano Menezes
mmenezes@hojeemdia.com.br
19/06/2020 às 08:19.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:48
 (Reprodução / Internet)

(Reprodução / Internet)

O endividamento das famílias atingiu 67,1% neste mês, o maior patamar da série histórica da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), iniciada em janeiro de 2010. O maior índice, até então, havia sido registrado em abril deste ano (66,6%). O indicador teve alta de 0,6 ponto percentual na comparação com maio e 3,1 pontos percentuais no ano. 

A alta no endividamento se deve à necessidade que as famílias com ganhos de até dez salários mínimos estão tendo de recorrer ao crédito, neste momento de pandemia, para recompor a renda, pagar dívidas e até manter um nível de consumo. 

É o caso de A.C.M, que vendia marmitex para sobreviver, mas com a retração no comércio com a pandemia de Covid, foi obrigada a recorrer ao cartão para as compras do dia a dia e para quitar as dívidas. “Usava o cartão para tudo. Foi embolando até eu não conseguir pagar mais”, conta. 

Já as famílias que ganham acima deste teto estão fazendo mais economia neste momento de crise, principalmente para fazer frente a uma eventual necessidade futura.

Para se ter uma ideia, o percentual de endividamento para as famílias com renda de até dez mínimos cresceu de 67,4% em maio para 68,2% neste mês. Já para as que têm ganhos acima desse patamar, o índice recuou de 61,3% para 60,7%, respectivamente.

“No caso das famílias com renda até dez salários, o maior endividamento está justamente associado às necessidades que estão tendo por crédito, justamente para poder manter as contas pagas, manter aí algum nível de consumo, principalmente de produtos considerados essenciais. Então, o que está motivando este aumento agora, mais recente, a partir da crise, é mais uma necessidade de recomposição de renda do que do consumo dos produtos mais dependentes do crédito em si”, salienta a economista da CNC, Izis Janote Ferreira, coordenadora da pesquisa.

Por outro lado, devido às incertezas impostas pela pandemia, a economista avalia que as pessoas com renda acima de dez mínimos têm tido mais propensão à poupança. “Em função das incertezas que a crise está impondo para recuperação da economia e para a própria evolução da renda, esse grupo de pessoas está poupando mais para fazer frente aí a algum tipo de necessidade futura. Por isso, as trajetórias das curvas estão em sentidos diferentes”, explica.

Apesar de um ligeiro recuo em relação a junho de 2019, o nível de endividamento com cartão de crédito neste mês continua na liderança, com 76,1%, seguido de longe por carnês (17,4%), financiamento de carro (11,7%), financiamento de casa (10,1%), crédito pessoal (9,3%), crédito consignado (8,3%) e cheque especial (6,2%).

O número de famílias com dívidas ou contas em atraso atingiu 25,4% em junho, também o maior nível desde dezembro de 2017. Já as que declararam que não têm condições de pagar os débitos em atraso, permanecendo inadimplentes, alcançou 11,6%, o maior patamar desde novembro de 2012.Clique para ampliar

  

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