
Quando a gente faz coisas legais como ler um livro, abraçar um amigo, tomar um sorvete, a gente vira criança e quase flutua... Não queremos que ninguém bote pesos nos nossos pés ou nos amarre no chão. Então, vamos rir, sentir perfume de nuvem e deixar a leveza nos levar! Porque todos nós temos o direito de flutuar”. O recado claro e convidativo é da autora Rosana Rios, que acaba de lançar “Flutuantes”, editora DCL.
O título, com ilustrações delicadas e encantadoras de Ianah Maia, reúne uma história que facilmente poderia ser transformada em curta-metragem. E olha que as ilustrações de Ianah ficaram conhecidas depois que seu curta-metragem “A festa de Isaac” (2011) participou do festival Anima Mundi 2012. O filme mescla técnica de animação digital com vídeo e foi realizado como videoclipe para “A Banda de Joseph Tourton” durante a conclusão do curso de Cinema de Animação que Ianah fez pela Aeso, de Recife.
Ela conta que usou a técnica de aquarela com lápis grafite para deixar o livro “Flutuantes” bem colorido. “Procurei não fixar numa paleta só nesta coisa da relação do preto e branco do lápis (grafite) e do colorido da aquarela”.
Processo
Ianah acrescenta que, quando recebeu a proposta para ilustrar o título de Rosana Rios, estava numa fase bem leve, morando em Buenos Aires, onde fazia o curso de ilustração infantil. “Foi a oportunidade de por em prática o que havia aprendido”.
Para Ianah, o livro (primeiro que ela ilustra) fala sobre felicidade. “A felicidade que te faz flutuar, se soltar. Quanto ao colorido, ele remete a isso. Todos os personagens estão flutuando ou estão prestes a flutuar ou, pelo menos, aceitando um pouquinho dessa alegria. É o caso do vice-prefeito. Ele está na sala conversando com a prefeita e tem as bochechinhas rosadas. O vice-prefeito tem o tanto de alegria que cada personagem se permite ter. O preto e o branco são dos (personagens) que ainda estão duros, presos na seriedade”.
Pés fora do chão
Na narrativa de Rosana Rios, crianças de uma pequena cidade passaram a se sentir leves, como plumas, balões, folhas ao vento e, de repente, começaram a flutuar. Sem que ninguém percebesse, aconteceu com Thaiana. A garotinha abriu um sorriso, assim, sem um motivo específico, só por se sentir feliz, e seus pés foram saindo do chão.
“Desde que eu era criança, sonho que posso flutuar. É um sonho recorrente. Voo sobre minha cidade, São Paulo, vejo praças e ruas lá embaixo. Adoro esses sonhos! Mas não tinha pensado em escrever sobre isso, apesar de ser escritora há quase 30 anos e de ter publicado quase 150 livros”, confessa a autora, que teve a ideia de escrever “Flutuantes” depois de presenciar uma cena corriqueira numa rua de Munique. “Vi uma mãe levando um menininho pelo braço; parecia que ela estava com pressa...Fiquei imaginando se a criança começasse a flutuar, a mãe nem iria ver. No mundo inteiro, as mães estão sempre com pressa com seus filhos”.
Rosana estava se referindo à mãe de Matheus (personagens do livro). O menino, com passinho miúdo, tentava alcançar a genitora sempre apressada. “Era cansativo ser puxado daquele jeito. Mas a risada marota de Thaiana desceu da árvore e pousou sobre Matheus. Ele sorriu. O riso o contagiou, encheu-lhe os pulmões, seu coração de pequeno. Saltou... E flutuou. A mãe, cabeça cheia de preocupações, custou a perceber que o filho estava leve demais... É que ele boiava feito um balão de ar! Flutuava”.
“As crianças levam uma vida tão corrida, um monte de coisa pra fazer, aula disso, aula daquilo. Não têm tempo de deixar a imaginação se soltar”, lamenta a autora, que torce para que a meninada solte a imaginação – e possa flutuar, como no livro.