A violência contra a mulher revolta e inspira a artista Beth Moysés

Patrícia Cassese - Hoje em Dia
25/11/2014 às 07:30.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:09
 (Divulgação)

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Ficar estanque, inerte numa zona de conforto, é algo impensável para a artista plástica paulista Beth Moysés. “Vou dando os meus passos – às vezes mais largos, as vezes mais curtos – para que tentar fazer com que as pessoas busquem a reflexão. Acredito que a arte tenha esse poder. Para que possamos dar início a uma mudança”, clama, com um tom de voz quase urgente, e absolutamente coerente com o trabalho que a traz à capital mineira a partir desta terça-feira (25), e que se coaduna com uma data especialíssima: 25 de novembro é o dia mundial de combate à violência contra a mulher.

A arte de Beth Moysés entra nesta história com a apresentação, nesta terça, a partir das 18h30, na Praça da Savassi, da performance “Reconstruindo Sonhos”, bem como com a exposição “Desbordando Corpos”, de fotografias, que fica aberta à visitação na Galeria Murilo Castro (rua Antônio de Albuquerque, 377, sl. 1, Savassi), até 20 de dezembro. Se São Pedro ajudar, na performance desta terça, 60 “noivas”, simbolizando mulheres que sofreram violência doméstica, irão caminhar silenciosamente pela Savassi, levando luvas brancas transparentes nas mãos.

Após a caminhada, irão se sentar, em círculo, em uma das fontes da Praça, e, com agulha e linha preta, bordar as luvas transparentes, como se fossem a própria pele, copiando as linhas das mãos, como se cada ponto negro do bordado fosse uma lembrança.

Ao tirar as luvas bordadas, elas sentem, de forma simbólica, como se tivessem descascado a própria pele – retirado a pele velha, para nascer uma nova. Todo o processo é filmado e fotografado pela artista. “Reconstruindo Sonhos” foi realizada pela primeira vez em novembro de 2000, em São Paulo.

Desde então já passou por algumas cidades do Brasil e em Montevidéu, no Uruguai; Cácere e Las Palmas de Gran Canária, na Espanha, entre outros pontos do globo.

“A noiva é sempre uma figura impactante. Já usei (nesta performance) outros tipos de vestidos, alguns costurados, como se mulheres ficassem presas; ou unidos por um nó, que é desfeito. Aliás, a mostra na Murilo Castro traz um vídeo (que não é simplesmente um registro) no qual vemos as mulheres desfazendo esses nós”.

E qual o motivo de Beth ter se interessado pelo tema violência contra a mulher? “Tive uma infância bastante difícil com meu pai e minha mãe, e como a minha forma de me expressar é pela arte, meu trabalho meio que me sana um pouco e quero que sane a vida de outras mulheres. Sempre percebo o resultado (da ação), mesmo que seja em apenas uma mulher. As mulheres que participam da performance são importantes, já que não só contribuem – trazendo elementos novos – como são solidárias umas a outras, e criam essa energia que emana ao mundo. Todas juntas, passam a vibrar, e essa energia se expande, chegando a vários lugares”, pontua.

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