Abre-alas do rap nacional, ‘Sobrevivendo no Inferno’, dos Racionais MCs, completa 20 anos

Lucas Buzatti
lbuzatti@hojeemdia.com.br
15/12/2017 às 17:30.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:16
 (Klaus Mitteldorf/Divulgação)

(Klaus Mitteldorf/Divulgação)

O momento em que os Racionais MCs subiram ao palco do Video Music Brasil, premiação da MTV, em 1998, talvez seja um dos mais importantes da história recente da música brasileira. Quando o beat de “Capítulo 4, Versículo 3” começou a martelar as caixas, Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e KL Jay ganharam o mainstream e inverteram o curso do rap nacional. Aquele era apenas um dos primeiros desdobramentos de “Sobrevivendo no Inferno”, lançado no fim do ano anterior e que completa, neste mês, duas décadas.

Terceiro trabalho do grupo, que à época já somava 10 anos de trajetória, o álbum retrata o cotidiano violento das periferias de São Paulo, seja nas crônicas elaboradas de Brown ou nas letras diretas de Edi Rock. Na capa, o contraste de uma cruz dourada num fundo preto: dicotomia entre religião e violência, realidade e esperança, que se repete em todo o disco.

Se o ouvinte se arrepiava com o cotidiano sombrio do Complexo do Carandiru em “Diário de um Detento” – um dos primeiros clipes de rap a estourarem na MTV – em “Fórmula Mágica da Paz” se emocionava com a possibilidade da mudança. “Eu vou procurar, sei que vou encontrar / Eu vou procurar / Você não bota uma fé / Mas eu vou atrás”, dizia o refrão, que acertou em cheio jovens como Pedro Valentim, jornalista e integrante da Família de Rua, que começava a ouvir rap e andar de skate naquele mesmo ano.

“É a minha música preferida dos Racionais. Uma canção longa, de 10 minutos, que traz essa perspectiva da esperança, algo que não era tão comum nos registros do rap daquele momento”, relembra. “Eles eram cronistas da vida real, que retratavam o que acontecia à sua volta. Essa capacidade de observação e escrita colocou o rap em pé de igualdade com outros estilos musicais”, defende. 

Valentim lembra, ainda, a mistura de referências que norteia a sonoridade do disco. “Os caras sempre tiveram uma relação intensa com o funk e o soul dos anos 70, mas também com a música brasileira, com Tim Maia, Jorge Ben”, diz. “Tem também samples de artistas como Sade, o que mostra que eles já estavam muito antenados musicalmente”, afirma, ressaltando que as referências levaram os fãs a ampliarem seus leques de influências.

Para ele o álbum foi um abre-alas do rap nacional, cuja representatividade apresentou ao jovem de periferia novas possibilidades. “Foi um norte para quem queria fazer rap e não acreditava que poderia. Ali, os Racionais mostraram que era possível”. 

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