Advogada Paola Pizzano largou o escritório para se realizar na cozinha

Eduardo Avelar
15/11/2015 às 11:09.
Atualizado em 17/11/2021 às 02:29
 (Divulgação)

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A vida é uma só. E é essa que está passando nesse momento. Se a gente não fizer nada para transformar o nosso mundo – interior e exterior – ela também não vai fazer isso por nós. Devemos olhar em volta e perceber o que realmente importa. O que te faz feliz, o que te move, e o principal: o que te faz querer sair da cama todas as manhãs. A vida passa, muitas vezes, sem você se dar conta e sem querer lembrar que, no fundo, sabe que a vida poderia ter sido bem melhor e do seu jeito.

Uma menina tinha o sonho de viajar pelo mundo. Mas era muito jovem para sair por aí. Depois de se formar em Direito, sentiu que já mandava na história e fez seu pé de meia para poder realizar aquele sonho de infância. A história que inspira é da curitibana Paola Pizzano, 29, que decidiu largar o escritório e cair na estrada de forma surpreendente.

28 países em seis meses

“Foi mais fácil tomar a decisão de largar o escritório do que fazer o roteiro da viagem”, relembra Pizzano, que teve um saldo positivo após a experiência: 28 países em seis meses. Com o sonho de viajar o mundo, também havia o desejo de fazer algum curso de gastronomia e, em março de 2011, em viagem ao exterior voltou, com a ideia mais fixa na cabeça.


“Decidi ‘mochilar’ - que também pode ser entendido como dar o primeiro passo. Parece que tem um efeito mágico que nos faz colocar na mochila todos os nossos sonhos adormecidos. Aprender a cozinhar e viajar sempre foram os primeiros da lista”, destaca.

Durante a viagem, não encontrou nenhum curso que coubesse no curto orçamento de mochileira. Foi na volta para o Brasil que se matriculou no curso de cozinheiro do Senac, em Curitiba, cidade natal. “Sem perder tempo, em poucas semanas já estava trabalhando em cozinhas de todo lugar na minha cidade. Não havia dúvidas de que eu havia me encontrado”. E a transição da advocacia para a gastronomia? “Foi tão natural, nem vi. Nunca mais consegui sair desse universo apaixonante da gastronomia”, revela.

Paola terminou o segundo curso (confeitaria) e a vontade de viajar veio com tudo. Segundo ela, o desejo de viajar sempre esteve presente, só esperando a “bendita oportunidade”. Em 2013, a jovem largou o café onde trabalhava e “se mandou” com os amigos.

“Antes de ir, já busquei restaurantes em Lima, no Peru, o último destino da viagem, que pudessem me trazer uma boa experiência profissional, já que ali é um destino gastronômico de peso. Foi então que me apaixonei pelo Astrid & Gastón. Mandei e-mails e não recebi nenhuma resposta. Quando coloquei a mochila nas costas, disse pra minha mãe que era pra ela se preparar que a viagem poderia durar mais que 16 dias, porque eu ia tentar trabalhar lá de algum jeito”, descreve a jovem.

Dito e feito

No primeiro dia em Lima, a jovem bateu na porta do mais conceituado restaurante peruano e, como ela mesma diz: “Dei a maior sorte”. Naquele dia o dono da casa, o chef executivo Diego Muñoz, estava lá.

“Entreguei meu currículo e arranhei um portunhol horrível. Estava saindo de lá quando pensei que não havia tentado o máximo. Virei e falei tudo que eu tinha lido a respeito do restaurante, do chef, da equipe, do meu amor e da curiosidade pela gastronomia peruana. Saí de lá com a minha consciência tranquila de que fiz tudo que podia”, relembra.
Como a passagem de volta era pra dois dias depois, Pizzano estava disposta a esperar o contato do restaurante, nem que tivesse que perder a passagem.

“Fui aceita no Astrid & Gastón! – A minha ideia era ficar um mês fazendo estágio e planejei meu orçamento pra isso, mas para fazer o estágio, o chef Diego me disse naquele primeiro contato que eu teria que ficar 3 meses. Topei na hora. Daria um jeito”. E deu! Pizzano resolveu encarar mais um desafio: ajudar por algumas horas por semana no bar do hostel em troca de hospedagem e café da manhã.

De acordo com Paola, ela diminuiu o gasto da viagem e, com essa experiência, aprendeu a fazer todos os drinks peruanos que o hostel oferecia, ensinava drinks brasileiros e ainda aprontava na cozinha, que era junto ao bar.
“Logo estava aprendendo pratos peruanos com o chef do hostel e criando meus pratos para os hóspedes que agora pagavam pra comer e beber o que eu fazia. Assim, conheci pessoas de muitos lugares do planeta com as mais incríveis histórias de vida e ainda aprendi vários idiomas”.

“E o meu objetivo principal estava sendo cumprido. Estava estagiando no melhor restaurante do país e me apaixonando mais passei por todas as praças da cozinha. Conheci uma lista imensa de novos ingredientes e técnicas. Colecionei desafios e alegrias. Cozinhei feijoada e brigadeiro para os 70 funcionários do restaurante. Fiz o prato do Príncipe da Dinamarca. Fiz um ceviche que iria sair para alguma revista. E recebi o convite para ser contratada e fazer parte da equipe menos de um mês após minha chegada”.
Como os planos eram outros, a jovem voltou ao Brasil, mas não deixou Lima de mãos abanando. “Saí de lá com uma recomendação profissional que me fez chorar vindo de profissionais excelentes, e além de tudo, o povo mais generoso e gentil que conheci”.


Aprendizados gastronômicos e vivência de uma viagem sem fim

Já no Brasil, Pizzano estava determinada a trabalhar em cruzeiros. “Recebi a data de embarque para trabalhar no navio, seria em janeiro de 2014. Era o mês de agosto. Já comecei a mandar meu currículo para Florianópolis, queria fazer estágio lá e ficar perto do mar. E mandei um pra São Paulo”.

“Estava tudo certo para ir para a praia, mas o e-mail de São Paulo foi imbatível”. Paola havia enviado seu CV para o restaurante do renomado chef Alex Atala, e neste caso, teve que mudar os planos – o cruzeiro iria ficar para mais tarde. “Em dois dias fui morar na maior cidade do país. Fui pra lá no final de outubro para ficar 45 dias, pois a data do navio se aproximava. Passou um mês e recebi o convite de ser contratada para a área de eventos. O ano seguinte seria ano de Copa do Mundo no Brasil. Mudei os planos de novo e fiquei”.

Sabe aquela vontade de morar na praia? Os e-mails que ela enviou para Florianópolis não foram em vão. Foi chamada para trabalhar em um Resort de luxo em SC, o Ponta dos Ganchos exclusive resort. “A Copa do Mundo já tinha acabado, seria mais um desafio e eu poderia morar na praia (mais um sonho). Eu fui”.

“Só deu tempo de ficar o período de experiência e já resolvi dar mais um salto. Comprei uma passagem em promoção para Buenos Aires e aproveitei para mandar e-mails para os restaurantes de lá” ressalta. Antes de embarcar, já tinha sido aceita no melhor restaurante do país, o Tegui, comandado pelo chef e proprietário, Germán Martitegui. Chegando a Buenos Aires, Paola, com sua experiência, procurou por um hostel perto e que aceitasse voluntariado em troca de hospedagem.

Seu percurso pela Argentina foi de três meses, de outubro de 2014 a janeiro de 2015, quando saiu a nova data para o cruzeiro. Para a cozinheira viajante, os inúmeros aprendizados dessas experiências são coisas que nenhuma faculdade pode oferecer. “É um ‘plus’ no CV e na nossa vida que não tem preço”.

A viajem da ex-advogada, não acabou. Hoje ela viaja pelo Brasil e compartilhar suas experiências em busca da gastronomia de raiz em sua página Comer é uma Viagem.
 

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