Álbum de figurinhas dos 50 anos da Rede Globo faz sucesso entre noveleiros

Cinthya Oliveira - Hoje em Dia
Publicado em 20/06/2015 às 08:58.Atualizado em 17/11/2021 às 00:33.
 (Ricardo Bastos/Hoje em Dia)
(Ricardo Bastos/Hoje em Dia)
Quem gosta de assistir a novelas normalmente desfruta do prazer dentro de casa e divide isso apenas com os familiares. Mas desde que a Rede Globo e a Panini lançaram o “Livro Ilustrado Oficial – 50 Anos de Novelas”, os noveleiros passaram a compartilhar a paixão com amigos reais e virtuais. As redes sociais, especialmente, se tornaram as ferramentas para que as pessoas pudessem se encontrar para trocar figurinhas e informações sobre um dos nossos mais importantes produtos de exportação. 
 
A historiadora Gabriela Galvão, de 27 anos, não poderia deixar de aderir à novidade. Ela é tão apaixonada por novelas que levou o assunto para a academia. Foi a primeira pesquisadora do Departamento de História da UFMG a tratar do assunto, com um mestrado sobre a censura nas novelas de Janete Clair (1925-1983). Até então, o estudo sobre teledramaturgia se concentrava nos campos da Comunicação e da Antropologia.
 
“No início, durante a minha graduação, todas as pessoas viravam a cara para mim quando eu falava sobre a pesquisa na área. Sentia preconceito. Após o mestrado, conquistei respeito”, diz a pesquisadora, que pretende focar o doutorado nas tramas de Gilberto Braga, o autor de “Babilônia”.
 
 
Adivinha
Até mesmo na hora de curtir o álbum de figurinhas, Gabriela tem um olhar atento sobre o assunto. “Mais do que colar figurinhas no álbum, a brincadeira mais divertida é tentar adivinhar a qual novela se refere cada imagem antes de encontrar a informação. Bom é ver a Glória Menezes e tentar adivinhar qual é a personagem”, diz.
 
 
“Vídeo Show”
Gabriela deve acertar boa parte das figurinhas. A moça tem uma memória tão boa que conseguiu vencer uma prova de conhecimentos sobre a minissérie “Anos Rebeldes”, dentro de um jogo do programa “Vídeo Show”, no final do ano passado. Levou para casa R$ 30 mil e investiu parte do dinheiro em... um novo televisor.
 
Se saiu tão bem que um dos diretores do programa global a convidou para um trabalho temporário de 45 dias no centro de documentação da Rede Globo, no Projac. “Foi muito importante para mim essa oportunidade. Pude entender como funciona a produção das novelas”, afirma a historiadora. 
 
 
Homens também revelam uma paixão por novelas
Engana-se quem acha que o álbum “50 anos de Novelas” atraiu apenas o público feminino. Basta uma rápida olhada nos vários grupos de trocas de figurinhas do Facebook para perceber vários homens divulgando suas listas de números restantes. 
 
Como o advogado Flavio Henrique Santos de Almeida, de 30 anos, que não colecionava algo desde os tempos de chocolate Surpresa, na infância. “Álbum de Copa do Mundo nunca me interessou, futebol não é a minha praia. Novela, sim, é algo que eu gosto muito”, diz o advogado, que comprou o álbum há três semanas. “Estou achando o maior barato ver tanto as imagens das novelas que não vi quanto as que acompanhei, como ‘Avenida Brasil’ e ‘Cheias de Charme”. 
 
PARA NÃO PERDER – Pierre Menezes grava os episódios de “Verdades Secretas” por meio da TV por assina
 
Troca
No início, Flavio percorria várias bancas de revistas do centro de Belo Horizonte em busca de pacotinhos de figurinhas, para evitar que ficasse com as mãos cheias de repetidas. Essa é uma tática comum entre colecionadores, para não comprar produtos de um mesmo lote. 
 
Agora que Flávio precisa de pouco mais de cem figurinhas para completar o álbum, chegou a hora em que não vale a pena mais comprar os pacotinhos – cada um vem com cinco imagens e custa R$ 1. Flavio quer aproveitar bastante a parte mais gostosa da coleção de figurinhas – a troca e conquista de cada cromo – para solicitar ajuda à editora em último caso. 
 
“Por enquanto, estou trocando com amigos mais íntimos. Mas já estou anunciando nas redes sociais e já teve até gente de outros Estados interessados em trocar. Cheguei a começar a fazer uma negociação à distância, mas a troca via Correios ficaria muito cara”, explica.
 
Gostinho de infância
O jornalista e chef de cozinha Pierre Menezes, de 39 anos, também tem se divertido com seu álbum. Para ele, esse prazer em cultivar uma coleção tem a ver com um fenômeno dos últimos anos, em que adultos não têm vergonha mais de assumirem e curtirem prazeres antes associados às crianças. 
 
“A gente está vivendo uma fase de redescobertas de coisas infantis, como os livros de colorir. Tem uma amiga, inclusive, que contou estar fazendo um álbum de figurinhas dos Ursinhos Carinhosos”, conta.
 
Séries
O seu lado noveleiro nasceu mais ou menos da mesma forma que a maioria: na infância, compartilhando a televisão com o restante da família. “Não me lembro como começou esse vício, mas posso dizer que ele hoje migrou para uma nova paixão, que são as séries de TV. Agora me divido entre as novelas e as séries”, conta Pierre, que hoje gosta de acompanhar a trama de “Sete Vidas”, exibida na faixa das seis.
 
Ele também começou a ver “Verdades Secretas”, mas não consegue acompanhar todos os capítulos. Então adota a estratégia tão usada pelos noveleiros nos anos 80 e 90: grava para assistir depois. 
 
Interessados em trocar figurinhas podem usar as redes sociais. No Facebook, há vários grupos dedicados ao assunto.
 
Capa do álbum não conduz com a qualidade do conteúdo das páginas
Embora o álbum trate de “50 Anos de Novelas”, sua capa não condiz com o nome. No centro está uma imagem do mais famoso casal da teledramaturgia – Glória Menezes e Tarcísio Meira –, mas em todo o resto da arte estão fotos de jovens atores da emissora, como Bruna Marquezine, Chay Suede, Marina Ruy Barbosa, Sophia Charlotte, Isis Valverde... Fica clara a intenção das empresas Globo e Panini em atrair o público adolescente, mas a recepção do público só comprova de que essa foi uma estratégia equivocada. A maior parte dos adeptos do livro ilustrado é formada por adultos.
 
 
Novelas de Gilberto Braga e Manoel Carlos recebem uma atenção maior
No álbum, é perceptívelumaatenção maior para tramas de alguns autores como Manoel Carlos, Benedito Ruy Barbosa e Gilberto Braga, enquanto as novelas de Walcyr Carrasco e Carlos Lombardi, por exemplo,não recebemamesmaatenção. “Vale Tudo”, de 1988, está entre as mais citadas, recebendoumaatenção maioratéque“Escrava Isaura” (1976)e “Avenida Brasil” (2012), grandes exemplos de tramas de sucesso no exterior. Adriana Esteves, Dina Sfat, Antônio Fagundes, Glória Pires, Regina Duarte e Tony Ramos estão entre os artistas que mais aparecem no álbum. Todo álbum tem os cromos raros e aqueles conhecidos por “figurinha fácil”. Dessa vez, foram escolhidas para serem fáceis a imagem do caixão de Nice, personagem de Suzana Vieira em “Anjo Mau”, e a de Maria Ísis, mocinha de Marina Ruy Barbosa em “Império”.
 
Novelas antigas podem ser revistas pelo público por meio de box de DVDs
A Globo tem lançado várias novelas e minisséries em DVD, por meio do selo Globo Marcas, criado em 2000. Em 15 anos, foram licenciados mais de 1.500 itens em diversas categorias de produtos e hoje há um acervo de 147 títulos diferentes de DVDs. O lançamento mais recente foi de “Água Viva”, de 1980, novela de Gilberto Braga que se destacou por tratar de liberdade sexual, debatendo até o topless. A caixa custa cerca de R$ 250.
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