Em Belo Horizonte há 20 anos, a artista visual carioca Beatriz Mom passou a sentir tamanha falta do mar que a solução foi vivenciar essa ausência por meio da arte. Ela criou o "Diário do Mar em Minas", um projeto que mistura intervenção, instalação e fotografia “para levar o mar” às cidades mineiras.
Depois de passar por Aimorés, Belo Horizonte, Cataguases, São Joaquim de Bicas e São João del Rei, o projeto se prepara para desaguar em Capitólio, entre sexta-feira (28) e domingo (30). E como aconteceu nas cidades anteriormente visitadas, a artista escolheu um ponto estratégico de Capitólio para instalar seu mar: o calçadão na entrada da cidade.
Banhado pelo lago de Furnas e considerado o "mar de minas", o balneário vai testemunhar o mar se materializar por intermédio do sal grosso.
“O sal contém o mar; é o mar desidratado. É só hidratar que o mar volta!”, brinca a artista. Essa partícula marítima em forma de cristal se torna assim a matéria-prima de Beatriz Mom. É com o sal que ela escreve/desenha a palavra MAR. E, de frente para ele, instala barracas e cadeiras de praia e ali se senta para ler poemas e interagir com o público.
Nesse sentido, "Diário do Mar em Minas" flerta com a literatura na medida em que Beatriz, enquanto performa, lê poemas que falam do mar ou da falta do mar em Minas. “Essa ausência-presença do mar em Minas Gerais é percebida desde os versos de Tomás Antônio Gonzaga, o primeiro a apontar para a dualidade mar-montanha”, afirma a artista.
Essa espécie de nostalgia-de-mar-sem-nunca-ter-tido-o-mar, segundo Beatriz, está presente também na obra de João Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, Paulo Mendes Campos, Murilo Mendes, Ana Martins Marques, entre outros tantos poetas e escritores de Minas Gerais.