Ativista e poeta Oliveira Silveira ganha antologia

Elemara Duarte - Do Hoje em Dia
05/01/2013 às 11:41.
Atualizado em 21/11/2021 às 20:19
 (Neco Varella / AE)

(Neco Varella / AE)

Negro, gaúcho, poeta, professor e idealizador do Dia Nacional da Consciência Negra, Oliveira Silveira é lembrado em antologia de poemas com seus doze livros. “Oliveira Silveira: obra reunida” (Instituto Estadual do Livro/Companhia Rio-Grandense de Artes Gráficas), é organizado pelo escritor e crítico literário Ronald Augusto que conviveu com Oliveira e assina estudo crítico sobre a obra do amigo.

Mais que um nome importante no ativismo do movimento negro, Oliveira Silveira, que morreu em 2009, também deixou produção literária de “excelência”, como o organizador mesmo a define. “Oliveira Silveira sempre atinou para o aspecto de como abordar o ‘tema’ sem ferir a autonomia do discurso de que se servia”.

“Ele foi de uma geração uns vinte anos mais velha do que a minha. Quando eu comecei a escrever, não conhecia nenhum outro poeta negro aqui em Porto Alegre”, lembra Ronald.

Características

Os poemas de Oliveira Silveira voltados para a temática da “literatura negra” têm nuances desta causa que são típicas do século 20.

Porém, nem só de causa afro vive a poesia do gaúcho. Um dos capítulos da antologia dedicado ao livro “Praça da Palavra” tem poemas de 1962 a 1976. Neste, a forte temática social mostra preciosas tiradas como em “As Moças da Padaria”: “As moças da padaria:/ avental branco/ a paz de quem não tem fome”.

Já em “Poemas Regionais” (1968), o “gaúcho de cor” expõe com delicadeza a cultura e até os ventos - “minuanos” - dos pampas onde nasceu. E como quase todo poeta que se valha, Oliveira Silveira também se dedica aos temas do amor e do prazer, mas com inteligente humor. Exemplo: “Proposta à Maria da Graça” (ao lado).

Regionalismo

Ronald diz que a influência da cultura negra nos estados do Sul é grande. Ela vai desde palavras típicas da região, vindas do idioma banto, até as religiões e comidas. “Os negros vieram para cá como mão-de-obra. Mas a nossa cultura é muito mais eficiente em vender a imagem de que a região foi construída apenas por europeus”.

O crítico literário lamenta que a tendência para a supervalorização da cultura europeia seja também um costume de todo brasileiro - mesmo que o país apresente maioria negra ou de afrodescendentes.

Lembrada no dia 20 de novembro, o Dia Nacional da Consciência Negra faz referência ao dia do assassinato de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, na regïão da Serra da Barriga, em Alagoas.

Palmares foi o maior refúgio das Américas para os negros que recusavam a escravidão. Lá viveram mais de 20 mil pessoas, entre 1597 a 1695 ano que foi dizimado.

Hoje, no local, está o Parque Memorial Quilombo dos Palmares, composto por áreas de visitação ao ar livre que reproduzem os costumes dos antigos moradores.

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