Audaciosa, Dona Jandira celebra uma década de carreira, iniciada aos 66 anos

Pedro Artur - Hoje em Dia
31/07/2014 às 08:39.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:35
 (Carlos Rhienck)

(Carlos Rhienck)

O último ensaio corria solto no estúdio de Sérgio Moreira. Cada nota, o tom de voz, cada passagem era ouvida e discutida exaustivamente até se chegar ao melhor formato. Dona Jandira, com lápis e papel na mão, participava atentamente da conversa com o violonista e os músicos de sua banda. Isso porque o show está próximo... Não um show qualquer, mas o que vai celebrar os dez anos de carreira da cantora, hoje com 75 anos.

Depois de idas e vindas, chegou-se ao tom exato, inclusive o da participação de Sérgio Moreira (autor de “Mulato dos Olhos Verdes”, música feita exclusivamente para o primeiro CD de Dona Jandira, de 2008). Após esse fecho, e por consenso, uma pausa no trabalho.

Dessa forma foi possível um bate-papo com a figura central desta cena. E ela não se contém de tanta felicidade por conta da efeméride. “É uma coisa sem explicação, divina, maravilhosa”, diz, acrescentando que, antes de se lançar profissionalmente, aos 66 anos, já soltava a voz informalmente. “Galgar dez anos assim, dessa forma... Estou superfeliz”.

Dono do estúdio e convidado da apresentação que acontece nesta sexta-feira (1º), no Teatro Francisco Nunes, Moreira diz que viu Dona Jandira pela primeira vez pela TV. E ficou impressionado. Depois surgiu a oportunidade de um trabalho conjunto, com a participação no CD com “Mulato dos Olhos Verdes”. “Fui convidado a compor uma música. Logo me lembrei da cantora cabo-verdiana Cesária Évora (1941 – 2011)”, diz Moreira, explicando que fez essa canção no estilo musical mais associado à ilha, o “morna”.

Dona Jandira terá outros convidados no show. Com o radialista Acir Antão, fará duetos de clássicos de Lupicínio Rodrigues, e com Cléver Bambu, cantará músicas da autoria desse compositor de Ouro Branco.

Diálogo aberto

Além de bela voz, Dona Jandira guarda semelhança com outra negra guerreira: Clementina de Jesus, a “Quelé” – descoberta com mais de 60 anos pelo poeta Hermínio Bello de Carvalho. “Comecei aos 66 anos, idade um pouco avançada para uns, mas para mim não, pois me sinto com 30, 40 anos (solta uma gargalhada). É uma audácia. Clementina foi audaciosa. Sem comparações, mas também fui audaciosa. Costumo falar que sou (audaciosa), por isso estamos até hoje por aí”, ressalta.

A importância do trabalho dela está, em grande parte, no diálogo com os clássicos da MPB (nomes como Ary Barroso e Lupicínio Rodrigues) e a nova geração de músicos, como o próprio Sérgio Moreira. “Dialogo com eles e também com a turma de rock, toco com menino de 20, 25 anos. Eles fazem a proposta, eu aceito e digo que eles também são audaciosos. Não é imitar, é fazer um trabalho com pessoas de outras gerações. "Até hoje, tenho dado conta”, brinca.

Show Dona Jandira – 10 anos de carreira

Apresentação amanhã, às 21h, No Teatro Francisco Nunes (av. Afonso Pena, s/nº Parque Municipal) Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (meia-entrada)

Veja a interpretação do clássico "Feitiço da Vila", de Noel Rosa

 

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