
BRASÍLIA – Com uma produção mais alegre, mas sem deixar de registrar arraigados valores sociais, ainda em vigor no Nordeste, o diretor pernambucano Cláudio Assis é o favorito para receber, na noite de hoje, o troféu Candango de melhor filme do 48º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
Protagonizado por Matheus Nachtergaele, “Big Jato” tem tudo para ser uma unanimidade como foram as produções anteriores de Cláudio, como “Baixio das Bestas”, que recebeu vários prêmios em Brasília, há nove anos. A bem da verdade, não muito concorrente para fazer sombra a “Big Jato”.
O paranaense “Para a Minha Amada Morta”, de Aly Muritiba, que faz a sua estreia na direção de longas de ficção, nos envolve por sua história de vingança, sobre um homem (Fernando Alves Pinto) que descobre que foi traído pela esposa, enquanto ela era viva, e se infiltra na família do amante dela.
Há longos planos bem realizados, em que Murityba trabalha o ritmo interno, mas, de tão calculados, eles soam, no conjunto da narrativa, artificiais e inverossímeis. Cada cena gera uma tensão do que o traído pode fazer, num jogo de expectativas para mexer com o espectador, o que acaba minando o filme na sua reta final.
Outro bom filme é o paulista “Fome”, de Cristiano Burlan, um trabalho mais radical, de fotografia forte em preto e branco e passado nas ruas de São Paulo, onde um mendigo parece caminhar sem um destino certo (embora consciente daquilo que está fazendo é o mais correto), encontrando toda sorte de pessoas em sua trajetória.
A presença de Jean-Claude Bernardet no elenco é a oportunidade para criar várias discussões internas, que escapam à histórias, uma delas em relação ao ofício principal do ator, que é um dos principais críticos e ensaístas de cinema do país, autor do livro “Brasil em Tempo de Cinema” e “O que é Cinema”.
Ele corre por fora para levar a estatueta de melhor ator, que parece destinada a Matheus Nachtergaele, por se desdobrar em dois personagens completamente diferentes em “Big Jato”. O Candango de melhor atriz pode ir para Marcélia Cartaxo, que já foi premiada três vezes em Brasília, ou Mariana Ximenes, por “Prova de Coragem”.
(*) O repórter viajou a convite da organização do Festival de Brasília