Cabelos coloridos deixam de ser 'visual de show' e tomam de assalto as ruas

Vanessa Perroni - Hoje em Dia
18/05/2015 às 08:36.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:05
 (Ricardo Bastos)

(Ricardo Bastos)

Nos anos 90, muita gente ficou com as mãos manchadas na tentativa de pintar o cabelo com papel crepom. O que naquela época era considerado rebeldia ou brincadeira de adolescente, hoje faz a cabeça de um número cada vez maior de pessoas – em Belo Horizonte, basta olhar em torno, nas ruas. No cinema, personagens como a Emma (Léa Seydoux) de “Azul É a Cor Mais Quente” dão sua pitada de contribuição, enquanto na vida real, as “celebs” Kelly Osbourne e Katy Perry fazem, meio que involuntariamente, o papel de embaixatrizes do modismo, que ganhou nomes – unicorn hair, sereia, arco-íris – e variações, como a pixel art.

A designer gráfica Nanda Godoy, 27 anos, adotou a cor de laranja há um ano. “Sempre gostei de mudar. Cada vez que mudamos é uma renovação”, explica a jovem, que já teve mechas roxas e o cabelo todo vermelho.

Mas é importante frisar: manter o visual assim não é tarefa das mais simples. “O processo é longo e complicado. Como é um pigmento, desbota muito rápido. O ideal é tingir de 15 em 15 dias e hidratar muito”, pontua Nanda, que se diverte com a reação das pessoas nas ruas. “Geralmente, crianças e idosos sempre comentam. As crianças acabam confundindo com Monster High”, se diverte a moça, referindo-se às personagens que já há algum tempinho vêm encantando meninas.

Também designer gráfica, Bruna Ricaldoni, 24, já sujou muito uniforme. “Comecei com uma mecha azul e fui aumentando. Mas já ficou verde e rosa”, diz ela, que colocou cor nos cabelos pela primeira vez aos 14. Desde 2013, Bruna é fiel ao azul. “Acho as cores lindas e dá vontade de colocar no cabelo”, simplifica ela, que hoje faz todo o trabalho em casa.

Mas a moça enfatiza: “Para pintar o cabelo todo, e pela primeira vez, tem que ser em um local especializado”. Na época de colégio, Bruna já foi abordada por uma garota que perguntou se ela era uma fada. “Muitas pessoas da minha idade elogiam e dizem que gostariam de pintar, mas não podem por causa do trabalho. E muita mãe me pergunta sobre o processo porque a filha quer o cabelo colorido”, conta ela, que também é abordada por idosas. “Elas elogiam e lamentam que, à época delas, não podiam fazer isso”.

Recentemente as designers Nanda e Bruna estiveram no México e receberam olhares enviesados em alguns pontos. “Já em Los Angeles (EUA), foram muitos elogios”, lembra Nanda.

Cosplay

A cabeleireira Danielle Braz, 32, decidiu mudar a cor do cabelo mês passado – por insistência da filha, Vitória, 13, e do marido, disfarçou os fios brancos com o tom lilás, nas pontas. “Sempre fui loira, mas branco é diferente. Eles me empolgaram. Arrependi de não ter feito antes”, revela.

Desde 2010, Danielle trabalha com pigmentação. “Minha filha gosta de cosplay e sempre me pediu para pintar seu cabelo de outras cores”, conta ela, que já deixou os fios da filha vermelhos, verdes, roxos, prata e, agora, azuis. “Ela adora que reparem em seu cabelo”, afirma Danielle, que hoje tem clientes de sete anos. “As mães as trazem para pintar as pontas”.

Dani se especializou em cores e fez curso de química para auxiliar. “Faço muito cosplayers. Já fiz um com cinco cores. Ah, e tenho clientes de outros estados”, comemora.

“Para quem faz progressiva ou procedimento similar não é recomendado, é meio incompatível com a descoloração e pode danificar os fios”, Danielle Braz - Cabeleireira.

Nas ruas, demonstrações de apreço... e alguns estranhamentos

 

PELO MUNDO – As designers Nanda e Bruna já receberam olhares enviesados em viagens (Foto: Arquivo pessoal)

Não são só as mulheres: muitos homens também aderiram à moda. Caso do professor de inglês Pedro Casseb, 26 anos, que desde os 16 muda a cor dos fios, para roxo, rosa, vermelho, azul, verde, branco, laranja... e por aí vai. Pedro é movido pela curiosidade. “Fico na expectativa para ver o resultado de uma nova cor. E mudo quando fico cansado dela”, conta.

Adepto do “DIY – Do It Yourself”, ou “faça você mesmo”, o jovem conversou com diversas pessoas antes de pintar o cabelo. “Já fiz coisas que deram errado, mas hoje conheço bem meu cabelo e sei como cuidar. Mas nada do que faço é profissional, por isso, aconselho a quem queira mudar que, antes, consulte um cabeleireiro”, pondera o moço.

Blasé, ele jura que não repara na reação das pessoas, mas já foi abordado na rua. “Uma senhora falou que queria muito que os netos também pintassem o cabelo assim, porque era muito legal”.

Homenagem

A adolescente Pietra de Vasconcelos, 16, mudou o visual pela primeira vez aos 14. Na época, descoloriu os fios na casa de uma amiga de colégio, que tinha o cabelo azul. “Tudo escondido de meus pais. Cheguei em casa com o cabelo branco e, bem, gerou confusão”, reconhece. Situação contornada, ela se permitiu abusar das cores. Depois do azul, está com o cabelo preto com mechas vermelhas em homenagem ao baterista Joey Jordison, do Slipknot. “Vai ficar assim por um tempo. Descolorante acaba com o cabelo. E o meu não suporta mais um procedimento desse”, admite a garota.

 

PIETRA – “Sempre achei cabelos coloridos interessantes” | PEDRO – “O cuidado começa antes da descoloração” (Fotos Arquivo pessoal)

Na onda das celebridades

Nos anos 80, muitos artistas do universo pop, como Cindy Lauper, desfilaram madeixas coloridas. Sem falar nos punks. Atualmente, o cabelo colorido saiu do nicho “look para shows” e virou estilo. Abaixo, em sequência, a partir do alto, os looks de Katy Perry, Mari Moon e Kelly Osbourne. As duas últimas fotos são visuais da ficção: Léa Seydoux como a Emma de “Azul É a Cor Mais Forte” e Bruna Linzmeyer como a professora Juliana da novela “Meu Pedacinho de Chão”, da Globo.

Fotos: Montagem HD

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