
OURO PRETO – Mais do que um arqueólogo das imagens, à caça de tesouros escondidos em acervos variados, o cineasta americano Bill Morrison busca dar novo sentido a elas, encontrando beleza e melancolia em películas degradadas pelo tempo, remetendo ao contexto histórico em que foram produzidas.
Considerado hoje um dos grandes nomes do cinema experimental, transitando entre o documentário e a poesia, Morrison é um dos homenageados da 13ª CineOP. No último sábado, ele realizou uma master class em que abordou o seu processo criativo e a paixão por imagens que estariam, muitas vezes, na lata de lixo.
Durante a aula especial, Morrison lembrou um caso curioso envolvendo a cópia do filme “The Bells”, lançado em 1926 e protagonizado por Lionel Barrymore e Boris Karloff (mais associado ao personagem Frankenstein que vivenciou em várias produções), que estava para ser descartada pela Biblioteca do Congresso Americano.
“Tenho um amigo lá, que me avisou deste descarte, já que a biblioteca tinha uma cópia em melhor estado. Viajei para Ohio, onde estava instalada antes a Biblioteca, e vi que ela havia se deteriorado de maneira muito linda”, registra o diretor, que realizou dois curtas a partir da cópia (“The Mesmerist”, de 2003, e “Light is Calling”, de 2004).
Formato
Em “Light is Calling”, Morrison fez uma “exploração poética de personagens que se apaixonam”, aproveitando-se dos defeitos apresentados nos planos. Em “The Mesmerist”, ele destaca o fato de um judeu rico ser assassinado, com o corpo incinerado, e o autor não ser punido, remetendo ao crescente antissemitismo da época.
“É como uma cebola, que tem várias camadas. Neste trabalho, a gente também vai descascando, ‘limpando’ e interpretando aquela deterioração”, afirma Morrison, que apresentou em Ouro Preto o seu longa-metragem mais recente, “Dawson City: Tempo Congelado”.
O filme parte de uma descoberta ocorrida em 1978, quando várias películas foram encontradas por acaso durante uma obra, sob a superfície congelada de uma cidade canadense. Devido à baixa temporada, boa parte delas não havia sido degradada. No documentário, elas ajudam a ilustrar a história de uma cidade.
“Acabei encontrando uma história muito maior do que inicialmente buscara, envolvendo a ascensão de uma cidade que viveu uma corrida do ouro, no inicio do século XX, e, tempos depois, a mecanização acabou matando-a”, explica o cineasta, que levanta outros dados interessantes, como o inicio do império Trump em Dawson.
(*) Repórter viajou a Ouro Preto a convite da organização da CineOP