(Sandra Santos)
A cavaquinista Luciana Rabello tem 37 anos de trabalho dedicado ao choro. Somente agora decidiu lançar um álbum em que também solta a voz – “Candeia Branca” (Acari Records). São 13 parcerias com o marido Paulo César Pinheiro e mais “Teu Amor”, faixa em que assina música e letra. Mas isso não quer dizer que ela “se sinta” uma cantora. “A intenção não foi exatamente revelar o meu lado cantora e, sim, mostrar as minhas músicas em parceria com Paulo, que há tempo estava guardadas. Não sou uma cantora! Sou uma instrumentista e uma compositora que canta exclusivamente suas músicas, como fizeram Nelson Cavaquinho, Cartola, Candeia, Sueli Costa e outros. Quero dizer que não vou fazer discos cantando músicas que não sejam minhas”, ressalta Luciana, que chegou a ser estimulada por amigos a cantar, mas nunca levou isso como um projeto sério. “Se as cantoras as gravassem (suas composições), não precisaria cantar”, brinca. Diversidade O álbum contempla diferentes ritmos, como samba, baião e maculelê. “Esse trabalho está sendo pensado e esperado por nós há muito tempo. Trabalhamos para mostrar a diversidade de gêneros que compomos e acho que esse é um diferencial legal desse disco”, diz a artista, que conta com a participação do amigo Dori Caymmi na faixa “Flor d’Água”. De alguma forma, “Candeia Branca” celebra os quase 30 anos de união entre Luciana e Paulo – a presença dos filhos Ana Rabello e Julião Pinheiro no álbum é algo muito simbólico. O casal se conheceu por meio de Raphael Rabello (1962-1995), genial violonista, irmão de Luciana, que na época tocava com Paulo. Foi paixão imediata, garante a cavaquinista. No universo familiar, muitas músicas foram feitas. Luciana entrega as músicas para Paulo desenvolver as letras posteriormente. Ela nunca contou quantas composições possuem em conjunto, mas sabe que é possível fazer muitos discos com esse material. “E continuamos fazendo”, ela adianta. Produção Em 2009, Luciana recebeu em sua casa uma jovem cantora do Maranhão para uma conversa. Alexandra Nicolas estava interessada em fazer um disco com músicas que haviam sido gravadas por Clara Nunes (que, como se sabe, foi mulher de Pinheiro). “Pedi que falasse o que gostaria de cantar e as músicas que ela relacionou eram do Paulinho! Lembro que falei ‘você deveria seguir a Clara, sim, fazendo exatamente o que ela fez: cantar a sua terra e ser original nisso”, conta Luciana, que assumiu a produção do primeiro álbum de Alexandra. O recém-lançado “Festejos” (também lançado pelo selo da cavaquinista, a Acari Records) é um álbum com 13 faixas assinadas por Paulo César Pinheiro. Os arranjos ficaram nas mãos de outros dois grandes músicos e amigos da família Rabello-Pinheiro: Mauricio Carrilho e João Lyra. “Fiz um mergulho muito mais profundo no baú de letras de Paulinho Pinheiro, e lá fiquei por um bom tempo, sem pressa e já encantada com o universo feminino da sua poesia”, afirma Alexandra. “A temática que me encantou foi a mulher. Você vê, sente o movimento delas, a pintura de um retrato do Brasil. Estão ali os tambores da minha terra, a sensualidade na lida do dia a dia, a delicadeza artesanal, a vitória da mulher negra, o namoro na vila de pescadores, a busca pelo sustento”.