Com início hoje, CineOP homenageia atriz Maria Gladys

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
12/06/2018 às 19:00.
Atualizado em 03/11/2021 às 03:34
 (LEO LARA/UNIVERSO PRODUÇÃO/DIVULGAÇÃO)

(LEO LARA/UNIVERSO PRODUÇÃO/DIVULGAÇÃO)

 “Mineiro não fala, né?! Ainda mais numa cidade pequena que só tem cachoeira e cobra. Por sinal, achei uma jararaca no meu banheiro há pouco tempo”, diverte-se Maria Gladys em entrevista ao Hoje ao Dia, após passar um dia inteiro conversando com a imprensa de todo o Brasil. Homenageada da Mostra de Cinema de Ouro Preto (CineOP), com início hoje, a atriz carioca de 78 anos, moradora de Santa Rita do Jacutinga, na Zona da Mata mineira, não perde o fôlego, lembrando momentos marcantes da carreira, no Cinema Novo e no Cinema Marginal. “Só tem gente boa no meu currículo. É um luxo”, afirma, reforçando os nomes de Ruy Guerra, Rogério Sganzerla, Julio Bressane, Neville D’Almeida e Claudio Assis. “É a minha vocação. O que gosto de fazer. Vivo desta profissão e passei por momentos pesados, com pouco dinheiro. Só ganha quem faz um contrato longo com a Rede Globo. Mesmo com esse pouquinho, tudo que vivi foi fabuloso”, alegra-se Gladys, cercada por cinco cães adotados em sua casa. “Aqui não tem gente, mas tem muito cachorro. O pessoal passa de carro, abre a porta e os abandona”, lamenta. RaridadesA homenagem à atriz tem relação estreita com a temática da Mostra, que se realizará até segunda-feira, na cidade histórica mineira, movida pelos 50 anos do tropicalismo. Tanto o Cinema Novo quanto o Marginal beberam das mudanças culturais iniciadas nas artes plásticas e na música. “Foi um momento de grande efervescência, em que o cinema dialogava com outras artes. É uma produção rara, muitas vezes feita por artistas plásticos e músicos e de forte caráter experimental”, destaca Raquel Hallak, coordenadora da CineOP. Entre os filmes que serão exibidos estão “O Demiurgo”, de Jorge Mautner, “Light Works”, de Iole de Freitas, e “Terra da Vermelha”, de Torquato Neto, além de obras pouco acessíveis de uma geração que não se preocupava em depositar cópias em cinematecas. “Boa parte dos filmes, vem de acervos particulares, porque estava associada, por exemplo, a uma exposição, tendo sido apresentada em galerias de arte, ao invés de salas de cinema, e feita dentro dos ciclos regionais de super-8”, registra Hallak. Caça ao tesouroPara a coordenadora, encontrar os filmes em um país em que não há um banco de dados sobre a produção cinematográfica se transformou numa caça ao tesouro. “Levamos mais de dois meses para achar as cópias, em primeiro lugar, depois descobrir quem detém os direitos e, por fim, avaliar o estado delas”, observa. No caso do documentário “Maria Gladys, uma Atriz Brasileira” (1980), de Norma Bengell, que não tinha cópia de circulação, foi preciso pagar pelo processo de digitalização. Em relação à homenagem, Hallak sublinha que buscou sair do lugar comum em se tratado de anos 60 e 70 no cinema nacional, associados a nomes como Helena Ignez, Leila Diniz e Sônia Braga. “Como diz Neville, Maria Gladys tem tanto talento quanto Fernanda Montenegro. Só não teve as mesmas oportunidades. Ela é pura intensidade, em todos os sentidos, e teve uma história de vida sofrida, se tornando mãe aos 15 anos e exilando-se em Londres (durante a ditadura). Fico muito feliz em dar voz e vez a ela”.

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