Com Lady Gaga e Al Pacino, 'Casa Gucci' mostra bastidores de uma das maiores grifes do mundo

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
26/11/2021 às 12:26.
Atualizado em 05/12/2021 às 06:20
 (MGM/DIVULGAÇÃO)

(MGM/DIVULGAÇÃO)

Uma das principais estreias da semana nos cinemas, “Casa Gucci” resvala em alguns temas abordados em “Fome de Poder”, mas com conclusões opostas. Se no filme de 2016, sobre a criação da rede de fast-food McDonald’s, há uma valorização ao negócio familiar, como sinônimo de confiança e honestidade, na produção sobre a famosa grife italiana essas relações sanguíneas são demonizadas.

O “vilão” de “Fome de Poder” é a globalização sem limites, que fez perder de vista o empreendimento artesanal e cuidadoso em nome de milhares de lojas espalhadas pelo mundo, com a comida se tornando um produto industrializado. Em “Casa Gucci”, a abertura de capital e a entrada de sócios recuperam uma marca quase falida devido à ganância e à sordidez da família.

Diferentemente de “Fome de Poder”, que pontua essas diferenças de gestão ao longo da narrativa, o filme dirigido por Ridley Scott termina justamente nessa mudança de comando, como uma bem-vinda saída para cenas em que os familiares gradativamente passam a rasteira uns nos outros. Aqui não vai nenhum spoiler, já que a história é real e ganhou as manchetes policiais na década de 90.

O que mais chama a atenção na condução de Scott é a maneira como ele nos apresenta os personagens, dos irmãos Aldo e Rodolfo, vividos por Al Pacino e Jeremy Irons, aos filhos Paolo (Jared Leto) e Maurizio (Adam Driver), passando por Patrizia, casada com este último e que rapidamente se encaixou na família. São pessoas normais, que têm sonhos e se apaixonam como qualquer outra.

As concessões à normalidade entram de maneira muito sutil, corroendo a família por dentro. A grande sofisticação como levam as suas vidas cria um interessante contraste com a falta de escrúpulos. Pela forma como aceitam essas violações, a desfaçatez nos é apresentada como uma característica da alta sociedade, que desconhece a palavra não. Muitas vezes, parecem crianças mimadas que tiram o dia para brigar.

Como boa parte dos personagens estão vivos, Scott evita fazer reflexões mais diretas e individuais, apontando para a jornada daquele coletivo numa lenta descida aos infernos. É como um filme de Martin Scorsese, em que a moral é distorcida em benefício próprio, mas sem a escalada de violência típica do diretor de “Cassino”. O que nos incomoda é a podridão revestida de roupas alinhadas e gestos pensados.

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