'Coração de Campanha' traz Clarice Niskier a BH

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
20/09/2021 às 11:21.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:54
 (JBraga/Divulgação)

(JBraga/Divulgação)

Clarice Niskier estava dando um ponto final em seu casamento de 25 anos quando a pandemia pôs o Brasil inteiro em isolamento forçado. No lugar de cada um ir para o seu canto, o coronavírus ajudou a aproximar o ex-casal, provando que pode haver uma amizade verdadeira após o fim de um longo relacionamento.

“Era um privilégio estar com um ex-marido tão amoroso dentro de casa, numa separação em que a gente buscava preservar o que havíamos vivido de maravilhoso”, registra a atriz. A experiência foi o pontapé para Clarice criar a peça “Coração de Campanha”, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil até 18 de outubro.

Ao invés de pegar a mala e buscar uma nova moradia para recomeçar a vida, o “ex” propôs continuar sob o mesmo teto, sendo solidário à situação financeira de Clarice, que, com o fechamento dos espaços culturais, se viu sem trabalho. “Apesar das nossas discordâncias, na hora do sufoco, ele não me deixou na mão”, relata.

Salvamento

“Eu vi um lado dele muito generoso. Ele disse que, no lugar de pagar aluguel, me ajudaria, já que continuou com o salário dele – a pandemia não alterou o meio de vida dele, como diretor de escola. Comecei a ver como vale uma relação amorosa em que um salva o outro quando é preciso. A gente não vai se abandonar nunca”, assinala. 

“Há brigas e conflitos entre os dois, mas o que a peça quer contemplar é a nossa humanidade. (A relação) Não é um mar de rosas. Mas chega a um lugar que é bastante distante da violência”, destaca a protagonista

O que não quer dizer que, como num passe de mágica, eles voltariam a ser marido e mulher. Clarice destaca que “Coração de Campanha” aponta para um homem e uma mulher que estão envelhecendo com pontos de vista muito diferentes sobre temas como sexualidade, desafios profissionais e maneira de enxergar a vida. 

“Eles perderam a maneira de viver em comum, sobre o que esperar da vida. Por isso acham por bem separar, mas a questão do que foi vivido continua de outra maneira”, analisa. Para Clarice, a pandemia serviu para aproximá-los do ponto de vista humano. “Se a separação era amigável, no fim da pandemia, em dezembro de 2020, ela era mais do que amigável”. 

“O casamento não pode ser um mau teatro”, afirma atriz

Graças à pandemia, ressalta Clarice Niskier, nasceu um “filho artístico” da relação, em que o ex participa ativamente da produção, como diretor de produção e autor da trilha sonora. Só não está no palco, fazendo ele próprio o seu personagem – função que coube a Isio Ghelman.

A atriz afirma que não é um depoimento 100% autobiográfico, já que misturou ao relato situações vivenciadas por amigos e relatos de jornais. “Fui escrevendo por cenas isoladas, buscando levantar os temas sem um teor dramático de réplica e tréplica”, explica.

“Como já está tudo um pouco resolvido, um escuta em silêncio e muda de assunto, mas não por indiferença, mas porque tudo já está colocado e registrado”, observa a atriz, que construiu um texto mais fragmentado, fora do tempo cronológico, privilegiando cenas curtas.

Com uma peça que fala “da possibilidade de um homem e de uma mulher que viveram juntos reinventar a relação”, nas palavras da autora, não é difícil imaginar a torcida do público para que o casal volte às boas ao final. “Torcem pelo ser humano, pela beleza do que é mostrado”.

Após a sessão, os atores sentam à beira do palco e batem um papo com os presentes, ouvindo destes “histórias como se fossem amigos íntimos”, impelidos que são a falarem de suas próprias relações. “É o que é mais bonito no teatro, aproximando todo mundo”, registra.

“A peça não é sobre os jogos do teatro do casamento. Pelo contrário, ela tenta desnudar, desvendar esses jogos. Dá para fazer um paralelo entre o casamento e o teatro, em que o matrimônio não pode ser um mau teatro. Precisa ser autêntico, ter uma presença real”, define.

Serviço
Coração de Campanha – No Teatro I do Centro Cultural Banco do Brasil
Endereço: Praça da Liberdade, 450, Funcionários
Data: 18 de outubro, de sexta a segunda, às 20h.
Classificação Indicativa: 16 anos
Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), à venda no site do CCBB.

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