Curtos pensamentos do dia a dia conquistam leitores nas redes sociais

Vanessa Perroni - Hoje em Dia
12/05/2015 às 08:35.
Atualizado em 16/11/2021 às 23:59
 (Ricardo Bastos)

(Ricardo Bastos)

Em sua máquina de escrever ele cria poemas e reflexões que viram fotos e vão parar nas redes sociais. Há um ano Zack Magiezi, de 32 anos, paulista radicado em Belo Horizonte, criou a página “Estranheirismo” (facebook.com/Estranheirismo) que o autor define como “divagações de uma pessoa a vagar”. São poemas, notas, pequenos diálogos, e outras criações literárias que já conquistaram 109 mil seguidores na rede social e ganha mais fãs a cada compartilhamento – cada post do moço chega a ter mais de quatro mil curtidas.

Não é de hoje que o Facebook e também o Instagram se tornaram território para divulgação de pequenos textos e citações literárias. São inúmeras as páginas e perfis que reúnem diversos trechos de livros. Mas jovens escritores descobriram nessas plataformas uma maneira de espalhar suas palavras. O retorno é tão rápido quanto a velocidade das ferramentas. “Foi assustador. Em pouco tempo começou a circular muito”, conta surpreso o moço que veio para a capital mineira há oito anos, por causa de um amor. “O relacionamento deu certo por dois anos, mas continuei na cidade e hoje me considero mineiro de coração”, afirma Magiezi.

O que faz sucesso são poemas mais curtos. “Acredito que isso seja fruto do nosso tempo. O texto curto é mais dinâmico, tanto que agora sintetizo os maiores para postar. Acredito que essa forma gera identificação pessoal”, avalia o autor. Amor, amizade, novas tecnologias, fatos do cotidiano, conversas, tudo inspira Magiezi. “Poesia é um espírito que mora em todas as coisas, tudo pode ser poético, depende da atenção do nosso olhar”, afirma ele, que atualmente trabalha na área administrativa, frequenta o curso de Letras, além de criar as poesias cheias de delicadeza e sinceridade.

Sorvete de Flocos

Outro paulistano que tem “bombado” nas redes sociais é o administrador, jornalista e músico Bruno Fontes. Ele integrava e compunha para a extinta banda Soulstripper – donos da canção e clipe fofos “Não Trocaria um Sorvete de Flocos por Você”. Caso não conheça vá para o YouTube ao final dessa leitura. Fontes conquistou 14 mil seguidores em apenas quatro meses no Instagram (@bfontesbruno), com seus poemas dosados com ironia e escrita informal. “Sempre fui compositor. Com o fim da banda em 2013 comecei a postar os textos com o meu nome”, relata Fontes, de 28 anos.

A forma curta e direta de escrever ele aprendeu no Twitter e seus 140 caracteres. “Com essa limitação fiz textos que não teria feito se tivesse mais espaço”, confessa. “Cada dia que abro o Facebook tem cerca de 300 solicitações de amizade, assim como no Instagram. Tem dias que entro e tem três mil novos seguidores”, conta.

Fontes tem como inspiração amores e conversas do dia a dia. “Não consigo criar algo fictício. É sempre algo que aconteceu”.

 

 

 

Um alter ego para atrair todo o mundo à realidade orgânica

 

NO BOTECO – Muitas conversas em mesa de bar, regadas à cerveja, inspiram Bruno Fontes. O rapaz já teve um de seus poemas compartilhados até pela atriz Grazi Massafera (Foto: Luisa Breda/Divulgação)

 

Outra iniciativa nesse sentido é o perfil no Instagram Fale Lôla Fale (@falelolafale), criado pela baiana Géssica Sena, de 23 anos. Formada em produção audiovisual, a jovem nunca exerceu a profissão e decidiu estudar para concursos públicos. “Criei o perfil para liberar uma energia criativa que estava se acumulando dentro de mim desde que comecei a estudar para concursos”, conta.

O primeiro post foi há sete meses, e desde então ela já contabiliza mais de 14 mil seguidores. A ideia do nome veio sim do filme alemão “Corra Lôla Corra”, dirigido por Tom Tykwer. “Achei que precisava de um alter ego porque se trata de uma voz criada especificamente para as redes sociais e que fala ao mundo através daquela realidade virtual”, explica ela, que assina os textos como Lôla.

Encantamento

Inicialmente criado apenas para publicação de fotos, o Instagram foi a escolha da jovem para divulgar sua criação. “A ideia sempre foi publicar textos curtos. Tão instantâneos quanto a plataforma que utilizo”. Seu referencial? “Escrevo para que as pessoas voltem a se encantar com este mundo em que vivemos. Acredito que voltar a enxergar a poesia da realidade ajuda a restaurar a esperança de que mudanças são possíveis”, pontua.

Para ela, os textos curtos são um reflexo da atualidade. “Há muitas informações e estímulos competindo pela nossa atenção o tempo inteiro. E se as pessoas estão dedicando grande parte do seu tempo às redes socais, então a arte deve ocupar esses espaços também”, acredita ela. “As pessoas estão se sentindo mais reais no mundo virtual, então é para lá que os poetas, escritores, músicos e artistas em geral devem ir, mesmo que seja só para ‘militar’ e trazer todo mundo de volta para a realidade orgânica”, completa a moça que atualmente está encantada pelos contos do moçambicano Mia Couto.

Quando fica algum tempo sem fazer uma nova postagem, seus seguidores enviam mensagens. “Eles deixam comentários pedindo para eu voltar a escrever”.

 

VAI PARA A PRATELEIRA - "Seguidores pedem para que as postagens virem livro. É o meu próximo passo", promete Géssica. (Foto: Sônia Senna/Divulgação)
 

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