CINEMA

Diretor mineiro Marcos Pimentel se debruça sobre a essência da saudade em documentário

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
Publicado em 26/09/2022 às 10:55.Atualizado em 26/09/2022 às 18:51.
Filme acompanha imigrantes que transitam por Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné, Moçambique e Portugal, cuja única ligação com a terra natal é a língua (Olhar/Divulgação)
Filme acompanha imigrantes que transitam por Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné, Moçambique e Portugal, cuja única ligação com a terra natal é a língua (Olhar/Divulgação)

No apartamento de Marcos Pimentel, no bairro Santo Antônio, o diretor mira a estante e vê alguns palhacinhos, casinhas, muitos DVDs, livros (“não só de cinema; amo poesia profundamente”, salienta) e a placa antiga de um veículo cubano, país onde periodicamente ministra aulas, na Escuela Internacional de Cine y Televisión de San Antonio de los Baños.

“A minha casa é feita por partes dos lugares onde eu fui e das pessoas que eu conheci. Aqui é pequeno, não cabe muita coisa, mas eu não aceito desfazer das coisas que remetem à minha essência. Claro que a maior parte a gente guarda dentro da gente mesmo, né?”, registra o realizador do documentário “Os Ossos da Saudade”, em cartaz nos cinemas.

Pimentel é um nômade. O filme reflete essa condição, ao acompanhar imigrantes que transitam por Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné, Moçambique e Portugal, cuja única ligação com a terra natal é a língua. “Eu passei os últimos 20 anos viajando, fiquei na estrada direto, sabe? Quanto mais impregnava minha alma de chão, mais sentia falta de lugares que estavam distantes”.

Nesta caminhada de “pular de lugar em lugar, de hotel em hotel, tentando carregar a casa nas costas e na mochila” é que o cineasta, nascido em Juiz de Fora, percebeu o quanto era importante “conhecer a própria essência”. O novo trabalho é resultado de um momento de reflexão, “sobre os outros Marquinhos que estão espalhados por aí”, registra.

O termo “ossos da saudade” é uma tentativa, segundo ele, de “cavar até o osso e encontrar os esqueletos que estão por trás dessa palavra e desse sentimento que nos orgulha tanto e que, defendem, só existe na nossa língua”. É assim que Pimentel foi navegando pelas memórias das pessoas, abrindo baús interiores.

A palavra navegação não surge por acaso. O mar é outro protagonista do documentário. “Ao conversar com os personagens para checar os locais que mais lhes despertavam lembranças, muitos nos levaram para o mar. Ele é um elemento forte, que liga todas essas culturas, né? Até porque essa história toda foi construída depois das grandes navegações”, salienta.

Além de nutrir um interesse particular pelo tema, o filme carrega as digitais do diretor em sua concepção estética, que sempre se mostrou interessado no corpo e no espaço. “Muitos lugares a que os personagens nos levaram tinham a ver com ruína, com algo deteriorado e certa incompletude. Era como se fossem vestígios de algo que ficou para trás”, assinala.

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