Diretor russo Andrei Tarkovski ganha mostra no Cine Humberto Mauro a partir desta sexta-feira

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
18/01/2017 às 19:17.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:28

O vento bate numa árvore até uma folha se descolar dela, caindo lentamente. Essa imagem bucólica e poética já foi usada inúmeras vezes no cinema, mas o “inventor” dela não é conhecido do grande público – o russo Andrei Tarkovski, que será homenageado com uma retrospectiva completa, a partir de amanhã, no Cine Humberto Mauro. 

A mostra, que apresentará 11 filmes, gratuitamente, até o dia 9 de fevereiro, chega num momento de grande discussão sobre o legado do cineasta, falecido em 1986, nos mais variados campos artísticos. Neide Jallageas, a maior especialista em Tarkovski no Brasil, participou recentemente de um congresso em Barcelona, na Espanha, sobre a atualidade do cinema dele. “Tarkovski está muito vivo. Hoje existe uma certa contaminação que passou para as artes visuais e para a filosofia. Volta e meia filmes e até videoclipes fazem referência a Tarkovski, repetindo alguns cacoetes dele”, registra Neide, que participará amanhã de sessão comentada do filme “A Infância de Ivan”, às 19h30, com exibição em película.

Ela cita importantes diretores contemporâneos que bebem na fonte de Tarkovski, entre eles o dinamarquês Lars von Trier e o brasileiro Kleber Mendonça Filho. “Trier não só estuda muito a filmografia dele como também já dedicou um filme a Tarkovski, com ‘Melancolia’. Walter Salles sempre o coloca como um inspirador. Kleber se diz um admirador. Entre os russos, há Andrey Zvyagintsev. Seu ‘O Retorno’ é Tarkovski na veia”.

Honestidade
Realizador de “Solaris” (1972) e “Nostalgia” (1983), filmes que fizeram ganhar a alcunha de “escultor do tempo”, Tarkovski sofreu muito com a censura da então União Soviética. “Minha tese é que ele morreu por causa disso (o câncer no pulmão, segundo o médico do diretor, não teria surgido de causas naturais), tendo também sofrido uma grande pressão psicológica”, assinala.

Neide observa que ele resistiu o quanto pôde, sendo honesto ao dizer que não faria nada daquilo que os governantes exigiam. “Ele não podia ser maltratado diretamente, na Rússia, porque era uma personalidade pública, do mesmo vulto de um (Serguei Mikhailovitch) Eisenstein. Dizia que não iria fazer e ponto. Acabou pagando um preço alto por isso”, sublinha a pesquisadora.

Sessões Comentadas
Além dos filmes, outro destaque da mostra belo-horizontina são convidados internacionais, como o sueco Michael Leszczy, montador de “Sacrifício”; a italiana Donatella Baglivo, diretora que acompanhou Tarkovski durante seus anos na Itália; Eugene Tsymbal, assistente de direção de “Stalker”; e Dmitry Salynskiy, especialista em cinema soviético.

Gerente de cinema do Palácio das Artes, Philipe Ratton destaca que será uma grande oportunidade para ver a obra do cineasta em tela grande. “Sempre trabalhou com a questão do tempo, com tomadas mais longas, contemplativas. Trabalhava ainda os elementos da Natureza, como se ela quisesse pegar o mundo de volta. As pessoas eram afetadas pela Natureza, com incêndios e chuvas. Era um cinema poético e espiritual”, define.


Mostra Eeterno Retorno

20/1 - Sexta
17h Os Assassinos, Hoje Não Haverá Saída Livre
18h O Rolo Compressor e o Violinista
19h30 A Infância de Ivan

21/1 - Sábado
14h Mouchette, a Virgem Possuída
16h O Caminho à Bresson
17h Conhecendo Andrei Tarkovski
19h Andrei Rublev

22/1 - Domingo
15h Solaris
19h O cinema é um mosaico feito de tempo
20h15 O Espelho

23/1 - Segunda
14h30 Novo Mundo
17h O Quarto e O Intruso
19h30 Retorno à Zona
20h30 Stalker

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