Diretora Petra Costa afirma que as mulheres não podem mais se calar

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
29/11/2015 às 08:21.
Atualizado em 17/11/2021 às 03:08
 (Festival do Rio/Divulgação)

(Festival do Rio/Divulgação)

“Não dá mais para ficarmos no silêncio de nossas questões, principalmente as relacionadas ao nosso corpo. O corpo da mulher é um lugar de política”, assinala a diretora mineira Petra Costa, ao analisar os “ataques muito agressivos, de um baixo nível inesperado” sofridos por ela ao veicular o vídeo “Meu Corpo, Minhas Regras”.

Peça de divulgação e também uma ampliação das discussões presentes no documentário “Olmo e a Gaivota”, em cartaz no Belas Artes, o vídeo contabilizou, em uma semana, 12 milhões de visualizações nas redes sociais. O grande interesse contrastou com comentários como “se não quiser ter filhos, feche as pernas” e “bando de mulheres satânicas”.

Petra realizou o vídeo com a intenção de mostrar o quão absurdo é o fato de o ser humano vir ao mundo através da gravidez e que não tenha quase nenhum retrato no cinema sobre o que se passa na cabeça de uma mulher durante a gestação. “A sociedade monoteísta foca muito a tese de que Deus criou o mundo em sete dias, mas o que existe de concreto é que a mulher cria um ser humano em nove meses”, salienta.

Como a gravidez virou um dilema para as mulheres, já que muitas preferem construir uma carreira, o vídeo trabalha essa questão, além de incluir homens “grávidos”. Mas o estopim para a polêmica é mesmo quando ela defende questão da soberania feminina sobre o seu corpo, “que vai desde fazer um aborto a entrar numa gravidez com todos os direitos, como a atriz do nosso filme”.

Para a cineasta, que conversou com o Hoje em Dia de Amsterdã, onde exibiu o filme no Festival Internacional de Documentários (IFDA), considerado o principal do gênero no mundo, a agressividade dos comentários revela “uma grande desinformação acerca do que as mulheres estão passando”.
Antes do IFDA, Petra Costa exibiu “Olmo e a Gaivota” no Festival do Cairo, um dos mais importantes do Oriente Médio, onde ganhou menção especial. “Teve uma recepção muito calorosa do público, algo que não imaginava depois de ver uma revolução tão intensa.

Não esperava que um filme tão intimista, que trata de uma questão privada, fosse ter uma recepção tão emocionada”. A passagem pela Europa também foi importante para acertar a estreia do filme na Espanha, na França, na Itália e na Portugal, a partir de março de 2016.

Além Disso

Ator ganhador do Oscar, com “Sobre Meninos e Lobos” (2004), Tim Robbins é um dos produtores de “Olmo e a Gaivota”. Petra Costa lembra que ele se encantara com o seu documentário anterior, “Elena”, e ajudou no lançamentos nas salas dos Estados Unidos. “Na época, eu já estava fazendo o ‘Olmo’ e, por coincidência, ele é um grande amigo do casal de protagonistas”, afirma a realizadora.

O universo feminino ainda estará na sua mira, dessa vez num filme de ficção. “É o olhar pelo o qual vejo o mundo”, justifica. O que não a impede de trabalhar num longa-metragem só com homens, escrito e produzido por ela, que tem como cenário o Egito.

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