Diretores famosos se transformam em personagens em filme de Walter Carvalho

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
Publicado em 16/09/2015 às 15:56.Atualizado em 17/11/2021 às 01:46.
 (Paulo Henrique Silva/Hoje em Dia)
(Paulo Henrique Silva/Hoje em Dia)

BRASÍLIA – Depois de lançar o documentário nacional mais visto no país, “Raul – O Início, o Fim e o Meio”, que levou quase 200 mil espectadores aos cinemas em 2012, o diretor Walter Carvalho agora receia que seu novo trabalho, “Um Filme de Cinema”, apresentado na noite de terça-feira, na abertura do 48º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, não vá interessar mais do que alguns colegas de profissão.

“Um elogio que gostaria de ouvir e ninguém falou até agora é a minha coragem em fazer esse filme, que não dará certo nunca, pois estou abordando um assunto que todo mundo, que é o próprio cinema. É igual técnico de futebol: temos mais de 250 milhões”, exagera Walter, durante o debate realizado na manhã dessa quarta, que, sim, tinha realizadores, mas também jornalistas e outras pessoas interessadas em discutí-lo.

Ao entrevistar diretores de várias partes do mundo, do húngaro Béla Tarr ao iraniano Asghar Farhadi, Walter afirma que seu filme “não serve para mais nada a não ser servir de base para pensar o cinema”, numa proposta muito semelhante a um documentário anterior dele, “Janela da Alma”, que enfoca a questão do olhar a partir de míopes e cegos. Nos dois, ele principia as entrevistas com três perguntas básicas, que podem ou não se desdobrar de acordo com as respostas.

“O que busco fazer é, com esse material em mãos, estabelecer um diálogo entre pessoas que nunca se viram. Entrevisto um chinês no Rio de Janeiro, um árabe em Havana, um húngaro em Budapeste e um americano em Portland. Montamos o filme como se eles tivessem falando a mesma coisa – e, de certa forma, estão realmente. Não era o caso de eu concordar ou não com a opinião deles, mas de encontrar pontos de discordância e pontos de convergência”, observa.

Os entrevistados surgem como parte do elenco de uma obra de ficção. Para Walter, em todos os seus trabalhos no gênero há um bocado de “manipulação saudável” das respostas. Por conta disso, muita gente ficou de fora da edição final. Principalmente mulheres. Uma espectadora reparou que a única entrevistada é a argentina Lucrecia Martel. “Foi coincidência. As outras que entrevistei não se encaixaram na estrutura que se seguiu. Se fosse outra abordagem, talvez tivessem”, justifica.

Walter Carvalho, que é irmão de outro documentarista, Vladimir Carvalho, homenageado no festival brasiliense ao completar 80 anos de vida, levou 14 anos para fazer “Um Filme de Cinema”, recorrendo a diretores com quem trabalhava. Ele assina a fotografia de algumas das mais importantes produções brasileiras dos últimos 30 anos, como “Central do Brasil”, de Walter Salles, “Madame Satã”, de Karim Aïnouz, e “Filme de Amor”, de Julio Bressane.

Esse passar do tempo se evidencia nas imagens, que abraçam vários formatos, do extinto VHS ao majestoso Cinemascope, passando por Betacam e DV. “Só não tem Super-8. Esse filme perpassa o tempo da tecnologia, como se fosse um trabalho de época. Não quis corrigir isso porque, apesar de ser diretor de fotografia, não jogo no time da tecnologia, mas sim da linguagem. O que importa é o que está acontecendo internamente em cada plano”.

*O repórter viajou a convite da organização do Festival de Brasília

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