Dirigido por Wolf Maia, musical 'As Noviças Rebeldes' chega a BH

Elemara Duarte
19/06/2015 às 06:31.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:32
 (Páprica)

(Páprica)

A italiana é fã da Madonna e faturou o “The Voice” em seu país. A outra, brasileira, canta rap para tirar jovens das ruas. No momento em que o musical “As Noviças Rebeldes” chega a BH, duas freiras que ganharam fama no universo da música falaram, ao Hoje em Dia, sobre suas escolhas – provando que, após o boom dos padres cantores, é a vez “de elAs” mostrarem que é possível conciliar disciplina, alegria e fama (sem culpa).

“Quem encontra e vive com Deus, não pode viver na tristeza!”, diz a italiana Cristina Scuccia, 26 anos, que, além de Madonna, é fã dos brasileiros Padre Fábio de Melo e da banda Rosa de Saron. Foi o repertório do grupo católico, aliás, que a despertou para a possibilidade de soltar a voz para grandes públicos.

“Sorella” Cristina, vale dizer, viveu no interior de São Paulo, no início do noviciado. "Eu vim para o Brasil em 2010 para fazer o meu noviciado na casa de formaçao que temos no Conjunto Santo Angelo, em Mogi das Cruzes. Foram os dois anos mais lindos da minha vida! Tínhamos um projeto com crianças, adolescentes e famílias lá..."

Irmã Cristina diz que as boas lembranças da época são muitas, pois cada criança, cada jovem, cada esperiência deixou nela marcas importantes. "Mas posso dizer que com a música, consegui aprender a falar português, mas sobretudo consegui aproximar-me mais aos jovens, levando alguns do bairro em teatros para apresentar o musical 'A Coragem de Amar'". A religiosa diz que o musical que, na Itália, foi para ela "o meio para conhecer o verdadeiro amor de Deus" e se doar a "Ele".

De volta à Itália, no “The Voice”, bateu recordes de audiência, lançou disco e conquistou meio mundo. Hoje, seus vídeos no YouTube passam dos 73 milhões de views. E tudo sem abrir mão do “hábito” – e dos hábitos que escolheu para a vida religiosa. “Minha vida não mudou, vivo cada dia na simplicidade, na minha comunidade, fortalecendo-me no meu caminho de fé”.

“Like a virgin”

O final do ano passado, ainda na levada pop, Cristina apostou na regravação de “Like a Virgin”, um dos hits da diva do pop. Sucesso total.

E ela encarou muito preconceito por ser uma freira que canta? “Lógico que sim. Mas hoje é preciso inventar novas formas de evangelização. Através da música, seja também a pop, e com linguagem mais próxima aos jovens, é possível lançar mensagens ricas de valores”.

E no Brasil...

Madre Inez Souza Carvalho, a “Freira do Rap” também está convicta de que acertou em suas escolhas. Ela vive no Paraná e descobriu o ritmo dos guetos para “falar a língua” de jovens que viviam nas ruas. Recentemente, Madre Inez lançou mais um disco: “No Tempo de Deus”.

“Quando começamos, tinha esta ligação de que a gente era ‘noviça rebelde’”, lembra, ao Hoje em Dia. Na época, a jovem Inez foi evangelizar meninas de rua. “Tínhamos uma casa de acolhida. Mas era simplesmente impossível. Achava que iam me matar. Comecei a rezar. Tive uma inspiração que tinha que dançar com elas”.

“Nasci em Rosário do Ivaí”. Onde, Madre?“Fica no norte do Paraná. Mas já acha no mapa, viu?” “...E também já pulei de paraglider aí, em Minas” (Madre Inez)

 

FREIRA DO RAP - "Eu tinha vontade de cantar mas não sabia que seria rap", diz

Na ficção – e com semelhante rebeldia – , entra em cartaz nesta sexta-feira (19), na capital mineira, a montagem “As Noviças Rebeldes – O Musical”. Para o caro leitor em dúvida, vale lembrar: não se trata da história do filme “A Noviça Rebelde”, que neste ano completa 50 anos do lançamento. A comédia “As Noviças”, no plural, também veio da Broadway – mas apenas se inspirou n0 título do clássico.

“É um dos maiores musicais do mundo. Mas como a gente não tinha tradução para o título original que era 'Nunsense', pensei em alguma referência com o tema, que o Brasil conhece. Daí veio o nome do filme 'A Noviça Rebelde'. Mas como são cinco freiras, foi colocado no plural”, explica Wolf Maya. "Nunsense" faz referência ao termo "nonsense", que pod ser traduzido como "sem sentido"; e a palavra 'nun', em inglês, significa "freira",

A peça flagra um grupo de freiras que vai jogar bingo. Ao retornarem, as 52 colegas que haviam permanecido no convento tinham morrido. Não bastasse a trágica história, as sobreviventes descobrem que o convento só tem verba para o sepultamento de 48 irmãs. A solução: um show beneficente no qual as integrantes cantam e até sapateiam.

Esta é terceira vez que o diretor Wolf Maya faz a montagem no Brasil. Ele avalia que a peça, mesmo sendo uma comédia, é um espetáculo “extremamente católico”. “As personagens são muito felizes por serem freiras e, por meio da música, falam o tempo inteiro sobre questões da catequese”, aponta Wolf, sobre a “fórmula mágica” na comunicação.

Outra história com freiras no elenco é “Mudança de Hábito”, sucesso no cinema com Whoopi Goldberg e também nos palcos – seja na Broadway ou no Brasil

Boa fórmula

Assim a “Freira do Rap” fez. Conheceu as problemas e a cultura de rua – e a misturou com a palavra cristã. Comovida, passou a compor por meio desta sábia mistura, para que os jovens aos quais atendia se apresentassem em festivais. “Fantástico! Elas ganhavam sempre. Teve um resultado ótimo”.

Prova de que, quem não se intimida com as adversidades, sempre vai longe. E as jovens com problemas excluídas socialmente não foram o primeiro desafio de Madre Inez. Segundo ela, que é única filha mulher de uma família simples com seis filhos, e que vive no interior do Paraná, o pai não deixava que ela seguisse a vida religiosa.

"Mas eu senti um chamado tão forte. Mas, para o meu pai, ser freira não dava dinheiro. E ainda não dá, mas meu objetivo é envangelizar, levar a palavra de Deus", explica.

Sem grana, mas com fé

Agora, a Freira do Rap está lançado mais um CD - cheio de raps, mas também com algumas músicas em outros ritmos. "É o primeiro para o qual não peço dinheiro emprestado para produzi-lo. A gravadora é independente".

O pai da Madre Inez, diz ela, morreu há dois meses. Mas ela se sente realizada, porque, mesmo sendo a única mulher entre os irmãos e, ainda por cima, a caçula, diz conseguiu amolecer o coração do pai sobre o dom que trazia.

"Quando ele me via nos programas de televisão, chamava as pessoas para verem. Por isso, nunca pensei em voltar pra casa. Foi uma realização muito feliz", lembra, com carinho.

Agora, a “Freira do Rap” organiza o projeto social “Milagre Eucarístico”, ainda voltado para a população de rua, em Paranaguá (PR). E pelo Brasil, ela segue exibindo suas credenciais: “Sou Irmã Inez, a Freira do Rap, e eu canto pra vocês”.

No bojo dos 50 anos de lançamento, ‘A Noviça Rebelde’ ganha, no dia 23, box especial

Alterar o título de um filme estrangeiro em sua tradução para o público brasileiro é uma estratégia corriqueira, mas considerando-se a época em que “A Noviça Rebelde” foi lançado por aqui, um ano após a instauração da ditadura militar – não deixa de ser curiosa a escolha.

No original, “The Sound of Music” herdava o nome da peça da Broadway (de 1959) e da canção que abre o filme, quando a câmera percorre as colinas austríacas até surgir Julie Andrews, para dizer que “seu coração quer bater como as asas dos pássaros”.

Rebeldia, naqueles tempos, já significava oposição ao regime e é possível criar um paralelo com a história, passada pouco antes da anexação da Áustria pela Alemanha nazista, em 1938. O filme, na verdade, é narrado como caixinhas dentro de outras, em torno do afrontamento de normas muito rígidas.

Persistência amorosa

Avessa a regras, Maria (Julie) vai ser governanta. Logo no primeiro encontro, o patrão, o capitão Von Trapp (Christopher Plummer), repreende a governanta, vista dançando pelo salão de festas.

As crianças também são rebeldes, mas se deixam conquistar pela resistência amorosa de Maria. O mesmo acontece com o capitão – cuja dignidade pode ser vista ao se recusar a servir os nazistas.

Reside na persistência amorosa da noviça uma das razões do sucesso do filme, terceira maior bilheteria de todos os tempos e ganhador de cinco Oscar (filme, direção, montagem, som e trilha).

A boa notícia: no próximo dia 23, chega às lojas o box comemorativo de “A Noviça Rebelde” (lançamento Sony), com blu-ray, bastidores, livreto de 40 páginas, cards e mini pôster.

SERVIÇO

“As Noviças Rebeldes – O Musical”, nesta sexta-feira (19) e sábado (20), às 21h, e domingo, às 18h, no Teatro Sesiminas (Rua Padre Marinho, 60). Ingressos: R$ 100 e R$ 50 (meia).

 

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