(BONFILM)
O início de “Lulu, Nua e Crua” é promissor. Por uma série de fatores, a protagonista não consegue sair da cidade onde foi buscar emprego. Perde anel e telefone celular, objetos que a conectam diretamente à família.
O anel, por seu compromisso com o marido, a quem ela parece ser subserviente. O celular, pela satisfação que tem que dar a todos, não podendo ter vida própria e sendo obrigada a resolver os problemas dos outros.
É dessa maneira muito simbólica, sobre a conquista inesperada e inebriante da liberdade, que o filme da diretora islandesa Sólveig Anspach (falecida em agosto) parte, mas logo assume alguns clichês, para irritação das feministas.
O principal deles diz respeito mesmo à atitude de Lulu – interpretada por Karin Viard, a mãe deficiente auditiva de “A Família Bélier”. Por mais que ela se movimente, na cidade litorânea ou na estrada, concretamente, pouco faz. Na verdade, os demais fazem por Lulu, especialmente um homem que a personagem conhece meio por acaso, na praia, e que parece deter a chave para se comunicar com ela. O cenário de fundo já diz tudo: o mar, metáfora da renovação.
Os dias passam lentos
Pode-se dizer que o filme deseja ser realista, com as mudanças acontecendo lentamente na vida de Lulu, em que o mínimo movimento se torna um grande passo para uma pessoa presa a um antigo modelo familiar.
Um tom lento muito próprio de algumas narrativas nórdicas, enfatizado pela fotografia de cores frias. Mas não se repete em “Lulu” aquele espanto que salta nas tramas, mostrando que a vida não é totalmente codificada.
Mesmo quando a personagem conhece um rumo oposto ao que tinha, o longa parece seguir códigos comuns, dentro de um gênero já conhecido, sobre pessoas que desabrocham na vida adulta, após anos de devoção familiar e medo do novo.