Encontro de culturas em CD de Moska e Fito Paez

Cinthya Oliveira - Hoje em Dia
12/10/2015 às 11:50.
Atualizado em 17/11/2021 às 02:01
 (Jorge Bispo/Divulgação)

(Jorge Bispo/Divulgação)

Quem ouve “Locura Total”, o recém-lançado álbum assinado por Moska e Fito Paez, não consegue acreditar que os dois só tenham se conhecido por conta de um arranjo movido pela gravadora Sony. Ao ouvir a faixa-título, “Adiós a Las Cosas”, “O Sol Ainda Será Brilhante” e outras parcerias dos dois, fica difícil imaginar que não sejam amigos de maior data.

“Nossa parceria nasceu de um jeito que não parecia que ia dar certo. Isso aconteceu por causa da ideia do produtor Bruno Batista, que queria juntar o Fito com um artista brasileiro. Fico muito feliz que tenham me escolhido”, conta Moska, que já tinha alguns discos em casa do músico argentino.

Moska acredita que o encontro foi possível porque, embora não tivessem percebido anteriormente, ele e Fito vinham tendo caminhos parecidos no intercâmbio entre Brasil e América Hispânica. Enquanto o argentino gravou com famosos do lado de cá, como Chico Buarque, Caetano Veloso e Titãs, Moska teve encontros com artistas de vários países vizinhos, especialmente depois de sua amizade com o uruguaio Jorge Drexler (por sinal, os dois têm parcerias).

“E ambos somos compositores meio estranhos, sem rótulos. Ele é visto como roqueiro, mas é um pianista maravilhoso, com uma noção bem ampla de música pop e conhecimento de música erudita. E eu não me defino, gosto dessa coisa livre que um dia é samba, outro dia é rock. A gente se encontrou no mundo de multi-interesses”, conta Moska.

ARGENTINA-BAHIA

O primeiro encontro aconteceu em Buenos Aires, dentro da casa de Fito Paez. As primeiras horas já se mostraram bastante profícuas, com cinco músicas definidas. No total, foram quatro dias de reunião para compor, três na Argentina e um numa casa de praia do litoral baiano – foi justamente em Trancoso que nasceu a letra nonsense da faixa-título, que faz uma homenagem à terra de Caymmi.

“Vejo o mesmo entusiasmo de Fito para fazer uma coisa. Aconteceu com a gente o que na música chamamos de química”, diz Moska, que fez questão de dar um ponto de vista positivo para o álbum. ‘Em mundo em que todos andam tão negativos, acho heroico falar de amor e alegria”.

METÁFORA

O conceito do encontro entre um brasileiro e um grande representante da América hispânica é tratado em vários momentos do álbum. Português e espanhol convivem e dividem espaço no álbum (que teve duas versões, para Brasil e países vizinhos). O assunto é tratado em “Hermanos”, “Flores de Abraços” e nos arranjos. “Fizemos metáfora do nosso encontro”, diz Moska, acrescentando que os brasileiros deveriam se atentar mais para a produção cultural dos vizinhos. “A gente é constituído por uma ideia de autossuficiência, da ideia de que só a nossa língua nos alimenta de poesia, talvez por termos visto uma explosão de gênios na nossa canção popular. Ficamos numa espécie de topo, mas daí vem uma espécie de ignorância sobre os outros. Estou me referindo ao verbo ignorar, ao desconhecimento”, explica.

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