Para Lola Durán Úcar, o grande legado do pintor bielorrusso Marc Chagall é o amor. Em tempos de grandes divisões como agora, a curadora da exposição aberta no CCBB na última quarta-feira não tem dúvidas da necessidade de uma mensagem de solidariedade e esperança expressas na obra dele.
Vitebsk, a cidade onde nasceu, em 1887, na antiga Rússia, a tradição judaica, a primeira esposa, Bela Rosenfeld, e os animais estão entre os seus grandes amores, reunidos em 180 quadros originários de diversas coleções. “Na vida, assim como na paleta do artista, há somente uma cor que dá sentido à vida e à arte: é a cor do amor”, escreveu em sua biografia.
Lola não tem dúvidas de que Chagall é o artista mais importante do século 20, criador de um universo muito particular por meio das formas e das cores. “Ele criou um mundo poético, lírico, não distinguindo os limites entre realidade e fantasia”, assinala a curadora de origem espanhola.
A exposição abrange toda uma vida de trabalho de Chagall, começando por uma pintura de 1922. Um dos destaques é o guache “O Avarento que Perdeu o seu Tesouro”, de 1927. “Acompanhamos a trajetória dele através do tempo, marcada por três guerras, exílio e perseguição”.
O visitante poderá perceber claramente os temas de que ele mais gostava de pôr nas telas, a primeira delas a terra natal, presente desde os primeiros quadros. A tradição judaica foi outro elemento central na vida e obra de Chagall.
Esses elementos, em conjunto, fomentaram um trabalho muito pessoal, responsável por isolá-lo na França, para onde foi após o início da Primeira Guerra Mundial. “Ele não aderiu à nova vanguarda e acabou se juntando ao pessoal da literatura, ilustrando muitos livros”, destaca.
Ele chegou a retornar para a Rússia, mas a Revolução Bolchevique o pôs novamente rumo à França, desta vez ao lado de Bela. Lola lembra que ela teve um papel fundamental na vida para Chagall, ao falar francês e servir como uma espécie de porta-voz. “Ela foi a maior fonte de poesia que ele conheceu”, ressalta.
Outro pilar, a tradição judaica, está reunida no módulo “Mundo Sacro”. O pintor retratou várias passagens do Velho Testamento e, em vários momentos, comparou o êxodo às perseguições que sofreu – durante a Segunda Grande Guerra, devido ao genocídio judeu, ele teve fugir da França e morar nos Estados Unidos.
A exposição traz características muito próprias, inéditas em outras mostras dedicadas a Chagall no mundo, especialmente ao agregar obras pertencentes a colecionadores brasileiros, como “O Violinista Apaixonado”, pertencente à Fundação José e Paula Nemirovsky.
O traço mais forte, acentuado na última parte, “O Amor Desafia a Força da Gravidade”, é o grande valor que o bielorusso deu à vida. “Esperamos que o público se sinta tocado, especialmente num instante de fragilidades mundiais”, pondera Lola.
SERVIÇO
“Marc Chagall: Sonho de Amor” – No CCBB (Praça da Liberdade, 450), todos os dias, de 10 às 22 horas, exceto às terças. Ingressos gratuitos pelo site bb.com.br/cultura e na bilheteria.
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