Filme com Juliette Binoche mostra empoderamento feminino a partir dos anos 60

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
18/06/2021 às 08:35.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:12
 (CALIFORNIA/DIVULGAÇÃO)

(CALIFORNIA/DIVULGAÇÃO)

Certa vez Gérard Depardieu criticou Juliette Binoche por fazer “filmes bonitos”, uma sensação que parece só aumentar nos últimos anos. Ela tem atuado em produções mais confortáveis, que rapidamente estabelecem uma empatia entre a atriz francesa e o público,diferentemente das escolhas que pautaram Isabelle Huppert, por exemplo, que radicalizou a ponto de virar sinônimo de figuras abjetas.

Em cartaz nos cinemas, com lançamento nas plataformas digitais previsto para as próximas semanas, “A Boa Esposa” exemplifica  bem este momento, com Binoche encarnando uma personagem cuja esperada transformação é realizada de forma tão milimetricamente calculada, do ponto de vista da construção do roteiro, que se torna extremamente previsível e surpreendentemente aborrecida.

O filme de Martin Provost (diretor de filmes que geralmente focam mulheres, como “Séraphine” e “Violette”) cai drasticamente após a protagonista rever seus conceitos como mulher, antes defensora das virtudes domésticas e da obediência mais estrita ao marido. A trama começa numa das centenas de escolas de boas maneiras que dominavam a França no início da década de 60.

Logo a trama deixa claro que há algo de errado, quando Paulette Vander Berk (Binoche) nota que o número de garotas matriculadas é bem menor do que em anos anteriores. Paralelamente, outros personagens comentam sobre os conturbados movimentos políticos e sociais provocados por trabalhadores e estudantes em Paris, conhecido posteriormente como Maio de 1968.

O texto tenta construir este paralelo, com a efervescência na capital francesa chegando paulatinamente à pequena cidade da Alsácia, trazida principalmente pelas alunas,em relação à sexualidade e ao questionamento machista.Mas esses embates são superficiais, nunca trabalhados de maneira mais complexa. A narrativa antecipa o destino da escola, assinalando os seus conceitos retrógrados.

A antecipação contamina o filme e Paulette, que, ao abrir os olhos para o mundo, se insere à realidade de maneira exagerada, como se descobrisse um novo viver, especialmente no campo amoroso – enlace desnecessário e até contraditório, já que ela depende de um homem para completar a sua transformação. Um deslumbramento que não tira o nosso incômodo, mesmo com a bonitinha cena musical do final.

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