Filme mostra a batalha de Hebe, nos anos 80, para ter liberdade de expressão

Paulo Henrique Silva
26/08/2019 às 08:33.
Atualizado em 05/09/2021 às 20:09
 (GLOBO FILMES/DIVULGAÇÃO)

(GLOBO FILMES/DIVULGAÇÃO)

GRAMADO – Uma das apresentadoras mais celebradas da TV brasileira, Hebe Camargo é lembrada principalmente pelo bordão “gracinha”, dito entre dentes, e pelo estilo considerado cafona por muitos –tanto nas roupas que usava quanto no formato de seu programa, não abrindo mão do tradicional sofá para receber os entrevistados. O filme “Hebe – A Estrela do Brasil” vai acrescentar outras camadas à história deste ícone popular, vivido com forte magnetismo por Andréa Beltrão.

Um dos destaques da programação do 47º Festival de Cinema de Gramado, encerrado no sábado, na serra gaúcha, o longa dirigido por Maurício Farias (marido de Andréa) foca em dois aspectos: a luta incansável de Hebe contra a Censura, ao defender abertamente a comunidade gay, a crítica aos políticos e a relação conturbada com o marido, nos anos 80.

“Hebe ficou 60 anos no ar, mas escolhi mostrar este momento de explosão e de transformação dela, quando deixa de ser boneca e passa a ter voz”, assinala a roteirista Carolina Kotscho.

Após se debruçar por quatro anos em vídeos com os programas e reportagens que acompanharam toda a carreira da apresentadora paulista, falecida em 2012 de parada cardiorrespiratória, Carolina salienta que o filme ganhou outro sentido por conta do momento atual do país, com atos de censura e preconceito.  “Ela é a prova de que defender o que é certo não é questão ideológica, mas sim caráter”, registra a roteirista, ao lembrar o apoio de Hebe a Paulo Maluf.

Sem vergonha

Ao fazer o filme, Maurício Farias frisa que aprendeu muito sobre quem era a verdadeira Hebe, antes vista como uma pessoa conservadora. “Descobri uma pessoa diferente da minha visão simplista. Ela não tinha vergonha de mudar de opinião. É exemplo de profissional, como comunicadora, pois era aberta ao diálogo”, observa o cineasta, para quem Hebe mostrou que uma democracia só se consolida no convívio com as diferenças. 

Andréa Beltrão, que só acompanhou a exibição do filme em Gramado, sem dar entrevistas, foi a primeira escolha de Carolina para viver a personagem. “Escrevi para ela. O que acho mais fascinante é que não é a Hebe, não é uma imitação da Hebe, mas ocupa este lugar. Ela enche a tela com esta força, isto é muito raro”, destaca a roteirista, que já assinou outras seis cinebiografias – da dupla Zezé Di Camargo e Luciano a Paulo Coelho.

O diretor buscou outros ângulos de câmera que não fossem os já mostrados nos programas de TV. Com isso, a personagem é constantemente vista de costas, como na sequência de abertura, em que aparece sentada no camarim, imóvel, recusando-se a entrar no palco. 

Além disso

A produção cearense “Pacarrete”, do realizador estreante Allan Deberton, foi a grande vencedora do 47º Festival de Cinema de Gramado, em solenidade realizada na noite de sábado, na cidade da serra gaúcha. O filme arrebatou oito troféus Kikito, entre eles o de melhor filme brasileiro (júris oficial e popular), direção, atriz (Marcélia Cartaxo),atriz coadjuvante (Soia Lira), ator coadjuvante (João Miguel) e roteiro.

Na categoria de curta-metragem, o mineiro “Teoria sobre um Planeta Estranho”, de Marco Antônio Pereira, recebeu os prêmios de melhor trilha musical e filme do júri popular. No ano passado, o diretor também competiu em Gramado, com “A Retirada para um Coração Bruto”, faturando nas categorias roteiro, ator e trilha musical. Os dois curtas fazem parte de uma pentalogia passada em Cordisburgo, na região central do Estado.

O ganhador desta categoria foi “Apneia”, de Carol Sakura e Walkir Fernandes. Rômulo Braga, que reside em Belo Horizonte, foi agraciado com a estatueta de melhor ator, por “Marie”, produção pernambucana dirigida por Leo Tabosa. Ele não pôde comparecer à cerimônia por estar filmando na Amazônia, sob a batuta de Sérgio Machado. O melhor longa estrangeiro foi “El Despertar de Las Hormigas”, de Antonella Sudasassi Furnis.

A solenidade foi marcada por falas duras contra medidas censórias e desmantelamento de políticas de apoio ao cinema no país. Praticamente todos os artistas que subiram ao palco do Palácio dos Festivais, local também das exibições dos filmes concorrentes, abordaram a questão em meio aos discursos de agradecimento. No lado de fora, antes da cerimônia, também ocorreram manifestações.

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