Filme mostra alistamento crescente no exterior como forma de sair do país

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
04/12/2020 às 00:53.
Atualizado em 27/10/2021 às 05:13
 (BRETZ FILMES/DIVULGAÇÃO)

(BRETZ FILMES/DIVULGAÇÃO)

“Soldado Estrangeiro”, documentário de José Joffly e Pedro Rossi em cartaz nos cinemas, tem uma estrutura bem simples, mas suficiente para lançar várias perguntas e respondê-las gradativamente ao longo da narrativa, a partir dos caminhos trilhados por seus personagens.

São três nomes representativos dos diferentes estágios de quem procura um lugar em exércitos no estrangeiro, uma realidade cada vez mais comum no Brasil. Acompanhamos a busca deste objetivo, a realidade de quem conseguiu virar soldado e o estado deles após o serviço militar.

Um ciclo se fecha e aponta para a mesma pergunta inicial: por que sair do país? Bruno Silva, o primeiro enfocado, tenta a sorte na Legião Estrangeira, na França. Quer fugir da vivência violenta da periferia carioca onde mora, deixando para trás uma filha ainda pequena.

Histórias são pontuadas com citações de “Johnny Vai à Guerra”, de Dalton Trumbo, romance de 1939 que lança luz sobre os ideais antiguerra e sobre a humanidade

O noticiário de crimes é enfatizado, reforçando o discurso de Bruno. O que fica patente é um sentimento de distanciamento crescente daquele lugar, devido à falta de segurança. A entrada de Mario, que serve o exército de Israel, responde de maneira muito pungente a esta questão.

Apesar de encontrar muitas regalias, como descontos para compras de carro, o mundo de violência constante não cessa, apenas trocando de cenário. Ao acompanhar o dia a dia deste soldado, Joffily e Rossi registram uma brutalidade sempre prestes a explodir.

O “inimigo” (os palestinos) é tão ou mais complexo quanto o crime organizado no Rio. A diferença é que Mario, sempre com uma arma em punho, usufrui supostamente de um certo poder de intervir neste estado de coisas. É o que Felipe chama de “status”.

Somos apresentados ao veterano dos Fuzileiros Navais dos Estados Unidos, personagem que encerra o filme, num aeroporto. Nada mais sintomático, por se tratar de um “não lugar”, em que pessoas vêm e vão. Como Bruno, ele está descrente.

O distanciamento é motivado pela invisibilidade, ao buscar há anos uma solução para a falta de reconhecimento do exército ianque. Um sentimento não muito diferente de Bruno, que vivenciou o “trauma da guerra” civil na porta de casa.

As guerras não se interrompem simplesmente por mudarmos de país, parece dizer o filme. O movimento tem que ser feito internamente, exemplificado na procura de Felipe por terapias e exercícios de autoconhecimento.

Ao realizar todo este percurso militar, o caminho construído por “Soldado Estrangeiro” é invertido, indagando sobre a razão de buscarmos outras guerras que não são as nossas. Medo de enfrentar os oponentes mais próximos? Talvez. Essa é uma pergunta que o filme deixa em aberto.

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