REI DO ROCK

Filme sobre Elvis Presley mostra um cantor como vítima de seu próprio sucesso

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
Publicado em 17/07/2022 às 17:23.
O flerte com a linguagem pop e o ritmo alucinante da narrativa parecem cair como uma luva na história de Elvis Presley (Warner/Divulgação)

O flerte com a linguagem pop e o ritmo alucinante da narrativa parecem cair como uma luva na história de Elvis Presley (Warner/Divulgação)

A armadilha em que Elvis Presley se vê preso, pouco antes de morrer de overdose acidental, em 1977, não é muito diferente daquela que vitimou Romeu, Julieta e Satine, protagonistas dos filmes anteriores do cineasta Baz Luhrmann.

Lançada 45 anos após a morte do rei do rock, a cinebiografia é sobre a impossibilidade de ser livre num mundo de grandes ilusões. Não é por acaso que Luhrmann preferiu contar sua história pelo ponto de vista do empresário.

Vivido de forma soberba por Tom Hanks, que nos apresenta ao coronel Parker num parque de diversões, um lugar ao mesmo tempo fascinante e sombrio, não muito diferente do Moulin Rouge e da Verona de Shakespeare.

Embora não perca de vista os detalhes da trajetória de Presley, Luhrmann chama a atenção para o outro lado do sucesso, com o cantor adoecendo lentamente à medida que se torna uma marionete nas mãos do inescrupuloso Parker.

Da mesma forma, a beleza da cortesã Satine a aprisiona em “Moulin Rouge”. E o amor inegável dos jovens Romeu e Julieta sucumbe diante de uma rivalidade familiar. Para o cineasta, esse tipo de plenitude é impossível.

Ao final, os personagens se transformam em fantasmas, cópias esmaecidas de si mesmos, entregues a interesses de </CW>outros. São vários os pontos de conexão entre os filmes, especialmente o estilo operístico do diretor.

O flerte com a linguagem pop e o ritmo alucinante da narrativa parecem cair como uma luva na história de Elvis Presley. Ela já é uma fusão curiosa e potente de fontes, originárias na música negra e nos cultos religiosos.

O transe quando o roqueiro começa a mexer com as pernas causa uma atração inexplicável nas pessoas, um magnetismo que logo os defensores dos bons costumes buscaram ofuscar, impondo uma censura que acompanhará toda a sua carreira.

Uma das melhores sequências de “Elvis” é o instante em que Parker flagra uma espectadora tendo espasmos orgásticos, sem tirar os olhos da pélvis do cantor. É esse poder sexual que querem tirar do pop star.

Apesar de carregar essa força, Elvis exibe uma ingenuidade que o liga aos outros protagonistas de Luhrmann. Todos eles acreditam no outro e, por isso, são passados para trás e acabam presos em grandes torres.

Em seu novo filme, o cineasta ainda traça alguns elos com a geopolítica atual. Os que condenam a dança lasciva de Elvis são os mesmos que defendem a segregação racial. E a preocupação com a segurança só serve para tolher a liberdade individual. 

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