Filme sobre marco do movimento gay é boicotado por grupos LGBT

Folhapress
03/10/2016 às 14:21.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:05
 (Reprodução)

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Não se sabe muito bem quem atirou a primeira pedra --ou melhor, o tijolo-- que inflamou a rebelião de Stonewall. O motim, ocorrido no verão de 1969, em Nova York, é tido como grande marco dos movimentos por direitos gays.

Na visão do diretor Roland Emmerich, quem fez isso aos berros de "gay power" foi um homem jovem, branco e de trejeitos bastante masculinos, tipo muito mais palatável a plateias heterossexuais do que muitos dos que zanzavam pelo Village, ao redor do bar que dá nome ao filme.

"Stonewall - Onde o Orgulho Começou" estreou nesta quinta-feira (29), na esteira de um boicote feito pela própria comunidade LGBT americana, indignada com o retrato do episódio histórico.

"Eu quis fazer um filme que não fosse só para gays", afirma o diretor à reportagem. "Na época, não se podia nem deduzir se alguém era gay, de tão enfurnadas no armário que as pessoas estavam. Então achei que a forma como retratei aquilo foi realista."

A trama segue Danny (papel do inglês Jeremy Irvine), que abandona a família e a cidadezinha homofóbica em que vive no Estado de Indiana. Vai para Nova York, acolhido por um grupo de gays sem-teto, entre eles o escolado Ray (Jonny Beauchamp).

Homossexual, Emmerich é famoso por blockbusters cheios de heróis valentões. São dele os filmes-catástrofe "Independence Day" (1996) e "O Dia Depois de Amanhã" (2004). A imprensa americana não perdeu a piada: com "Stonewall", ele enfim fez um longa de fato catastrófico. Orçado em cerca de US$ 13,5 milhões, faturou apenas US$ 188 mil (R$ 611 mil) nos EUA. As críticas despontaram logo que o primeiro trailer saiu.

A organização Gay-Straight Alliance Network colheu quase 25 mil assinaturas ao conclamar ao boicote, sob o argumento de que o filme marginalizava o papel de negros, lésbicas e transexuais, mais importantes para o levante do que o filme dá a entender. "Incomodou-me que uma única voz na internet tenha a capacidade de fazer o que fez a um filme", diz o diretor. "Especialmente quando a opinião é baseada num trailer, e não no longa em si."

Emmerich se defende das acusações de racismo e transfobia. "Passei muito tempo conversando com os veteranos de Stonewall, que me disseram que as manifestações foram formadas majoritariamente por pessoas brancas."

A ativista transexual Miss Major Griffin-Gracy, que participou do protesto em 1969, discorda: "Podem chamar aquilo de embranquecimento. Eu chamo de mentira", disse ao site The Wrap.

SEM-TETO

O levante irrompeu após a polícia fazer mais uma de suas inúmeras batidas no Stonewall Inn, tradicional ponto de encontro de gays nova-iorquinos. Os frequentadores revidaram com tijolos, parquímetros, latas de lixo e o que mais havia na rua. O episódio inspirou o início das atuais paradas do orgulho LGBT.

O longa usa o forasteiro Danny como recurso didático para expor os primórdios da militância LGBT na Nova York do fim dos anos 1960.  apostavam na transgressão.

O diretor, nascido na Alemanha, disse ter sido atraído pela ideia de levar o protesto às telas ao tomar conhecimento das estatísticas de que boa parte dos sem-teto americanos fazem parte da comunidade LGBT --a grande bandeira que "Stonewall" defende. "Percebi que é um problema que só piorou. Foi uma forma que usei para conectar o filme à realidade de hoje."

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