FOTOGRAFIA

Fotógrafo mineiro Sebastião Salgado apresenta imagens inéditas da Amazônia em exposição

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
Publicado em 26/07/2022 às 08:13.
A mostra com cerca de 200 fotografias chegará em breve a Belo Horizonte (Sebstião SAlado)

A mostra com cerca de 200 fotografias chegará em breve a Belo Horizonte (Sebstião SAlado)

Para conceber a exposição “Amazônia”, em cartaz no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, e no Sesc Pompeia, em São Paulo, Sebastião Salgado morou em comunidades indígenas da região amazônica. “Elas me ajudaram a voltar para dentro da minha espécie, como representantes da pré-história da humanidade”, registra o fotógrafo mineiro, que, em breve, levará as cerca de 200 imagens para Belo Horizonte. 

Ele observa que recebeu uma grande lição de vida ao trabalhar com tribos recém-contatadas. “Percebi que, para a gente projetar o nosso futuro, precisamos conhecer bem o nosso passado. Elas são nós de 10 mil, 20 mil anos atrás. Tudo que é de mais essencial, aquilo que minha mãe ensinou quando eu era menino, é a base de comportamento dele, como a ideia de solidariedade e de bondade”, destaca.

Salgado diz ter sido transportado para o início do homo sapiens, aprendendo que a violência não é uma característica dessas comunidades. “Eles não sabem a mentira, não sabem dizer não. Eles são o conceito de paraíso”, defende o fotógrafo, que chegou a perder a crença na humanidade após acompanhar várias guerras no final do século passado. “Eu acreditei que a gente não merecia uma sobrevivência como espécie”, lembra.

Salgado abandonou a fotografia e retornou para Aimorés, no interior de Minas Gerais, quando os pais já estavam com a idade avançada. “Eles passaram a fazenda deles para a (minha esposa) Lelia e para mim. Foi aí que começamos a plantar uma floresta e recuperar a biodiversidade. Com a volta das árvores, retornaram os insetos, os pássaros, os animais e toda a biodiversidade. Então me veio a esperança”.

Rios aéreos
A partir de suas fotos, Salgado trouxe conceito e informações até então pouco conhecidos. “Ninguém é capaz de imaginar o que é uma chuva amazônica. Elas são como uma explosão atômica. Você pensa que é um cogumelo atômico, mas é uma chuva que está caindo”, descreve. Outro aprendizado foram os chamados rios aéreos, um “conceito novo de cientistas brasileiros, que descobriram que as grandes árvores da Amazônia são capazes de colocar umidade no ar, evaporando mil litros de água por dia cada uma delas”.

Segundo o fotógrafo, “são bilhões de árvores que acarretam um volume de umidade incrível, com nuvens fantásticas, que chegam a dez quilômetros de altura. Uma parte dessa umidade cai novamente, em forma de chuva, mas a outra é levada por correntes eólicas, garantindo toda a umidade do Centro-Oeste. O agronegócio brasileiro só existe pelos rios aéreos que vêm da Amazônia”, explica.

O fotógrafo é bastante crítico ao tratamento dado pelo Executivo federal aos indígenas e ao meio ambiente. “Ele tenta a todo preço desestabilizar as instituições, a legislação, porque tanto os territórios indígenas quanto as áreas de preservação permanente são protegidas pela Constituição. Mas nós temos uma outra parte do governo que é uma espécie de amortecedor disso, que é o Judiciário. Estamos vivendo uma luta permanente”.

Mas Salgado enxerga algo fantástico nessa atitude governamental: a organização das comunidades indígenas. “Até pouco tempo, quem levava em frente toda luta pela Amazônia eram organizações não-governamentais. Hoje quem lidera a proteção dos territórios indígenas são eles próprios. Jamais foram tão ameaçados pelo governo como agora, mas também jamais foram tão potentemente organizados como agora”, analisa.

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