MÚSICA

História do mestre barroco Aleijadinho vira ópera pela primeira vez

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
Publicado em 25/04/2022 às 16:04.
Após a estreia, a montagem cumpre temporada no Grande Teatro do Palácio das Artes, dias 14, 16, 18 e 20 de maio (Paulo Lacerda/Divulgação)

Após a estreia, a montagem cumpre temporada no Grande Teatro do Palácio das Artes, dias 14, 16, 18 e 20 de maio (Paulo Lacerda/Divulgação)

Se alguém tem dúvida sobre a mineiridade presente na ópera “Aleijadinho”, a primeira a se debruçar sobre o grande mestre do barroco, o compositor Ernani Aguiar cita a referência ao hino da bandeira de Minas Gerais no fim do primeiro ato.

“É uma obra dedicada à Pátria Mineira”, frisa o maestro e professor, um dos mais importantes compositores de música erudita do Brasil. Mesmo se recuperando de um tumor no intestino, “descoberto com a boca na botija”, ele faz questão de estar presente à estreia, nesta sexta-feira, em frente à Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto.

A obra se baseia em fatos da vida do Mestre Antônio Francisco Lisboa, reconhecido internacionalmente como referência do Barroco Mineiro. Produzida pela Fundação Clóvis Salgado, à frente de sua 90ª produção operística, conta com libreto de André Cardoso, regência de Silvio Viegas e a direção cênica de Julianna Santos.

“Quem espera uma música muito contemporânea vai se decepcionar. Minas é a terra da modinha e pus uma porção delas na composição”, revela Aguiar, que se diz fascinado com o fato de poder estrear o trabalho justamente diante de uma das principais obras de Aleijadinho. Em Belo Horizonte, a montagem cumpre temporada no Palácio das Artes, em 14, 16, 18 e 20 de maio.

A história do artista mineiro já foi transposta inúmeras vezes para a ficção em diferentes meios de expressão, mas na forma de ópera será a primeira vez. André Cardoso leva para o palco não só a trajetória do mestre como também a cultura de Minas Gerais.

A questão da mineiridade está na origem da iniciativa, como parte integrante de projeto da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais (Secult), criado para celebrar os elementos que compõem a assinatura mineira, com suas tradições, costumes e histórias. O “Ano da Mineiridade” será marcado por inúmeras iniciativas que celebram a diversidade da produção artística no Estado.

Montagem aponta para uma época que marca o nosso reconhecimento como brasileiros

A possibilidade de se apresentar ao ar livre, com uma obra-prima servindo de cenário natural, fez com que a ópera sofresse adaptações em relação ao que seria feito normalmente sobre um palco italiano.

“Fizemos uma e outra adaptação para o espaço, usando a arquitetura natural da igreja. Por conta disso, o cenário que estamos levando é mais simplificado”, destaca a diretora cênica Julianna Santos.

Carioca de nascimento, a diretora afirma que ficou “animada com a ideia de fazer uma ópera brasileira, de contar a nossa história e a formação de nossa gente durante o período da colonização”.

É nesse ponto da História, destaca, que “surgiu o desejo de liberdade e independência da coroa portuguesa”, marco de nosso “reconhecimento como brasileiros, um lugar construído com muito sangue e gente escravizada”.

Julianna conta que buscou todos esses detalhes para a encenação, a partir da trajetória e das obras de Aleijadinho. “Por meio dele, abordamos o abandono de uma cidade após o esgotamento do ouro”, analisa.

A diretora cênica destaca que a importância das obras de Aleijadinho surge na ópera a partir da ideia de volumetria, com a utilização de velas para projetar imagens do trabalho do mestre barroco.

“O que fica como legado é uma forma especial de fazer, com traços muitos específicos, o que nos fez valorizar essa volumetria que a obra dele tem”, descreve.

Ela chama a atenção para a música, “cantada em português, com uma variação temática muito grande, mas que não perde a unidade, criando um ponto de conexão com o público”.

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